Pix: argentinos ficam encantados com modalidade de pagamento no Brasil

Diversas empresas argentinas integraram o sistema, desenvolvido pelo Banco Central do Brasil, e oferecem cotação abaixo do dólar do cartão

Banco central da Argentina  – Foto: Ronaldo Schemidt/AFP
A concorrência das carteiras digitais mudou-se para as praias do Brasil. Em busca de oferecer a melhor taxa de câmbio (e sem a sobretaxa de 30% que o cartão de dólar tem), neste verão vários aplicativos argentinos lançaram uma função para que os turistas que viajam ao país vizinho possam pagar seu consumo por transferência ou QR Code. Só na primeira quinzena de janeiro foram registradas mais de 8 milhões de dólares em transações.

A escolha pela qual o Brasil se tornou o país onde as carteiras virtuais se estendem além da fronteira não foi aleatória. Em 2020, o Banco Central do Brasil lançou o Pix, um método de pagamento instantâneo para facilitar transferências de dinheiro rápidas e gratuitas entre contas bancárias e aplicações digitais. Originalmente, ele foi criado para usuários brasileiros e acabou se tornando o meio de pagamento mais utilizado, inclusive em cartões de débito e crédito.

Porém, neste verão, empresas argentinas como Belo, Cocos, Fiwind, Lemon, Plus e Takenos aderiram à infraestrutura e integraram seus sistemas ao Pix, solução oferecida pela KamiPay. Os aplicativos buscam atrair consumidores com a cotação. Eles convertem automaticamente pesos em reais, com uma taxa de câmbio um pouco superior ao MEP (1.190 dólares) ou à criptomoeda estável Tether (1.219 dólares), mas bem abaixo do dólar do cartão (1.380 dóalres no Banco Nación).

“Durante o mês de dezembro, o ticket médio dos argentinos que usaram o Pix para comprar roupas no Brasil ficou em 77 dólares, desafiando o clichê de que é um meio de pagamento usado apenas para pequenas transações, como uma caipirinha na praia”, disseram fontes da KamiPay, segundo análise feita pela fintech com base nas dez empresas com maior volume no período.

Para a empresa, houve um “comportamento inesperado”. Vestuário posicionou-se como categoria líder no último trimestre do ano passado e concentrou 37,08% do faturamento. Os argentinos optaram por comprar de marcas como C&A, Adidas, Puma, Nike, Grupo SBF e Iguasport. Seguiram-se os setores de hotelaria, gastronomia e transportes.

Com a chegada de janeiro, esta opção de pagamento tornou-se ainda mais popular, de acordo com os dados compartilhados por cada uma das carteiras digitais. A corretora Cocos lançou o recurso no início deste mês e já processou 225.520 pagamentos, uma média de 30 mil pagamentos por dia ou uma transação a cada três segundos. Em volume, totalizaram 8,2 bilhões de pesos nessas duas semanas, o equivalente a cerca de 7 milhões de dólares.

“A Cocos experimentou um crescimento explosivo, refletindo o impacto desta solução inovadora no mercado, abrindo mais de 65 mil novas contas desde a integração do Pix. Superou em muito o recorde anterior de abertura de contas correspondente a 2024”, afirmaram. O maior número de transações foi feito em Florianópolis, com quase o dobro de pagamentos que o Rio de Janeiro.

A carteira criptográfica Lemon também possibilitou pagamentos com Pix no dia 2 de janeiro, e, até o momento, foram processados pagamentos no valor equivalente a 1,2 milhão de dólares. 80% do total de pagamentos foram feitos em pesos argentinos e 20% optaram pelo uso de criptodólares (USDT), com gasto médio de R$ 200 reais por compra (cerca de 40.800 pesos).

Por outro lado, no último mês, a aplicação Takenos registou um saldo equivalente a mais de 240 mil dólares, sobretudo em áreas como hotelaria (42%), gastronomia (25%), transportes (17%), compras (11%) e despesas diversas (5%). Enquanto isso, a Fiwind somou um milhão de pagamentos com Pix e, nos últimos quatro meses, aumentou o número de operações em 400% em relação ao mesmo período do ano passado.

A Prex registrou 75 mil clientes desde que incorporou pagamentos no Brasil, com média de 12 transações por usuário e valor médio de compra de 180 reais cada (37,4 dólares). O consumo foi feito principalmente em transportes, supermercados e postos de serviço, nas cidades de Florianópolis e Rio de Janeiro

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