Plano de saúde deixa cliente na mão e Justiça precisa intervir
Negativas de atendimento põem em risco a vida dos usuários, que são obrigados a recorrer ao Judiciário para garantir tratamento
A ineficiência do atendimento dos planos de saúde está pondo em risco a vida dos clientes. Quando se contrata o serviço, a expectativa é fugir do tão criticado Sistema Único de Saúde (SUS), do qual dependem 75% dos brasileiros. Os outros 25%, ou seja, 50,6 milhões de pessoas, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), se colocam à mercê de operadoras privadas. Mesmo pagando caro pelo serviço, um número cada vez maior de segurados está sendo obrigado a recorrer à Justiça para garantir assistência médica. Só neste ano, 577 ações contra planos de saúde foram parar no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Em todo o ano passado, foram 2.094 processos.
Em 2014, mais de 94 mil reclamações de beneficiários foram direcionadas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). E, pela terceira vez consecutiva, os planos de saúde lideraram o ranking de reclamações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Os principais motivos são negativa de cobertura e aumento abusivo de preços.
No orçamento da família da aposentada Claúdia*, de 62 anos, R$ 4,5 mil por mês são destinados à Bradesco Saúde, responsável pela assistência dela, dos dois filhos e do marido. A parte mais cara, por ter tido mais aumentos devido à mudança de faixa etária, é a dela. Há oito anos pagando as mensalidades pontualmente, Cláudia* nunca havia precisado de atendimento cirúrgico até o ano passado, quando descobriu um câncer de mama.
Na primeira semana de setembro, quando a doença foi diagnosticada, o médico a alertou para a necessidade de cirurgia urgente. “O tumor já estava crescido, precisava tirar logo”, conta ela. Com laudo do médico de confiança da família, hospital já reservado e contas em dia, o único entrave para a operação foi a demora do plano de saúde. “Esse tipo de atendimento estava previsto no contrato, eles sabiam disso. Só faltou autorizarem”, conta Cláudia*. Sempre que entrava em contato com a operadora, a resposta era a mesma: “O processo burocrático é esse”.