O instinto materno falou mais alto e guiou a ação da capitã da PM Ana Paula Moutinho, de 37 anos, ao ser chamada na noite chuvosa de 6 de outubro para uma ocorrência na comunidade do Terreirão, no Recreio, onde uma mulher ameaçava abandonar um bebê de apenas 28 dias, numa igreja evangélica. A policial, que é mãe de um menino de 11 meses, não só conseguiu mudar o final da história daquela criança, como não pensou duas vezes ao dar de mamar, ali mesmo, ao garoto que chorava desesperadamente.
O gesto, publicado numa rede social neste fim de semana, sensibilizou os internautas, que enviaram milhares de mensagens de apoio. Até o fim da tarde de ontem a postagem tinha mais de 13 mil curtidas e mais de quatro mil compartilhamentos.
— A criança chorava muito, com fome. Minha primeira reação foi colocá-la para mamar, pois tenho um bebê pequeno — contou.
A PM, que está há 11 anos na corporação, e trabalha na supervisão da área coberta pelo 31º BPM (Barra da Tijuca), soube da ocorrência pelo rádio de comunicação do setor. Como estava perto, foi para o local, onde encontrou a mulher, que aparentava cerca de 30 anos e estava visivelmente transtornada. Ela dizia que pretendia dar o bebê ou abandoná-lo.
A capitã tentou convencê-la a buscar um familiar que pudesse ficar com a guarda. Após relutar, segundo Ana Paula, a mulher acabou passando o contato da avó paterna da criança, moradora da Pavuna. Ela compareceu à 42ª DP (Recreio), onde o caso foi registrado, e, por intermédio do Conselho Tutelar, ficou com a guarda provisória do neto.
Sonho antigo de ser mãe
Mãe de Breno, de 11 meses, a capitã Ana Paula tinha poucas esperanças de engravidar, quando o menino veio. Ela tentava, sem sucesso, realizar esse sonho desde 2007.
— Tinha dificuldade de segurar a gravidez. Foram pelo menos quatro abortos espontâneos — contou.
Por essa razão, diz ser impossível ficar indiferente a situações como a de Micael, que a mãe pretendia abandonar. E não foi a primeira vez.
Há quatro anos, quando ainda estava no 27 º BPM (Santa Cruz), resgatou outro recém-nascido, abandonado numa obra em Guaratiba. O menino foi para um abrigo.
— Atitudes como a da capitã consolidam a proposta de humanização do tratamento da Polícia Militar com a sociedade — disse o subcomandante do 31º BPM, coronel Vanildo Sena.
‘O menino gritava de fome e isso me tocou’
“Estava no serviço, quando ouvi no rádio ordem de um setor para assumir a ocorrência. Como estava perto, fui lá. Era numa igreja evangélica e o pastor foi o solicitante. Uma mulher assistiu à parte do culto e no final queria deixar o bebê na igreja. E, caso não aceitassem, disse que jogaria fora, largaria em qualquer lugar ou o entregaria ao primeiro que passasse. Quando cheguei, ela (a mãe) estava bem alterada. Peguei o bebê e ela reafirmou tudo que me fora passado. Disse que pegaria o telefone da avó paterna da criança e a impedi de levar o bebê temendo que fizesse alguma loucura. O menino gritava de fome e isso me tocou. Demorei muito para engravidar. Quando ela voltou com as coisas dele fomos para a DP. Não quis pegar o filho no colo e foi em outra viatura. E eu fui amamentando ele o tempo todo.”
Ana Paula Moutinho
Policial que amamentou bebê que seria abandonado