Polícia investiga se genro de Nem transmitiu ordem falsa para quadrilha invadir Rocinha

Rogério 157 falou, informalmente, com policiais
Rogério 157 falou, informalmente, com policiais Foto: André Melo / Agência Tempo
Rafael Soares

A Polícia Civil investiga se a guerra de facções na Rocinha começou por causa de uma mentira. Após ser preso na semana passada, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, afirmou informalmente a policiais da 11ª DP (Rocinha) que a ordem para invasão da favela não partiu diretamente de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. A retomada teria sido, segundo ele, tramada pelo genro de Nem, Adriano Cardoso da Silva, o Modelo, que afirmou a seus comparsas falar em nome de Nem sem consultar o chefão, que cumpre pena em Porto Velho, Rondônia.

Ontem, a Justiça determinou a transferência de Rogério para um presídio federal. Ele ainda afirmou aos policiais que a última pessoa a visitar Nem antes da invasão, no início de setembro, foi Eduarda dos Santos Lopes, a Duda, filha do chefão e mulher de Modelo, que está foragido. A informação foi confirmada pela 11ª DP. Durante o encontro, Nem teria determinado que Duda informasse a Rogério que ele deveria “entregar a favela”. Mas não teria ordenado a invasão em caso de recusa.

Modelo teria falado em nome de Nem, sem consultá-lo
Modelo teria falado em nome de Nem, sem consultá-lo Foto: Reprodução

A ordem foi levada a Rogério, que não a acatou. Duda e Modelo teriam afirmado que levariam a posição a Nem, numa nova visita ao chefão, que nunca aconteceu. Após a negativa de Rogério, Modelo e Duda se reuniram no Complexo do São Carlos com a cúpula da facção, onde a invasão da Rocinha foi definida sem a anuência de Nem.

O relato de Rogério foi corroborado por seu principal comparsa, Alberto Ribeiro Sant’anna, o Cachorrão, preso em 10 de novembro. Em depoimento na 11ª DP, ele contou que, na reunião no São Carlos, “Modelo falou que o papo que ele recebeu de Nem era que era para matar Rogério 157”. Ainda de acordo com Cachorrão, a reunião “ocorreu depois de uma tentativa de visita a Nem, encontro esse que não aconteceu”.

Nem não teria dado ordem para a invasão
Nem não teria dado ordem para a invasão Foto: Reuters / 10.11.2011

No relato, Cachorrão detalhou a reunião no São Carlos antes da invasão. Contou que representantes de quatro favelas dominadas pela facção participaram do encontro. Também afirmou que Modelo disse, na reunião, que Nem teria determinado “que a favela seria dada ao Manga”, apelido de Ramon Aleluia da Silva, após a retomada da Rocinha pelo bando.

Cachorrão afirma que Modelo se espelha em seu genro para subir degraus na hierarquia da quadrilha: segundo o criminoso, Adriano “está se aproveitando de seu parentesco com Nem para passar autoridade”. O depoimento de Cachorrão ajudou a polícia a identificar mais de uma dezena de traficantes que participaram da guerra na Rocinha.

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