Opinião
Por Juliana Albuquerque
A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal quer que o ministro da Educação, Camilo Santana, dê explicações sobre questões que caíram no primeiro dia de provas do Enem, domingo passado, ligadas ao agronegócio. Apresentado pelo senador Luis Carlos Heinze (PP), o requerimento alega que houve discriminação do setor agropecuário, com destaque da região Centro-Oeste, assim como a seus habitantes, além de viés ideológico contra o setor.
Na visão preside da CRA, senador Alan Rick (União), o comparecimento de Camilo Santana à comissão “trará luz ao debate sobre a questão”. Já o senador Sérgio Moro, defendeu que além do Ministro da Educação, a audiência pública conte com a participação do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Anísio Teixeira (Inep), que organiza o Enem.
Essa tentativa da oposição ao Governo no Congresso de macular a primeira edição do Enem sob o Governo Lula, contudo, pode ser mais um tiro no próprio pé, a exemplo do que ocorreu na CPI Mista do 8 de Janeiro.
Em entrevista realizada pelo presidente do Inep após a polêmica levantada pela bancada ruralista, Manuel Palácios, além de defender os critérios técnicos utilizados para formulação do exame, afirmou que 86% das questões que caíram no primeiro dia do Enem foram elaboradas entre 2019 e 2021, ou seja, sob gestão do Governo Bolsonaro.
Revanche? – O que a oposição quer, na verdade, ao levantar questionamentos sobre discriminação no agronegócio nas questões da edição 2023 do Enem, é uma espécie de revanche pelo que ocorreu na CPI do MST. A Comissão foi encerrada sem a leitura do relatório final, feito pelo deputado Ricardo Salles (PL). Parlamentares da oposição dizem acreditar que teriam votos suficientes para aprovar o relatório do ex-ministro do Meio Ambiente.
As questões – As duas questões criticadas pela bancada ruralista trazem trechos adaptados de artigos científicos. Ambas pedem que o participante interprete o que os autores quiseram transmitir. A primeira aborda a territorialização do agronegócio e diz que sua lógica tem se sobreposto aos conhecimentos dos camponeses. Já a outra, diz que é evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver” com a “expansão da soja”, mas também afirma que a “lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas”.