Preta Gil reafirma autoestima em novo hit e diz valorizar ‘haters’: ‘Quem me ataca me faz crescer’

“E daí que tenho celulites e estrias? Eu trabalho, sou honesta, digna, bonita, sensual, pago minhas contas…”, afirma Preta Foto: Vinicius Mochizuki
Naiara Andrade

O sol brilhava inclemente sobre o Rio de Janeiro naquela sexta-feira, 18 de janeiro. Preta Gil chegou à mansão no alto de Santa Teresa pouco depois das 11h, acompanhada de sua equipe.

— Bom dia, gente! Estou me sentindo muito mal… Só vim mesmo em respeito a vocês, mas não sei se vou aguentar fotografar — desabafou, tirando os óculos escuros e deixando à mostra o olhar abatido.

Recém-chegada de uma viagem a Orlando, nos Estados Unidos, onde esteve na companhia do marido, Rodrigo Godoy, de 30 anos, e da neta, Sol de Maria, de 3, a cantora já combatia os sintomas da forte gripe que trouxe na bagagem — a mesma que, dois dias depois, a levaria a um desmaio e à internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, com diagnóstico de princípio de pneumonia.

Enquanto era maquiada em frente a um ventilador tufão, Preta tomou um copo d’água atrás do outro e se alimentou de frutas. Quando o fotógrafo entrou em ação, ela alertou:

— Vini, precisamos conversar. Eu não gosto que tratem minhas fotos. Não modifique nada, quero aparecer do jeito que realmente sou, tá?

“Os braços são a parte do meu corpo que ainda me incomoda. Não acho bonito, ainda não relaxei”, entrega a cantora
“Os braços são a parte do meu corpo que ainda me incomoda. Não acho bonito, ainda não relaxei”, entrega a cantora Foto: Vinicius Mochizuki / Extra

Pedido feito, pedido aceito. Modelo de autoaceitação para os seus 6,7 milhões de seguidores no Instagram, a artista de 44 anos atiçou tanto elogios quanto críticas ao publicar em suas redes sociais uma série de fotos de biquíni neste início de verão, sem medo de ser feliz. Teve quem celebrasse sua “coragem” e sua “ousadia” em se mostrar sem retoques, diferentemente da maioria das famosas. E quem tecesse comentários esdrúxulos e destrutivos.

— Adoro ir à praia… E daí que tenho celulites e estrias? Eu trabalho, sou honesta, digna, bonita, sensual, pago minhas contas… Por que vou ficar trancada dentro de casa, me submetendo aos julgamentos dos outros? — questiona a carioca de sangue baiano: — Rede social virou uma grande fake news. As pessoas querem mostrar uma perfeição que não existe. Isso é muito frustrante! Eu nunca me identifiquei, sei que não é verdade, porque sou vivida. Mas a maioria das mulheres comuns se sente como peixe fora d’água. E essa insatisfação causa danos gravíssimos, que vão desde transtornos psicológicos, como a depressão, até atitudes drásticas, como a busca por cirurgias plásticas sem limites.

A própria cantora confessa que já cedeu a pressões estéticas sem necessidade, anos atrás, “por impulso, por moda, para agradar aos outros”.

— Foram, ao todo, quatro lipoaspirações e uma abdominoplastia. Da primeira plástica, eu não me arrependo, ficou incrível! Eu tinha engordado muito depois da gravidez e chegado aos 105kg. Aquela barriga me incomodava muito, eu não me sentia feliz. Isso foi há 20 anos, eu nem era cantora. Depois, vieram as paranoias, que me fizeram banalizar as intervenções. Eu já me vi fazendo lipoaspiração para tirar gordura da perereca! E, há poucos dias, virei assunto por causa do tamanho do meu “capô de fusca”, numa das minhas últimas postagens de biquíni. É muito louco porque, da mesma forma que vem a crítica de alguns, vem a identificação e a libertação de muitas, que é o que me interessa — ressalta Preta, acrescentando: — Sou uma mulher supervaidosa, mas tenho limites, hoje em dia. Na hora em que eu quiser, me submeto a uma nova plástica. Mas farei lúcida, consciente.

“As pessoas estão sentadas em seus tronos, apontando o dedo e gostando de ser ruins”, reclama a artista, sobre os haters
“As pessoas estão sentadas em seus tronos, apontando o dedo e gostando de ser ruins”, reclama a artista, sobre os haters Foto: Vinicius Mochizuki / Extra

Atualmente com 84kg em 1,61m de altura, ela se diz bem resolvida com suas imperfeições. E confessa ainda não estar 100% satisfeita com o que vê no espelho. Mas nem por isso deixa de viver tudo o que há pra viver e se permitir.

— Os braços são a parte do meu corpo que ainda me incomoda. Não acho bonito, ainda não relaxei. Prefiro tapar com mangas, mas já estou num processo de aceitação, expondo-os aos poucos. Eu não me coloco num pedestal, não me acho perfeita. Também tenho os meus monstros, preciso aprender a enfrentá-los — afirma ela, que há muito renega remédios para emagrecer e dietas restritivas: — Na vida, o importante é ter equilíbrio. Infelizmente, ainda tenho o hábito de tomar refrigerante com açúcar todo dia, preciso melhorar nisso. Mas cansei de ficar me privando. Minha saúde está ok, meus exames estão todos bonitinhos. Sigo o que minha médica pede porque tenho tendência a desenvolver diabetes. Quando ela me alerta, eu pego mais leve. E assim vou vivendo…

“Como você pode ser casada com um personal trainer e ser gorda desse jeito?”. “Por que não toma vergonha e vai malhar?”. Perguntas assim, diretas e ofensivas, brotam aos montes aos olhos de Preta, nos comentários de seus posts. Ela garante que tal energia ruim não lhe atinge. E que lidar com haters acaba sendo um exercício instigante:

— Eu já me confrontei muito com isso em divã; em casa, comigo mesma; orando; buscando respostas. As pessoas estão sentadas em seus tronos, apontando o dedo e gostando de ser ruins. Pois saibam que os maus me interessam muito, porque são o retrato real da nossa sociedade. Se eu não olhasse para eles, viveria numa ilusão. O mundo é feito de contrastes, de diferenças. Os que pensam igual a mim me dão conforto, acalanto, força. Mas o que me faz crescer de verdade como ser humano é quem me ataca. E eu respondo a eles, na medida do possível. Não fujo de gente infeliz. Faço um estudo antropológico, social, em cima do que me apresentam.

“Não tive ninguém em quem me espelhar na minha geração. Sou minha própria musa inspiradora”, afirma a cantora
“Não tive ninguém em quem me espelhar na minha geração. Sou minha própria musa inspiradora”, afirma a cantora Foto: Vinicius Mochizuki / Extra

Em contrapartida, o feedback positivo salta aos olhos. Por mensagens escritas ou comentários nas ruas, Preta compreende a importância de servir de inspiração para uma geração de mulheres sempre subjugadas à aparência. O lançamento da música “Excesso de gostosura”, há pouco mais de dez dias, vem coroar seu discurso empoderado com versos divertidos: “Hoje eu tô sem juízo, eu vou dar prejuízo / Pode se servir à vontade, eu tô tipo rodízio / Sei que tu é bom de boca e já se lambuzou / Garçom, prepara as fritas que o filé mignon chegou”.

— Não tive ninguém em quem me espelhar na minha geração. Sou minha própria musa inspiradora. Não tem dinheiro, não tem status que pague a felicidade de proporcionar liberdade e amor-próprio às pessoas. As mulheres me param para dizer que tomaram coragem de usar biquíni por minha causa, que se enxergam mais bonitas e passaram a fazer amor com seus maridos de luz acesa… Tanta coisa que a vida me deu, e agora esse papel transformador na sociedade. É valioso! — comemora.

Aos que se armam de preconceito, o recado é: amem mais, amem além. Como Godoy (ou Mozi, como ela gosta de chamá-lo na intimidade), o mais ciumento da relação, segundo Preta.

— Eu não posso falar por ele, mas imagino que o desejo do meu marido esteja em outro lugar que não nas formas físicas perfeitas. Ele enxerga mais à frente, tem um olhar apurado. Rodrigo é forte, sarado, mas isso não quer dizer que me queira assim também. Ele gosta do meu corpo do jeito que é, me elogia o tempo todo! Quando ponho os biquínis, se oferece para tirar minhas fotos — conta ela, que o conheceu na época em que participava do quadro “Medida certa”, do “Fantástico”: — Hoje em dia, ele já chutou o pau da barraca, porque percebeu que sou indisciplinada e preguiçosa. Mas no começo do namoro eu estava super no gás, e a gente malhava junto. Nunca fui sarada, mas tinha mais disposição para fazer os shows sem as dores nos joelhos, que são uma constante. Já tive carnavais de me encher de analgésico para aguentar o tranco.

“Cansei de ficar me privando”, afirma Preta, sobre dietas rigorosas
“Cansei de ficar me privando”, afirma Preta, sobre dietas rigorosas Foto: Vinicius Mochizuki / Extra

Após o susto recente com a saúde, a cantora se permitiu uma pausa. Por uma semana, ficou hospedada num spa no interior paulista, antes de retomar a agenda frenética de compromissos. Sua maratona carnavalesca começa no próximo dia 24, com o desfile do Bloco da Preta pela Rua Primeiro de Março, no Centro do Rio, celebrando seus dez anos de existência.

— Nosso bloco foi o primeiro gigante a desfilar pelas ruas do Rio, então sempre gera uma expectativa grande. Em 2010, tínhamos uma estimativa de duas mil pessoas, e apareceram 120 mil. No segundo, foram 600 mil. E só cresceu. Os números oficiais já contabilizaram dois milhões de foliões trás do nosso trio — orgulha-se Preta, que ainda vai levar seu bloco a Salvador, Recife e São Paulo: — Meu carnaval não para por aí. Vou fazer o Baile da Preta no Monte Líbano, cantar três dias em camarotes na Sapucaí e na minha tradicional feijoada no Itanhangá. Vai ser insano, mas eu adoro!

“Chega pra dançar, se solta”, porque ela “é hot, hot, hot e ninguém segura!”.

“Eu não me coloco num pedestal, não me acho perfeita. Também tenho os meus monstros”, diz a carioca de sangue baiano
“Eu não me coloco num pedestal, não me acho perfeita. Também tenho os meus monstros”, diz a carioca de sangue baiano Foto: Vinicius Mochizuki / Extra

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