Projeto São Francisco intensifica trabalhos de salvamento de bens arqueológicos
Cerca de 450 sítios e ocorrências arqueológicas já foram identificados desde 2010
O Projeto de Integração do Rio São Francisco também é responsável pela identificação e catalogação de vestígios históricos encontrados ao longo dos 477 quilômetros de extensão dos dois canais. A iniciativa faz parte do Programa de Identificação e Salvamento de Bens Arqueológicos e representa o trabalho de busca por respostas sobre a passagem do homem pela terra.
Com equipe composta por técnicos, arqueólogos e paleontólogos, o Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente do Semiárido – INAPAS, responsável pela execução do programa, percorre toda a obra acompanhando áreas a serem trabalhadas. Realizada em etapas, a ação consiste em identificar, catalogar e buscar as coordenadas geográficas de onde o material arqueológico ou paleontológico foi localizado, para que as peças sejam removidas e destinadas ao Museu do Homem Americano, no Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI).
A parceria do Ministério da Integração Nacional com o INAPAS permite o avanço de pesquisas sobre presença e evolução do homem durante milhares de anos. O trabalho também identifica a presença de animais extintos. Nos arredores do município de Salgueiro (PE), por exemplo, foram descobertos fósseis de uma preguiça gigante, medindo cerca de 7 metros.
Inscrições rupestres – Atualmente, uma das equipes encontra-se na Pedra da Letra do Coité, zona rural de Mauriti (CE), onde já foram localizadas peças pré-históricas e inscrições rupestres. Os técnicos do INAPAS realizaram escavações de sondagem no local para identificar possíveis materiais históricos, além de realizar mapeamento fotográfico que servirá de ilustração para futuros documentos e estudos científicos. Segundo a coordenadora de campo do INAPAS, Beatriz Paiva, os trabalhos das equipes obedecem três etapas, que são prospecção ou identificação de vestígio arqueológico, salvamento e resgate das peças e acompanhamento das máquinas nos locais onde há grande movimentação de terra.
De acordo com o arqueólogo, Carlos Lima, os trabalhos de resgate e identificação de peças de cerâmica confirmam a presença de povos primitivos com conhecimento de técnicas agrícolas. “Costumamos falar que todos os utensílios que o homem moderno possui em casa, os povos primitivos também tinham, mas eram produzidos de outra maneira, com argila e pedra. Em muitas peças conseguimos identificar inclusive adereços decorativos”, disse.
Ainda segundo o pesquisador, já foram identificados dois grupos de povos primitivos, com costumes agrícolas e também de caça. “Ao identificarmos peças de pedra, por exemplo, percebemos que em algumas regiões os povos tinham o costume de caçar animais para o consumo. Já em outras regiões as características de peças de argila apontam para outra atividade. Neste caso, a agricultura”, afirmou.
De 2010 até o momento, o Programa de Identificação e Salvamento de Bens Arqueológicos registrou 450 sítios arqueológicos na área diretamente afetada e também na área indiretamente afetada nos dois eixos do projeto.