Pronto, setor para parto de alto risco do Hospital da Mulher não funciona

Prefeito Geraldo Julio anunciou abertura da ala há oito meses, mas partos nunca foram realizados no setor porque, segundo o município, o Ministério da Saúde ainda não oficializou repasse financeiro

Infraestrutura composta por 68 leitos, incluindo unidades de terapia intensiva, está pronta. Mas serviço não funciona / Foto: Filipe Jordão/JC Imagem

Infraestrutura composta por 68 leitos, incluindo unidades de terapia intensiva, está pronta. Mas serviço não funciona
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem

Cinthya Leite

Oito meses se passaram desde que o prefeito Geraldo Julio anunciou a abertura do setor de alto risco do Hospital da Mulher do Recife (HMR), localizado no Curado, Zona Oeste do Recife. A infraestrutura composta por 68 leitos, incluindo unidades de terapia intensiva, está pronta – e os equipamentos também permanecem na unidade. Mas o serviço, voltado a mulheres com alguma doença prévia ou desenvolvida na gestação (condição que exige monitoramento mais intenso para evitar complicações antes, durante e depois do parto), continua sem funcionar.

“Tivemos inicialmente, para apoiar a operação do hospital (inaugurado em maio de 2016), um suporte financeiro do Ministério da Saúde. Mas, por enquanto, a portaria com efeito financeiro (para o setor de alto risco) não foi publicada. Frequentemente vamos a Brasília tratar do assunto. Para que seja sustentável a abertura do alto risco, é preciso ter a garantia do repasse financeiro”, explica o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia. Ao ser questionado sobre o investimento para colocar a ala de alto risco em funcionamento, ele não informou valores, mas ressaltou que o recurso federal “é um valor imprescindível para que haja sustentabilidade na operação” do setor. “Do que adiantaria abrir o serviço e não ter repasse de recurso tripartite? Recuaríamos e fecharíamos leitos?”, questiona.

A diretora-geral do HMR, a médica Isabela Coutinho, reconhece que o setor para as gestantes de alto risco precisa abrir, mas também reforça a importância do hospital na assistência às mulheres em gestação de risco habitual (aquela em que, após avaliação pré-natal, não se identifica maiores riscos de complicações para mãe e/ou bebê).

“Realizamos uma média de 480 partos por mês. Desses, 26% são cesáreas. Por esse grande volume, podemos garantir que, de alguma forma, contribuímos com o reforço na assistência materno-infantil do Estado. Se essas mulheres não estivessem aqui, estariam onde?”, relata Isabela Coutinho, ao levantar a questão sobre o estrangulamento da rede obstétrica – tema abordado em reportagem publicada no último domingo (16) neste JC. A gestora do HMR ainda destaca que, entre as mulheres atendidas no hospital, 38% não são residentes do Recife. “Elas chegam de forma espontânea à nossa emergência, e atendemos.”

É o caso da dona de casa Suelen Cristina de Oliveira, 31 anos. Na última segunda-feira (17), ela deu à luz uma menina no HMR, depois de receber uma negativa para a realização do parto no Hospital do Tricentenário, em Olinda, município onde ela mora. “Disseram que não tinha médico no momento. Então, fui para o Cisam (Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife), mas não me atenderam porque a minha gestação não era de alto risco. Fiquei nervosa e com a dor (das contrações) aumentando cada vez mais. Decidi vir para o Hospital da Mulher e felizmente conseguir ter minha filha”, conta Suelen, que deve ter alta hoje.

Resposta do Ministério da Saúde

Em nota, o Ministério da Saúde diz que repassou recursos de investimento num total de R$ 4,4 milhões para compra de equipamentos para qualificação do parque tecnológico do HMR. “A organização da oferta assistencial dos estabelecimentos de saúde é responsabilidade do gestor local. A partir da capacidade instalada da rede assistencial, o gestor tem autonomia para organizar o melhor desenho de rede e os fluxos de regulação que assegurem o cuidado, assim como contratualizar com os prestadores para que a oferta seja adequada a este desenho de rede”, diz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *