Propina em contratos da saúde da PM era entregue em dinheiro dentro de mochilas no QG da corporação

Da esquerda para a direita, em entrevista coletiva sobre o caso: o coronel Victor Yunes, corregedor da PM; o delegado Fábio Galvão, chefe da Ssinte; e os promotores do Gaeco Daniel Braz e Cláudio Calo
Da esquerda para a direita, em entrevista coletiva sobre o caso: o coronel Victor Yunes, corregedor da PM; o delegado Fábio Galvão, chefe da Ssinte; e os promotores do Gaeco Daniel Braz e Cláudio Calo Foto: Fabiano Rocha
Rafael Soares

A propina paga a oficiais da Polícia Militar para contratar empresas de material de médico era entregue, na maior parte das vezes, dentro do Quartel General da corporação, no Centro do Rio. O dinheiro era repassado em espécie, dentro de mochilas. A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Ssinte) e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), responsáveis pela investigação, detectaram também que, ao menos em uma ocasião, o pagamento foi feito em uma churrascaria de luxo no Aterro do Flamengo, Zona Sul da cidade.

De acordo com a denúncia enviada à Justiça, os responsáveis por recolher os valores eram os integrantes do núcleo operacional da organização criminosa, chefiados pelo então gestor do Fundo de Saúde da PM (Fuspom), coronel Décio Almeida. Ainda segundo as investigações, pelo menos R$ 16 milhões foram desviados dos cofres públicos pela quadrilha.

— Esse grupo de oficiais fazia parte de uma organização criminosa refinada, com três núcleos diferentes: o mentor, que ficava na cúpula da corporação e era responsável por dividir o dinheiro; o operacional, dentro do Fuspom e nos hospitais; e o dos empresários, que pagavam propina para conseguir contratos superfaturados e participar de processos de compra sem licitação — afirmou Cláudio Calo, promotor do Gaeco, acrescentando que 76% das compras do Fuspom, em 2014, foram feitas sem o processo licitatório.

Além de Décio Almeida, também faziam parte do esquema outros dois coronéis: o ex-chefe do Estado-Maior Administrativo, Ricardo Pacheco, e o ex-diretor de Finanças, Kleber Martins. Ao todo, 25 pessoas são acusadas de pertencer à quadrilha. Kleber foi o último a ser preso, no início da tarde desta sexta, após se entregar à Corregedoria da PM. Todos responderão pelos crimes de organização criminosa e dispensa de licitação, na Justiça comum, e, aqueles que compõem os quadros da PM, de peculato e corrupção passiva, na Justiça Militar.

Agentes deixam o prédio com documentos e computador do servidor público Orson Welles da Cruz
Agentes deixam o prédio com documentos e computador do servidor público Orson Welles da Cruz Foto: Fabiano Rocha

Ao longo das investigações, o coronel José Luís Castro, ex-comandante-geral da PM, foi citado em diversos depoimentos. Embora não tenha sido denunciado, a Ssinte e o Gaeco ainda investigam o coronel. Nesta sexta-feira, quando foi desencadeada a operação, mandados de buscas e apreensão foram cumpridos em endereços relativos ao ex-comandante da corporação. De acordo com o delegado Fábio Galvão, chefe da Ssinte, a quadrilha tentou assumir a apuração que ocorria dentro da PM relativa à fraude no sistema de saúde.

— O próprio coronel Cléber foi nomeado chefe de uma comissão de auditoria interna para apurar os contratos fraudulentos. Isso mostra que esses oficiais queriam controlar o que estava sendo apurado, para não serem responsabilizados pelos crimes — disse Galvão.

O trabalho da Ssinte e do Gaeco teve início quando o coronel Armando Porto Carreiro, então diretor do Hospital Central da Polícia Militar, constatou que sua assinatura havia sido fraudada em um documento que pedia o fornecimento de 75 mil litros de ácido peracético para a unidade, em março do ano passado. Carreiro procurou diretamente o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, para relatar o ocorrido. A partir daí, a Ssinte retirou a apuração dos fatos das mãos da PM e instaurou um procedimento investigativo próprio.

Agentes deixam o prédio da Secretaria de Segurança, no Centro do Rio, dando início à operação
Agentes deixam o prédio da Secretaria de Segurança, no Centro do Rio, dando início à operação Foto: Fabiano Rocha

Policiais acusados:

1. Ricardo Coutinho Pacheco, coronel PM

2. Kleber dos Santos Martins, coronel PM

3. Décio Almeida da Silva, coronel PM

4. Helson Sebastião Barbosa dos Prazeres, major PM

5. Andreia Carneiro Ramos, major PM enfermeira

6. Delvo Nicodemos Noronha Junior, major PM

7. Sérgio Ferreira de Oliveira, major PM

8. Maycon Macedo de Carvalho, major PM

9. Artur Cruz Junior, major PM

10. Luciana Rosas Franklin, capitã PM

11. Dieckson de Oliveira Batista, tenente PM

12. Marcelo Olímpio de Almeida, subtenente PM

13. Ana Luiza Moreira Gaspar, ex-funcionária civil da PM

Empresários acusados:

14. Claudia Lucia de Souza, da Gama Med 13 Com. e Serv. Ltda.

15. Ilma Maria dos Santos, da Gama Med 13 Com. e Serv. Ltda.

16. Claudio Teixeira da Silva, da Gama Med 13 Com. e Serv. Ltda.

17. Artilano Francisco da Silva, da Comercial Feruma Ltda.

18. Joel de Lima Pinel, da Bioalpha Serviços & Comércio de Materiais Médicos Hospitalares Ltda.

19. Cainã Albuquerque Pinel, da Bioalpha Serviços & Comércio de Materiais Médicos Hospitalares Ltda.

20. Temístocles Tomé da Silva Neto, da Bioalpha Serviços & Comércio de Materiais Médicos Hospitalares Ltda.

21. Tiago Medeiros Cunha, da M&C Comércio e Soluções de Equipamentos

22. Luciene Moreira Andrade, da M&C Comércio e Soluções de Equipamentos

23. Rodrigo Gomes Theodoro dos Santos, da Medical West

24. Leonardo Pereira dos Santos, da Medical West

Lobista acusado:

25. Orson Welles da Cruz, servidor público ocupante de cargo comissionado na Secretaria estadual de Governo do Rio, membro suplente da Comissão de Ética do PMDB fluminense.

Fonte: Extra

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