PSDB esvaziado e prefeitos com Raquel: como a debandada tucana muda a composição de forças para 2026

PSD deve herdar todos os 32 gestores saídos do ninho tucano, mas Palácio sentiu a derrota ao perder controle do PSDB

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Rafael Vieira/DP Foto
A esperada cisão entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o PSDB finalmente aconteceu. O presidente da Assembleia Legislativa (Alepe), Álvaro Porto, assumiu o comando do diretório estadual do partido após intervenção da Executiva Nacional. Em resposta, a vice-governadora Priscila Krause, o então dirigente estadual Fred Loyo e os 32 prefeitos pernambucanos saíram da legenda. As forças de Raquel crescem em números após o racha, mas o silêncio do Palácio indica que a perda do controle dos tucanos foi uma derrota política sentida.
Consciente de que possuía a vantagem numérica no PSDB estadual, a governadora pretendia manter uma mão no volante mesmo após mudar de partido. O revés vindo da cúpula nacional, no entanto, mostra que suas costuras políticas não foram o bastante para manter seus aliados mais antigos ou sua posição confortável no diretório estadual.
Na análise do cientista político Sandro Prado, “o silêncio da governadora e o clima nos bastidores podem ser interpretados como uma derrota para o palácio, pois evidenciam uma perda de apoio político e territorial para 2026, enfraquecendo sua base política”.
Apesar dos pesares, o êxodo dos tucanos beneficia o novo projeto partidário de Raquel. Os 32 prefeitos debandados devem se filiar ao PSD ainda nesta semana. Somando-se aos mais de 20 gestores eleitos pelo partido no ano passado, o evento deve exaltar o alcance influência da governadora no Estado, mantendo o clima de campanha visto em seu último ato.
Há, também, a chance de prefeitos de outros partidos aproveitarem o evento para se juntar ao time de Raquel, como já vem acontecendo nas últimas semanas. Até mesmo o PSB já perdeu municípios para o PSD.
A governadora chegará em 2026 apostando na robustez das mais de 50 prefeituras sob sua legenda para garantir apoio, mas precisará manter a articulação em dia para sobreviver ao Legislativo, onde vai depender dos partidos aliados. Débora Almeida deve ser a única tucana a defendê-la na Alepe, já que Izaías Régis compõe a comissão interventora de Álvaro Porto.
Os novos cargos de primeiro e segundo escalão distribuídos aos partidos aliados, como PP, Podemos e Avante, já ajudam a reforçar a aliança e mostrar a disposição para fazer política, mas o principal empecilho a ser superado é o destravamento das emendas dos deputados.
PSDB esvaziado
Se o silêncio da governadora indica uma derrota apesar das vantagens, o barulho de Álvaro Porto esconde o esvaziamento do PSDB.
“A postura aparentemente despreocupada de Álvaro Porto e da Executiva Nacional do PSDB em relação à debandada de prefeitos e nomes importantes como Priscila Krause pode ser parte de uma estratégia deliberada para conter o impacto negativo imediato da crise interna”, analisou Sandro Prado.
O presidente da Assembleia Legislativa assume o diretório estadual tucano sob a premissa de uma nova direção para reerguer o partido a nível nacional, focando garantir vagas na Câmara Federal em 2026. Mas faltam quadros aptos a ganhar eleição.
Hoje, o PSDB não possui nenhum deputado federal ou senador, limitando sua representação ao legislativo estadual – onde devem perder uma deputada assim que a janela partidária abrir. O único pré-candidato tucano à Câmara atualmente é Gabriel Porto, filho de Álvaro.
Também há expectativas de que o novo dirigente estadual traga para o ninho os aliados que elegeu em outras legendas no ano passado. Sua esposa, Sandra Paes, é prefeita de Canhotinho pelo Republicanos.
Para Sandro Prado, a reorientação estratégica do PSDB é uma estratégia de sobrevivência a nível nacional, visando evitar a queda na cláusula de barreira.
“A legislação eleitoral estabelece que, para manter acesso ao fundo partidário e ao tempo de propaganda, os partidos precisam eleger ao menos 13 deputados federais ou obter 2,5% dos votos válidos para a Câmara em, no mínimo, nove estados, com um desempenho mínimo de 1,5% em cada um deles. Nesse sentido, a retórica tem racionalidade política”, afirmou.
“No entanto, essa narrativa esbarra em uma fragilidade estrutural: a ausência de uma base municipal sólida em Pernambuco compromete diretamente a viabilidade dessa estratégia”, complementou.
Os planos de união partidária com siglas menores deve ajudar no renascimento do PSDB em todo o país, e pode indicar o posicionamento dos tucanos em Pernambuco. Álvaro Porto tem boas relações com a Frente Popular do prefeito João Campos (PSB), e pode conquistar novos aliados para a legenda passando para a oposição.
Prado avalia, entretanto, que a independência pode ser um caminho mais vantajoso para evitar uma briga por espaço numa chapa lotada.
“Alinhar-se a João Campos pode ser vantajoso se houver convergência de interesses e espaço para o PSDB nas eleições de 2026. Contudo, manter independência permite negociar apoios de forma mais flexível com representantes da direita conservadora e preservar sua identidade política, evitando subordinação a outras lideranças progressistas”, disse.

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