PT frustra Lira, e definição sobre apoio à presidência da Câmara deve ficar para depois do 2º turno

A bancada do PT na Câmara dos Deputados não deverá declarar apoio a nenhum candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Casa neste momento —a tendência hoje é que nenhum anúncio seja feito antes do segundo turno das eleições municipais.

A decisão frustra as expectativas do presidente da Casa, que tem pressa para resolver a disputa e vinha declarando nos bastidores esperar um desfecho para o tema.

A bancada se reuniu na tarde desta terça-feira (15) e ainda não tem uma posição unânime sobre qual candidato irá apoiar. De acordo com relatos de participantes da reunião, de um lado há deputados que defendem uma escolha e anúncio já neste momento. De outro, parlamentares pedem que nenhuma decisão seja tomada de forma açodada.

Apesar disso, há uma avaliação entre alguns petistas de que é preciso seguir um caminho da convergência, para evitar atritos internos na base de apoio ao governo federal na Câmara e um enfrentamento a Lira.

O PT é considerado o “fiel da balança” na eleição da Mesa Diretora, com os três candidatos no páreo brigando para atrair o apoio da legenda de Lula.

Hoje, estão na disputa os líderes Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União Brasil) e Antonio Brito (PSD) —os dois últimos fecharam aliança na disputa. Os partidos dos três integram a base do petista e têm representantes na Esplanada.

O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), disse após a reunião que “possivelmente” a decisão do partido será tomada só após o fim das eleições municipais, mas evitou definir um prazo.

“Possivelmente depois do segundo turno. Nós não vamos estabelecer prazo, porque aqui o prazo é o dia da eleição. Agora, a conveniência política é que vai dizer o momento adequado e o processo de construção da bancada”.

Em outro momento, ele afirmou que a decisão será quando a bancada tiver amadurecido suficientemente o tema. “Será no momento adequado. Nem cedo nem tarde.”

Odair Cunha também disse que o partido está discutindo qual tese irá seguir: a permanência no “blocão” formado para reeleger Lira em 2023 (com todos os partidos, exceto Novo e PSOL) ou se a sigla irá “produzir um novo bloco” na Casa.

“Nessa tese de permanência, nós temos uma candidatura que significa a convergência dessas forças políticas, que é o Hugo Motta. Nós estamos em um processo de consultas, iniciamos hoje esse debate aqui na Casa e vamos aprofundar. Temos tempo, o tempo está a nosso favor”, disse.

“A nossa percepção geral é que a maioria da bancada tende pela candidatura da convergência. Nós não queremos acirrar um processo de disputa aqui na Casa. Uma disputa acirrada não é boa para os interesses do PT nem aos interesses do governo”, afirmou.

Uma nova reunião da bancada está prevista para ocorrer no dia 29 —a executiva do partido terá uma no dia 28. Além disso o líder do partido deverá procurar os três candidatos para organizar encontros com os deputados petistas.

De acordo com relatos, há uma tendência de que a federação da qual o PT faz parte, com PV e PC do B, tenha um posicionamento único na disputa pela Câmara. Juntos, os partidos somam 80 deputados.

Nos bastidores, Lira afirma desde o início do ano que o PT se comprometeu a apoiar quem ele indicasse para sua sucessão. Até agora, no entanto, não houve a decisão, o que tem contribuído para os sucessivos atrasos nos prazos do presidente da Câmara para anunciar publicamente seu candidato.

Lula estimulou que Elmar se mantivesse na disputa, o que foi entendido por lideranças do centrão como uma estratégia do presidente da República para manter a eleição embolada e, assim, ampliar sua influência no desfecho.

Por outro lado, há pressa de Lira. Aliados dele reconhecem que, a cada dia que se passa, ele perde poder de influência entre os colegas. O próprio deputado pediu a Lula um gesto de apoio ao nome de Hugo Motta.

Mais cedo nesta terça, a executiva da bancada (grupo menor de deputados da legenda) petista se reuniu num primeiro encontro. Nela, parlamentares também defenderam evitar atritos entre os partidos que integram a base de Lula. Há uma avaliação de que brigas internas podem ser prejudiciais para a governabilidade.

Dos nomes colocados hoje, Motta é favorito na disputa. Ele é considerado o nome da convergência por parlamentares por ter o apoio de Lira e a sinalização de apoio de sete partidos, entre eles o PT e o PL, ainda que sem posicionamentos oficiais das legendas ou do próprio presidente da Câmara.

Ele foi alçado à disputa após uma reviravolta, com a desistência do presidente de seu partido, Marcos Pereira (Republicanos-SP). Antes, Elmar era considerado o favorito para ter a chancela de Lira, já que os dois mantêm relação estreita de amizade.

Com as mudanças, Elmar rompeu com Lira e se aliou a Brito, considerado o nome mais governista entre os três. A ideia deles é fazer um bloco aliado ao Executivo, sem a participação do PL de Jair Bolsonaro, para garantir governabilidade nos últimos dois anos do mandato do petista.

 

Victoria Azevedo/Folhapress

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