Quem foi Susan B. Anthony, mulher condenada em 1872 por votar que só agora foi perdoada nos EUA
A americana Susan Brownell Anthony foi presa em 1872 em Rochester, Nova York, depois de votar nas eleições presidenciais.
Depois de anos defendendo que as mulheres também tinham o direito de escolher seus governantes, ela foi condenada e multada em US$ 100.
Susan ainda viajaria os Estados Unidos organizando protestos à frente do movimento sufragista, mas não viveria para ver as mulheres finalmente votarem.
Ela morreu em 1906, aos 86 anos, antes da assinatura da 19ª emenda, em 18 de agosto de 1920.
Agora, no centenário de comemoração da data histórica, ela recebeu um indulto presidencial — interpretado por alguns como uma jogada política de Donald Trump.
“Por que levou tanto tempo?”, questionou o presidente em uma cerimônia na terça (18/08).
Poucos dias antes, o republicano havia anunciado apoio à construção de um monumento em homenagem às sufragistas americanas em Washington DC.
“As mulheres dominam os Estados Unidos — acho que podemos dizer isso com segurança”, afirmou, emendando que o Congresso tem hoje um número recorde de parlamentares mulheres.
O pronunciamento ocorre no momento em que Trump, em meio à corrida presidencial contra o democrata Joe Biden, tenta fazer uma aceno às eleitoras mulheres que vivem nos subúrbios das cidades americanas, que em geral concentram famílias de classe média e alta.
Esse é um dos grupos em que a aprovação ao presidente vem caindo desde 2016.
Memória
Susan foi julgada por um júri formado apenas por homens.
Em uma de suas manifestações no tribunal, ela criticou o governo por proibir as mulheres de votarem e afirmou que nunca pagaria um centavo da multa — o que, de fato, aconteceu.
O processo acabou tendo grande repercussão e chamou atenção para o movimento sufragista. Depois do episódio, ela passou a viajar o país defendendo a igualdade do direito entre homens e mulheres.
Nos últimos anos, algumas eleitoras vinham homenageando Susan em dias de eleições, visitando seu túmulo em Rochester.
Milhares passaram por lá em novembro de 2016, quando Trump disputou o comando da Casa Branca com Hillary Clinton, a primeira candidata mulher em uma eleição presidencial lançada por um grande partido.
Após as eleições legislativas de 2018, dezenas de pessoas colaram adesivos com os dizeres “eu votei” em sua lápide.
A memória da ativista também carrega controvérsias. Ela é criticada por alguns, por exemplo, que afirmam que ela teria marginalizado mulheres negras que também lutaram pelo sufrágio feminino.
Seu posicionamento em relação ao aborto, por sua vez, não é claro — e um grupo que advoga contra o direito de as mulheres interromperem a gravidez usa seu nome em uma de suas divisões.
A presidente da Susan B. Anthony List, que procura dar visibilidade aos políticos que são contra o direito ao aborto, foi uma entre a lista de personalidades de grupos conservadores convidadas à cerimônia de indulto a Susan.
Reações
O indulto gerou reações negativas entre membros da oposição que criticam a resistência de Trump em aceitar a possibilidade de que os americanos votem pelo correio em novembro — uma alternativa estudada por alguns Estados diante da pandemia de covid-19.
O presidente vem sendo acusado de deliberadamente cortar recursos dos Serviço Postal com o intuito de deslegitimar o voto por correspondência.
Horas depois da cerimônia, a vice-governadora do Estado de Nova York, Kathy Hochul, postou no Twitter uma mensagem em que dizia que, “em nome do legado de Susan B. Anthony, nós exigimos que Trump anule o perdão”.
“Ela tinha orgulho de ter sido detida e por ter conseguido chamar atenção para a causa dos direitos das mulheres, nunca pagou a multa. Deixe-a descansar em paz.”