Raquel de Queiroz

 

A primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras era descendente de famílias tradicionais do Ceará: filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, e parente do escritor José de Alencar. Ainda na infância presenciou a terrível seca de 1915 e migrou com a família para o Rio de Janeiro e, em seguida, Belém, onde residiram por dois anos. A experiência serviu de tema para seu livro de estreia, o romance social “O Quinze” (1930). Já de volta ao Ceará, conclui os estudos regulares e se dedicou à leitura de autores nacionais e estrangeiros, especialmente franceses, orientada pela mãe. Aos 17 anos, já de volta a Fortaleza, publica seu primeiro texto no jornal O Ceará, sob o pseudônimo Rita de Queluz, e é convidada a ser colaboradora do veículo. Ali publica o folhetim “História de um Nome” e organiza a página de literatura do jornal.

A publicação de “O Quinze”, em tiragem modesta de mil exemplares com recursos financeiros próprios, recebe críticas positivas de intelectuais de São Paulo e do Rio de Janeiro, e confere à escritora o Prêmio da Fundação Graça Aranha, consagrando-a como personalidade literária no país. Na década de 1930, mantém uma breve relação com o Partido Comunista, sendo inclusive fichada pela polícia política de Pernambuco, e publica os romances “João Miguel” (1932), “Caminho de Pedras” (1937) e “As Três Marias” (1939). Casa-se com o poeta José Auto da Cruz Oliveira e muda-se para Maceió, onde se torna amiga dos escritores Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Após a decretação do Estado Novo, é detida, acusada de subversão, e seus livros são queimados em Salvador. Após a morte da única filha, vítima de septicemia aos 18 meses de idade, e da separação do marido, muda-se para o Rio de Janeiro, em 1939, onde conhece o médico Oyama de Macedo, com quem vive durante 42 anos. Ali começa a colaborar no Correio da Manhã, O Jornal, Diário da Tarde e O Cruzeiro.
Publica na revista O Cruzeiro, em formato de folhetim, o romance O galo de ouro (1950), e escreve duas peças de teatro, “Lampião” e “A beata Maria do Egito”. Em 1957, recebe o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. No ano seguinte, reúne alguns de seus textos no livro “Cem Crônicas Escolhidas” (1958). Durante a década de 1960, colabora com a deposição do presidente João Goulart e é nomeada a integrar o Conselho Federal de Cultura, pelo presidente Castelo Branco. Em 1966, torna-se a primeira mulher brasileira a ser delegada de uma Assembleia Geral da ONU, integrando a Comissão dos Direitos do Homem. Nessa época, publica ainda uma série de livros de crônicas e também seu primeiro livro infantil, “O Menino Mágico” (1969). Paralelamente à atividade de escritora e jornalista, também atua como tradutora, entre 1940 e 1970, de cerca de quarenta livros.

Em 1977, torna-se a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Na década de 1980, recebe diversos prêmios e condecorações. “As Três Marias” é adaptado para a televisão e “Dôra, Doralina” (1975), para o cinema. Em 1988, inicia sua colaboração semanal no jornal O Estado de S. Paulo, e também no Diário de Pernambuco. Publica, em 1992, o romance “Memorial de Maria Moura”, considerado sua obra-prima. A saga da cangaceira nordestina é adaptada para a televisão e transmitida em cerca de 15 países. No ano seguinte, recebe o Prêmio Camões. Escreve, em parceira com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek, o livro de memórias “Tantos Anos” (1998). A escritora, que já havia sofrido um derrame em 2000 e tinha problemas de locomoção, falece alguns dias antes de completar 93 anos, vítima de um infarto.

Fonte: Estado de S. Paulo

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