Opinião
Extremamente corajosa, lúcida e oportuna a visão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, histórico comunista, sobre o lamentável episódio do 8 de janeiro de 2023 no País, lembrado ontem num ato no Congresso, criado pelo presidente Lula, em defesa da democracia.
“Trata-se de uma “fantasia” entoada por Lula e seus seguidores para manter viva a chama da polarização política e dar tração a uma aliança entre o Executivo e o Judiciário para se contrapor ao Legislativo”, disse Rebelo, em entrevista ao site Poder 360. Ele abriu o coração com a autoridade e a experiência de ter militado por muitos anos ao lado do presidente da República e das principais lideranças de esquerda.
Rebelo foi deputado federal por cinco mandatos, presidente da Câmara dos Deputados (2005-2007), e ministro de quatro pastas diferentes nos governos petistas: Coordenação Política (2004-2005), Esporte (2011-2015), Ciência e Tecnologia (2015) e Defesa (2015-2016). Há poucos políticos com um histórico tão completo e respeitado quanto ele.
“Faz bem à polarização atribuir ao antigo governo a tentativa de dar um golpe. Criou-se uma fantasia para legitimar esse sentimento que tem norteado a política nos últimos anos. É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe a aquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado”, disse o ex-ministro.
Rebelo comparou os ataques de 8 de Janeiro ao movimento do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-terra), uma dissidência do MST, que em 6 de junho de 2006 invadiu a Câmara dos Deputados, depredou parte do patrimônio e deixou 24 pessoas feridas, sendo uma em estado grave. “Eles levaram um segurança para a UTI, derrubaram um busto do Mário Covas. Eu dei voz de prisão a todos. A polícia os recolheu e eu tratei como eles de fato eram: baderneiros. Não foi uma tentativa de golpe. E o que houve em 8 de Janeiro é o mesmo”, comparou. Na época, Aldo era o presidente da Câmara dos Deputados.
Outro propósito – Ainda segundo a visão do ex-ministro e ex-presidente da Câmara, a ideia de que Lula e as ações do STF (Supremo Tribunal Federal) salvaram a democracia servem a um outro propósito. “Ambos enfrentam dificuldades no Legislativo. Lula teve dificuldade em aprovar pautas de seu interesse em 2023 e viu um número robusto de vetos serem derrubados. O Judiciário, por outro lado, lida com projetos de lei que visam diminuir o seu poder”, avalia.
Aliança com o Judiciário – Para Aldo Rebelo, atribuir ao STF a responsabilidade de protetor da democracia é dar à Corte uma função que ela não tem nem de forma institucional, nem política. “Isso atende às necessidades do momento. Há uma aliança do Executivo e do Judiciário em contraponto ao Legislativo, onde o Executivo não conseguiu ter maioria. É uma compensação”, afirmou.