O Mapa da Desigualdade entre as Capitais é construído com 40 indicadores de diferentes bases e levantamentos, como o Censo, vários Pnads (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) e o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis). Entre os 40 itens, estão dados como educação, renda, nível de pobreza, trabalho, ações de preservação ambiental, saneamento.
Curitiba, com 1,73 milhão de habitantes, é a capital menos desigual no país. A cidade consegue oferecer resultados acima da média de outras 25. Na outra ponta, Porto Velho (RO) tem os piores indicadores, com 23 deles abaixo da média de seus pares.
Já as três capitais mais populosas (fora Brasília, não considerada pela pesquisa) —São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza— estão posicionadas, respectivamente, no quinto, no 11º e no 20º lugar.
Agrupados de acordo com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas)., os dados usados também são de diferentes anos, de acordo com a atualização mais recente entre eles durante a elaboração do estudo.
O ranking mostra que mesmo Curitiba, a capital menos desigual do país, ainda precisa enfrentar desafios como a desnutrição infantil, indicador em que ocupa a 21ª posição, ou a parcela de famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (24ª).
A cidade também está abaixo da média no ranking em indicadores como taxa de áreas florestadas e naturais, de violência contra a população LGBTQIA+ e de suicídio.
Para Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis e colunista da Folha, o mapa serve como uma provocação para as administrações. “Executivos e Legislativos estão muitas vezes voltados a emergências e urgências, e não conseguem olhar um panorama geral para ver o que ainda precisa ser enfrentado”, diz ele.
“Desnutrição infantil é uma questão de definir orçamento. Já a violência contra a população LGBTQIA+ tem um caráter cultural, exige campanhas”, completa.
A violência relacionada à sexualidade também é um problema em São Paulo. A cidade mais populosa do país, com 11,4 milhões de habitantes, tem a segunda taxa mais alta de violência contra a população LGBTQIA+, com 8,3 casos a cada 100 mil habitantes.
A capital paulista é a 25ª colocada em investimento público em infraestrutura por habitante, segundo dados de 2021 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com R$ 13,18. Em relação à cobertura vacinal, está em 20º lugar.
Na última posição do ranking, Porto Velho (com 460 mil habitantes), tem os piores indicadores para feminicídio, população atendida com esgotamento sanitário, recuperação de resíduos sólidos e emissão de CO² per capita.
Mas a capital de Rondônia, por outro lado, está em 10º lugar na lista de PIB (Produto Interno Bruno) per capita, segundo dados de 2020 do IBGE. A capital que lidera no indicador é Vitória (ES), e a última colocada é Salvador (BA).
A capital baiana também é a melhor posicionada no ranking no quesito de taxa de áreas florestadas e naturais. Está na 13ª posição, mas ainda na primeira metade de lista, em relação à taxa de homicídios, segundo dados do DataSUS de 2021, sistema do Ministério da Saúde, com 36,07 casos por 100 mil habitantes, embora o valor ainda seja considerado alto.
A maior taxa foi registrada naquele ano em Macapá (AP), com 62,41 casos por 100 mil habitantes, e a menor, em São Paulo.
A responsabilidade por políticas de segurança pública está mais ligada às esferas estaduais, das quais fazem parte as polícias Civil e Militar, e à federal, que tem um papel de financiamento e integração. Mas as cidades precisam, segundo o instituto, avançar na cooperação.
“O conhecimento para enfrentar isso está dado, temos experiências positivas nas cidades brasileiras. Muitas vezes não é investimento elevado, mas direcionamento de política”, afirma Abrahão.
Um indicador que exige políticas integradas (saúde, educação, assistência social), por exemplo, é o de idade média ao morrer, segundo o coordenador do instituto. Ele cita que a diferença entre bairros de São Paulo chega a 20 anos.
O problema está ligado à falta de serviços, mas também à gravidez na adolescência e à violência que atinge principalmente jovens negros, entre outras questões. “Costumamos dizer à prefeitura [de São Paulo] que a maior obra que se pode fazer é tentar melhorar esse indicador durante uma gestão.”
No país, segundo o mapa, os extremos estão em Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS), com 72 anos, e Boa Vista (RR), com 57, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade, do DataSUS de 2022.