De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 69% dos empreendimentos estaduais do setor ainda operam no prejuízo, quase três anos após o auge da pandemia da Covid-19.
Localizado no Terreiro de Jesus, o restaurante Cantina da Lua fechou as portas temporariamente em 2020 e só voltou a funcionar em julho de 2022. O empreendimento, administrado há 51 anos pelo jornalista, escritor, poeta, compositor e agitador cultural Clarindo Silva, 81, tenta alcançar os mesmos números de 2019, ano antecessor ao do decreto de emergência sanitária global, emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a retomada é lenta, o orçamento é apertado e o quadro de funcionários não é mais o mesmo. No período pré-pandemia, Clarindo tinha uma equipe com 24 colaboradores, número que foi reduzido em 50%.
De acordo com o proprietário, o retorno é gradativo. Sem detalhar o número de pratos que era vendido diariamente antes da pandemia, Clarindo contou que o faturamento do último ano consiste em 75% das vendas de 2019. “Não é um caso só da Cantina da Lua, mas de toda região [Pelourinho], até porque a retomada é gradativa”, pontuou.
Clarindo Silva, proprietário da Cantina da Lua. Crédito: Marina Silva/CORREIO
Apesar da insegurança para o pagamento de fornecedores e de outros compromissos quando o movimento é baixo no empreendimento, Clarindo se mostrou otimista para a próxima temporada de verão, 2023-2024. A ideia é retornar com o funcionamento total do estabelecimento, incluindo a parte superior do restaurante, que hoje só funciona de forma esporádica, e explorar eventos como a Terça da Benção do Olodum, festa pré-carnavalesca que abre o verão baiano no Pelourinho. “Foi o principal processo de aquecimento na economia para gente. Colocávamos a panela no fogo todas as terças-feiras, com a certeza de que teríamos dinheiro para pagar fornecedores e outras despesas no dia seguinte”, disse.
Segundo Luiz Henrique do Amaral, presidente executivo da Abrasel, o pós-pandemia trouxe uma configuração de ambiente diferente, com um grau de endividamento maior. “O setor está chegando aos mesmo números de 2019, porém, os resultados do ponto de vista de gestão de negócios são muito ruins”, explicou. Conforme a pesquisa da associação, realizada em junho deste ano, 53% das empresas têm pagamentos em atraso e 86% devem impostos federais.
Amaral ainda contou que o atual número de empreendimentos do setor – 74 mil – supera a quantidade de estabelecimentos que estavam em funcionamento em 2019, no entanto, a diferença não foi estimada. O crescimento é um tanto ilusório. “A barreira de entrada é muita pequena no segmento de bares e restaurantes. É comum o surgimento de novas empresas em momentos de crise, como também, infelizmente, é comum que 80% dos empreendimentos fechem a cada dois anos”.
O restaurante e lanchonete Tropicália, também no Centro Histórico, é um dos empreendimentos que atuam com o peso do prejuízo causado pela pandemia. Antes, o estabelecimento funcionava até uma hora da manhã. Hoje, a cozinha fecha às 17h e o estabelecimento, às 18h. Além disso, as dívidas com impostos federais, não especificados pela chefe, são um problema para o restaurante. “Estamos pagando parcelas altíssimas até hoje. As despesas continuaram durante a pandemia, no entanto, o dinheiro que entrava não era o suficiente para arcar com todos os compromissos financeiros. Então, uma bolinha de neve foi gerada”, explicou.
A garçonete Zeila Maia, do Quiosque do Dedé, no bairro do Imbuí, destacou que o movimento aos finais de semana foi reduzido em comparação ao período pré-pandemia. A funcionária acredita que isso possui relação com dois fatores: maior número de bares instagramáveis (propícios para publicações na rede social Instagram) em Salvador e a preferência dos soteropolitanos por assistir aos jogos de futebol em casa. Hoje, a movimentação é três vezes menor do que em 2019. “Dia de sexta fica um deserto no Imbuí, até às 17h. O movimento aumenta à noite, mas não é a mesma coisa”, disse.
Empregos recuperados
Em 2020, a Bahia registrou a perda de 19.034 empregos formais por subclasse nas atividades características do turismo no estado. O valor foi superado no acumulado de janeiro de 2021 a setembro de 2022, com a geração de 20 mil empregos do segmento. As informações são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. Nos saldos de 2021, 2022 e 2023, o total chega a 26 mil gerados.
No Tropicália, por exemplo, Fernanda apontou que a equipe precisou ser reduzida durante a pandemia. O turno da noite, com seis pessoas, foi cortado, e só duas continuaram trabalhando dos sete funcionários que integravam a equipe da tarde. Os colaboradores do dia foram recuperados após a flexibilização das medidas sanitárias, mas o turno da noite ainda continua suspenso.
Conforme os dados da Abrasel, 33% das empresas pretendem contratar no segundo semestre de 2023, enquanto 49% pretende manter o quadro. Apenas 17% indicaram que pretendem demitir.
Fonte: Correio