Restos de García Lorca, assassinado por tropas leais a Franco, seguem desaparecidos
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A vida e a obra de Federico García Lorca são provavelmente um reflexo da agitada vida política da Espanha no primeiro terço do século XX. Lorca foi músico, poeta, escritor e dramaturgo e participou da última etapa da época conhecida como a Idade de Prata da cultura espanhola. Ele nasceu em 1898 em um povoado perto da cidade de Granada, na região da Andaluzia. Em 1914, se matriculou nos cursos de Direito e de Filosofia e Letras na Universidade de Granada, onde conheceu o professor de Direito Fernando de los Ríos, personagem marcante na vida política espanhola e no futuro do poeta.
De los Ríos foi um ministro influente durante a Segunda República espanhola (1931-1936), época que antecedeu a guerra civil, e foi o principal responsável em convencer os pais de Lorca a deixar que o jovem poeta seguisse seus estudos na capital, ainda em 1919.
[García Lorca, em fotografia de 1914]
Uma vez em Madrid, Lorca se hospedou na Residência de Estudantes, que naquela época era o ponto de encontro mais importante da cultura espanhola.
Entre 1919 e 1926, o poeta e dramaturgo respirou os ares de grandes artistas que passaram pela residência e criou laços de amizade com o cineasta Luis Buñuel, o poeta Rafael Alberti e o pintor Salvador Dalí.
Lorca era homossexual e criou um forte vínculo afetivo com Dalí, que o convidou para passar uma temporada na casa de verão de sua família, na cidade de Cadaqués, na região da Catalunha. Alguns especialistas consultados por Opera Mundi afirmam que a relação entre os dois era tão forte que é possível reconhecer uma certa influência de um artista na obra do outro durante esta época. Inclusive, Lorca escreveu o texto intitulado “Ode a Salvador Dalí”, publicado em abril de 1926, em homenagem ao amigo.
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Início da guerra e execução
Quando as tropas espanholas no Marrocos se levantaram contra a República, em 1936, Lorca estava em Granada, na casa da família. Apenas três dias após o levantamento, a cidade já estava nas mãos das forças falangistas. Percebendo que o ambiente era perigoso, Lorca e os familiares se refugiaram na casa do amigo Luis Rosales. A escolha do refúgio se deu graças à confiança que o poeta tinha nos irmão de Rosales – falangistas destacados da região – o que poderia lhe dar certa proteção. Entretanto, no dia 16 de agosto, Lorca foi detido.
Wikicommons
“Nesta época, uma denúncia [contra Lorca] o acusava de ser secretário pessoal de Fernando de los Ríos, ministro socialista da República”, conta o historiador Miguel Caballero.
[Benjamín Jarnés, Humberto Pérez de la Ossa, Luis Buñuel, Rafael Barradas e García Lorca, em Madri, 1923]
A queixa foi um dos motivos que levaram à prisão do poeta. “A detenção de Lorca é uma concatenação de muitas causas, e a maioria delas são disputas entre famílias rivais, motivos de índoles econômicas, de terras e, em última instância, política local”, explica Caballero.
O professor da Universidade Complutense de Madrid Gutmaro Gómez confirma que o levantamento contra a República também serviu para o ajuste de contas entre famílias rivais.
“Logo depois do levantamento militar, se realiza uma série de listas com gente que participou das associações políticas e nas prefeituras durante a vida republicana. Então, [o motivo das listas] foi uma questão militar do golpe e, também, foi devido a conflitos locais que existiam antes”, continua. Apenas dois dias após sua detenção, García Lorca foi executado e enterrado em uma vala comum na região de Granada.
Nos últimos anos, graças às subvenções da Lei de Memória Histórica, foram levadas a cabo diversas iniciativas para encontrar os restos do artista. A maioria delas se realizou baseando-se nos relatos do maior biógrafo de Lorca, o irlandês Ian Gibson. Entretanto, nenhuma das tentativas obteve êxito e o paradeiro de García Lorca segue desconhecido.