Faz 56 dias que um temporal devastou dezenas de bairros em São Gonçalo. Naquele 24 de março, a dona de casa Luciana Botelho, de 43 anos, se protegeu o quanto pôde na sua casa, no Anaia, até que o imóvel caiu levado pela onda provocada pelo rompimento de um muro. Era o início de uma vida à deriva que, hoje, ela compartilha com outras 67 famílias (148 pessoas) num abrigo em Vista Alegre. Expulsos dos condomínios “Minha casa, minha vida” do Jóquei, invadidos depois da enchente, os desalojados reclamam das condições em que estão vivendo.
— É gente jogada pelo chão, banheiro entupido porque não foi feito para ser usado por tanta gente. Não tem colchão para todo mundo, faltam roupas e dignidade. Perdi minha casa no Anaia, fui para o Jóquei morar como invasora. Agora estou aqui, jogada — descreve Luciana.
A ação de reintegração de posse ocorreu na terça-feira, com apoio da PM. Os 998 apartamentos de dois condomínios foram esvaziados. Os moradores tiraram seus pertences em meio à chuva. Quem não tinha para onde ir precisou colocar tudo em caminhões e despachar para o depósito da prefeitura. As pessoas foram encaminhadas para o Centro de Referência da Assistência Social em Vista Alegre e para um Ciep desativado no Porto do Rosa.
— Aqui tem gente do Anaia, Salgueiro, Palmeiras, Catarina…. Gente que não tem casa. Hoje (ontem) recebemos alimentação boa. Antes, veio estragada. Nos informaram que teremos que comprar mantimentos. Mas de que adianta, sem cozinha? — indaga Wallace da Silva, de 26 anos, que morava no Jóquei: — Recebemos aqui 30 colchões, para 67 famílias. Não temos nem cobertor para encarar o frio.
O governo do estado informou apenas que a estrutura de abrigos é de responsabilidade da prefeitura. Esta garantiu que o combinado era uma ação conjunta com o estado. Disse também que mobilizou equipes por 54 dias para atender invasores, mas que só 48 famílias buscaram ajuda. O órgão contabiliza, agora, apenas 80 pessoas em Vista Alegre.
Fonte: Extra