‘Rui Costa contra Lula e Wagner’
Confira artigo de Antonio Risério, publicado no jornal A Tarde de ontem (09), comentando um episódio da política baiana. Rui Costa, o pré-candidato do PT ao governo da Bahia, poderia ter começado a sua pré-campanha sem essa pisada na bola. Se esse é o pré-candidato da situação, como baiano me senti pré-fodido. Segue abaixo o artigo do antropólogo baiano.
Quanto mais a gente reza, mais babaquice aparece. Agora, amigos me chamam a atenção, vou logo conferir e vejo que é a mais pura verdade. O candidato do governador Jaques Wagner à sua sucessão, o sindicalista Rui Costa, um ilustre desconhecido, bate na mesa para perguntar o seguinte: o que Eduardo Campos, governador de Pernambuco e candidato a presidente da República, quer se metendo em assuntos baianos? Mais: pernambucano não tem nada de se meter nas coisas da Bahia.
É uma atitude pequena demais. Mesquinha, provinciana, grosseira e burra – para dizer o mínimo. Precisamente, esse indivíduo disse que Eduardo Campos está realizando uma “interferência indesejada” nos quintais da política baiana. E emenda, batendo na velha tecla do preconceito e de uma rivalidade regional que ninguém mais leva a sério: baianos não querem ser governados pelos interesses de Pernambuco. É ridículo. E o macaco, fazendo a sua macaquice, nem olha para o próprio rabo.
Afinal, Lula é pernambucano. E há anos vem se metendo – com êxito, inclusive – na política baiana. Rui Costa deve então perguntar publicamente, por um mínimo de coerência: o que esse pernambucano de Caetés-Garanhuns quer se intrometendo nas tramas de nossa política? E dizer com todas as letras: Lula, quando vem aqui fazer comício para o PT, está realizando uma “interferência indesejada” em nosso meio. Mais: baianos não querem ser governados pelos interesses do pernambucano Lula. E só assim ficamos sabendo que Rui Costa, em princípio, quer ver Lula longe do processo eleitoral baiano de 2014. Não é isso? Ou sou eu que estou ficando cego e burro?
Mas o ataque do pequeno polegar de Wagner não atinge apenas o ex-presidente Lula. Atinge, também, o próprio Wagner, que, como todos sabem, não é baiano, mas carioca. Afinal, o que esse judeu carioca quer fazendo aqui? – é a pergunta que se deve fazer, como consequência lógica da estupidez provinciana de Rui Costa. Nesse caso, no entanto, talvez Costa esteja certo: ao escolher um candidato que quase ninguém conhece e que os que conhecem detestam, é provável que Wagner esteja mesmo realizando uma “interferência indesejada” na Bahia. Por esse caminho, a crítica indireta de Costa ao governador tem sua razão de ser. Além disso, não nos esqueçamos de que Dilma Rousseff é mineira. Quando é que o pequeno polegar vai dizer a ela que os baianos não querem ser governados por interesses de Minas?
Pelo visto, Rui Costa não pensa no que diz, se é que por acaso pensa sobre alguma coisa, do que de agora em diante devemos desconfiar. Suas declarações espantam não só por serem absolutamente imbecis, mas pela estreiteza e pelo provincianismo. É autoritário como um coronel irritado com alguém que prega reforma agrária em sua fazenda. E de um preconceito antigo e rasteiríssimo, que o classifica como um indivíduo mentalmente raquítico e sem a menor grandeza que se deve exigir de um sujeito que quer governar a Bahia.
Por fim, não devemos nos esquecer de três coisas elementares, que talvez sejam complexas demais para o raso entendimento do sindicalista que Wagner quer nos empurrar goela abaixo. Primeiro, Eduardo Campos é presidente do PSB. Esse partido tem quadros de relevo na Bahia, a começar pela senadora Lídice da Mata, candidata ao governo baiano. E o presidente de um partido nacional tem de se meter, até obrigatoriamente, no jogo político de cada unidade da federação. Em segundo lugar, Eduardo é candidato a presidente. O grosseirão Rui Costa quer proibir que ele faça campanha na Bahia? Terceiro, ele vem, com Marina Silva, para apoiar a candidatura de Lídice. Não pode? O brucutu não quer?
Em comparação com uma “esquerda” dessas, a direita é bem mais democrática. Afinal, o que Rui Costa quer é fechar uma suposta porteira da Bahia como se isso aqui tivesse virado um curral sindicalista. Age, assim, como um bundão autoritário, justificando sua fama de casca grossa. E, se há uma coisa que os baianos não querem ou não devem querer, é que tamanha grosseria tome conta do governo da Bahia.