“Se ele pode, eu também…”

Carlos Chagas

 Quem anda feliz é o presidente do Senado, Renan Calheiros. Principal estímulo a que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se candidate a novo período, o senador alagoano passou a exercitar a lição tão comum na política brasileira: “se ele pode, eu também..”

Ambos terminam seus períodos de comando na Câmara e no Senado. Maia, numa espécie de mandato-tampão, eleito para apenas completar o mandato que foi de Eduardo Cunha. Seu limite é fevereiro, quando a lei exige a eleição de um sucessor. Renan porque estoura seu tempo no mesmo mês. Presidiu o Senado e o Congresso inúmeras vezes, agora completa o prazo fatal.

Tanto um quanto outro lamentam a hora de esvaziar as gavetas. O deputado, porque tendo preenchido um terreno minado pelas armadilhas do hoje réu preso Eduardo Cunha, trouxe tranquilidade à Câmara. Ajustou-se às necessidades do governo Temer e comporta-se como parceiro ideal do palácio do Planalto. Se continuasse pelos próximos dois anos, evitaria montes de problemas com a instável base parlamentar do presidente da República.

Quanto a Renan, os motivos são diversos. Respondendo a doze processos no Supremo Tribunal Federal, vive sob o risco de condenações e até de perda de mandato. Por isso atua perigosamente em todos os temas polêmicos de interesse do Congresso, certo de que preenchendo os espaços à vista, afastará a sombra de incursões inusitadas ao seu futuro. O problema é que completará o tempo de sair do palco, podendo ficar ao sol e ao sereno, exposto a seus adversários.

Em condições normais de temperatura e de pressão, os dois presidentes retomariam seu convívio com as casas que dirigem sem maiores problemas. Rodrigo Maia naturalmente aguardando novas oportunidades, Renan Calheiros usufruindo sua experiência. Do jeito que as coisas vão, no entanto, arriscam-se a mergulhar na incerteza. Um de volta à árida planície, outro sob o risco de mergulhar nas profundezas.

Por isso lançam-se ambos à cata de pareceres e de juristas capazes de justificar as reeleições que a lei e os regimentos internos proíbem. Contam com uma distante simpatia do presidente Michel Temer e com consideráveis bancadas de seus partidos e afins. Resta esperar como desenvolverão suas estratégias. Tempo existe.

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