O secretário de Cultura da Bahia Bruno Monteiro foi duramente criticado, na noite desta sexta-feira (18), após misturar em um post o assassinato da líder quilombola Mãe Bernadete com sua participação nas ações do governo no interior da Bahia. O texto foi publicado em seu perfil no Instagram, mas foi apagado algumas horas depois.
“Como bem disse o governador @jeronimorodriguesba, hoje é um dia em que nos dividimos entre a tristeza e a alegria. A tristeza motivada pelo inaceitável crime que ceifou a vida de Mãe Bernadete e para o qual o @govba está mobilizado em busca de justiça. E a alegria, vinda do orgulho em chegarmos a marca de 100 municípios visitados pelo governador em pouco mais de sete meses, com importantes entregas para baianas e baianos”, escreveu. Em seguida, o secretário segue falando da inauguração de um escola e sua participação em um evento.
“Quando você pensa que viu de tudo, vem o secretário de Cultura da Bahia, o gaúcho Bruno Monteiro, mostrar toda a sua sensibilidade pela morte de Mãe Bernadete nas redes sociais. Quem tem aliados assim, não precisa mesmo de inimigos”, escreveu uma internauta. “Não é possível que ele misturou um assassinato de uma matriarca com ‘conquistas’ numa mesma postagem”, escreveu outra pessoa. “Texto absurdo, principalmente pela imagem usada…que triste”, disse um internatuta sobre uma das fotos na postagem: o governador Jerônimo Rodrigues no púlpito com uma imagem de Mãe Bernadete ao fundo.
Execução
A líder da Comunidade Remanescente de Quilombo Pitanga de Palmares, em Simões Filho, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17). Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, foi morta a tiros por suspeitos armados.
No momento do crime, ela estava acompanhada dos netos. Os criminosos entraram no imóvel onde funcionava uma associação. Segundo testemunhas, bandidos armados invadiram o terreiro, amarraram pessoas e executaram a tiros a líder quilombola. Os autores dos disparos usavam capacetes quando invadiram a casa de Mãe Bernadete e cometeram o crime. 12 tiros teriam sido disparados contra a líder quilombola.
Em entrevista à TV Bahia, Wellington cobrou investigação pela morte da mãe e também do irmão, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, executado em 19 de setembro de 2017. “É um crime de mando. Eu não vou sujar minhas mãos de sangue. Eu vou deixar um recado para o ministro Flávio Dino e o governador Jerônimo Rodrigues, que estava com ela até a semana passada: está fácil de resolver esse crime. Eu peço por favor que se faça justiça. Que não aconteça o que aconteceu com meu irmão. É a chance de elucidar os dois casos”, disse.
Ele disse ainda que o local é monitorado por câmeras, que podem ajudar a elucidar o crime. “Se a justiça quiser resolver, ela resolve. Eu sei que sou o próximo alvo. Mas eu não tenho medo não, eu só nasci uma vez e vou morrer. Vou continuar lutando pelos meus direitos porque quilombola é resistência”, disse.
Wellington demonstrou indignação com a execução da mãe. “Você matou uma idosa, descarregou uma pistola no rosto de uma idosa. Você é ruim, um escroto e quem mandou matar é pior ainda. Quem mandou matar é um covarde”, desabafou.
O Quilombo Pitanga dos Palmares, liderado por Bernadete, é formado por cerca de 289 famílias e tem 854,2 hectares, reconhecidos em 2017 pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação – RTID do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já foi certificada pela Fundação Palmares, mas o processo de titulação do quilombo ainda não foi concluído.
Investigação
Equipes das polícias Militar, Civil e Técnica estão em diligências para investigar o assassinato da líder quilombola Mãe Bernadete. A informação foi divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), nesta sexta-feira (18).
Na nota, a SSP informa que “após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime”. A secretaria pede que pessoas que tenham pistas sobre os autores informem à polícia, em sigilio, através do telefone 181.
Comitivas do governo federal virão à Bahia para acompanhar as investigações da morte da líder quilombola.