Em depoimento à Polícia Federal, o atual secretário da Polícia Civil, Marcus Amim, disse ter sugerido ao delegado Giniton Lages cinco possíveis matadores de Marielle Franco e Anderson Gomes. Entre os nomes apontados estava o de Ronnie Lessa. As indicações teriam acontecido logo no início das investigações, em 2018, mas foram ignoradas por Lages, que, à época, passou seis meses investigando a pista de que Orlando Curicica seria o autor. O delegado é investigado pela PF por, supostamente, ter atrapalhado as investigações para garantir impunidade aos irmãos Brazão, apontados como mandantes dos crimes.
No depoimento, presente no inquérito da Polícia Federal contra Giniton Lages, o secretário cravou que “dada a expertise necessária à realização daquele tipo de disparo em movimento, apenas cinco pessoas no Rio de Janeiro poderiam ser os executores, quais sejam: Tenente João, Batoré, Major Ronald, Capitão Adriano e Ronnie Lessa”. Os nomes foram compartilhados com Giniton Lages na presença do delegado Luis Otávio Franco, que integrava a equipe dele, na sede da Chefia de Polícia Civil.
Quando soube das suspeitas sobre Curicica ser o autor da morte da vereadora, Amim conta ter procurado novamente Giniton. No encontro, garantiu ao delegado que o suspeito era “bronco, frouxo e não tinha capacidade para realizar tal execução”. E completou:
“Não é porque um macaco sabe andar de bicicleta que ele vai andar de moto”, ou seja, não é porque Curicica era matador que ele teria o requinte para realizar a execução da forma que se deu”.
Em 30 de julho, Giniton Lages prestou depoimento à PF e explicou não lembrar do encontro com Marcus Amim, nem dos nomes citados como suspeitos. No entanto, afirmou que a participação de Ronnie Lessa era uma possibilidade e que as provas só apareceram em outubro de 2018.
“Que não se recorda se conversou com o delegado Marcus Amim, pois diante do caso de grande repercussão, muita gente o procurava para falar sobre o caso; […] Que recebeu uma enormidade de informações de várias pessoas; Que não se recorda de tal encontro/conversa com o delegado ou não deu relevância; Que Ronnie Lessa era uma hipótese a ser trabalhada, mas que não possuíam dados concretos sobre ele; Que a denúncia anônima de outubro de 2018 trazia informações concretas sobre o local de partida dos executores”.
Em contrapartida, o delegado Luis Otávio afirmou, também em depoimento, se lembrar da conversa com Marcus Amim:
“Que se recorda do atual Secretário de Estado de Polícia Civil Marcus Amim, ainda em março/abril de 2018, ter lhe passado informações acerca de Ronnie Lessa como um dos possíveis executores do crime; Que Amim falou sobre Capitão Adriano, MAD, entre outros; Que Amim sempre lhe passou informações sobre os possíveis executores. Que se recorda que certa vez Amim lhe ligou e lhe chamou para uma conversa no prédio da Chefia da Polícia; Qu nesta ocasião Amim pediu para que Giniton comparecesse; Que reunidos, Amim indicou a linha na qual se atrelaria o mando a uma eventual atitude de Marielle no âmbito da Operação Cadeia Velha”, disse.
Quando se reportou à PF, Marcus Amim disse que Luís Otávio pediu para deixar a equipe de Giniton na Delegacia de Homicídios, quando “a investigação tinha como foco o Curicica, uma vez que era claro que se tratava de uma hipótese sem fundamento”. Já na versão de Giniton, a saída de Luís Otávio se deu por um convite para que ele se tornasse delegado em uma distrital.
Por sua vez, Luís Otávio confirma que a saída dele da equipe foi decisão de Giniton.
Do O GLOBO