Série governadores: Barbosa Lima Sobrinho

 

Capítulo 8

Advogado, jornalista, escritor, acadêmico, historiador, professor e político, o ex-governador Barbosa Lima Sobrinho foi uma das maiores figuras do século XX. Nascido no Recife, seguiu os passos de seu tio, o político Barbosa Lima, e se formou em Direito em 1917. Foi deputado Federal em várias ocasiões: de 1935 a 1937, de 1946 a 1948, e de 1959 a 1963.

Na condição de deputado federal, renunciou ao mandato em 1947 para disputar o Governo de Pernambuco, com a volta da democracia ao País garantida por Getúlio Vargas, sendo eleito para o mandato de 1948 a 1951, vencendo Neto Campelo. Assumiu o cargo de governador um ano após vencer uma intensa disputa judicial. Chegando ao poder, nomeou Miguel Arraes de Alencar para chefiar a Secretaria da Fazenda.

Durante seu mandato, priorizou a execução de obras públicas no setor de transportes, inaugurando diversas estradas. Também investiu significativamente na educação. Seu sucessor foi Agamenon Magalhães. Teve vida saudável e longeva, morrendo aos 103 anos de idade ainda escrevendo um artigo diário para o Jornal do Brasil. Era difícil definir se Barbosa Lima era mais político ou jornalista.

Na verdade, ele conseguiu conciliar as duas coisas, sendo redator de assuntos políticos por mais de 50 anos. No período de 1919 a 1921, contribuiu com crônicas para diversos periódicos, incluindo o Diario de Pernambuco, o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, a Gazeta de São Paulo e o Correio do Povo de Porto Alegre. Em 1921, se transferiu para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar no Jornal do Brasil, focando em matérias políticas.

Posteriormente, ascendeu à posição de redator-chefe da publicação. Desde 1927, passou a ter seus artigos publicados com assinatura. Em 1926, foi escolhido para liderar a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), posição que ocupou por 22 anos. Em 1937, tornou-se Membro da Academia Brasileira de Letras. Sua produção literária é vasta, com mais de 70 obras publicadas.

Em 1973, foi candidato a vice-presidente na chapa liderada por Ulysses Guimarães, do MDB, denominado ‘anticandidato’, num movimento para denunciar o estado de exceção constitucional vigente durante a ditadura militar. Nacionalista ferrenho e convicto, participou das Diretas Já, sendo escolhido, em nome do povo brasileiro, para assinar o pedido de impeachment do presidente Fernando Collor, fato que deu início a cassação do então presidente.

Barbosa Lima foi também presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool, de 1938 a 1945, ano em que tomou posse da cadeira de deputado federal por Pernambuco, na Assembleia Constituinte de 1946. Na Câmara dos Deputados, em 1946, foi membro da Comissão de Finanças e designado relator do orçamento do Ministério da Guerra. Foi ainda procurador da Prefeitura do então Distrito Federal e professor de ensino superior nos cursos de Ciências sociais e econômicas.

Brasil colônia, a visão de um nacionalista – Miguel Arraes dizia que nunca havia conhecido um político mais nacionalista do que Barbosa Lima Sobrinho. Na insistência de ver um Brasil livre e soberano, Barbosa afirmou, numa entrevista: “Os países que não lutam pela sua autonomia não têm grande futuro, porque passam a ser grandes colônias. Como é o Brasil ainda hoje. Ele luta para ver se deixa de ser colônia. Em 1822, ficamos independentes em relação a Portugal, mas passamos a ser, daí por diante, colônia da Inglaterra, e hoje somos colônia dos Estados Unidos, enquanto não chega a vez do Japão”. Nacionalista, defendeu a criação da Eletrobrás, foi contra os contratos de risco para a exploração de petróleo e condenou a venda de grandes empresas estatais no auge da privatização. Dizia, citando o caso do Japão, que “o capital se faz em casa”.

Posição firme e histórica contra reeleição – A partir de 1994, Barbosa Lima participou de manifestações contrárias às privatizações de empresas públicas, política iniciada no governo Collor e ampliada no governo Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, foi contrário à revisão constitucional que permitia a reeleição dos ocupantes de cargos executivos, por considerar prejudicial aos interesses do Brasil. O ex-governador também recebeu uma grande homenagem da escola de samba União da Ilha do Governador, sendo enredo do desfile de 1999.

Lenda eterna na gratidão nacional – De Villas-Boas Corrêa, que o conheceu em 1948, quando iniciava a carreira, Barbosas Lima mereceu as seguintes palavras num artigo: “Foi uma das maiores figuras do século que não pôde ver terminar. Mais de 50 anos de relações cordiais e espaçadas, a admiração crescente, a reverência da estima não cabe neste pequeno registro emocionado, um ramo de cravos depositado no caixão do grande brasileiro, do patriota insuperável, a lenda eterna na gratidão nacional”.

Jogador e presidente do Náutico – Na adolescência, Barbosa Lima foi remador e jogador do Náutico, time da sua preferência, que chegou a presidir. Quando completou 102, em 1999, mantinha a rotina diária de pedalar 400 vezes uma bicicleta ergométrica instalada em sua casa, no Rio de Janeiro. “Até os 60 anos jogava pelada com os meus filhos no quintal de casa, até que levei um tombo numa bola dividida e resolvi pendurar as chuteiras. Mas todos os dias ainda dou minhas pedaladas. O tal ócio com dignidade é prejudicial à saúde”, disse ele, numa entrevista à revista Bundas.

O mais antigo jornalista do mundo – Constitucionalista, Barbosa Lima condenou o movimento militar que depôs o presidente João Goulart. Democrata, lutou pelo fim das medidas arbitrárias instituídas a partir de 1064, como a censura à Imprensa e as eleições diretas. Com certeza, Barbosa foi o cidadão brasileiro que mais participou de episódios importantes da vida política do País. Assistiu, por exemplo, à passagem de 19 presidentes pelo poder e viveu um espaço de tempo que corresponde a mais de 20% de toda a história do Brasil. Figurou no final da década de 90 no Guinness World Records como o mais antigo jornalista do mundo em atividade, sendo autor de 70 livros.

CURTAS

NOS JORNAIS DE PE – Na imprensa pernambucana, Barbosa Lima colaborou no Diario de Pernambuco, no Jornal Pequeno e, principalmente, no Jornal do Recife, onde escreveu a crônica dos domingos, de outubro de 1919 a abril de 1921. Escreveu ainda na Revista Americana, Revista de Direito, Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, no Correio do Povo, de Porto Alegre, e na Gazeta, de São Paulo, além do JB.

DNA FAMILIAR E ESTUDOS – Barbosa Lima nasceu no Recife em 22 de janeiro de 1897, filho do tabelião Francisco da Cunha Lima e Joana de Jesus Cintra Barbosa. Ainda criança, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou o primário. De volta ao Recife, estudou no Colégio Salesiano e no Instituto Ginasial de Pernambuco, onde concluiu o segundo grau em 1911. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1917. Tinha a pretensão de obter, através de concurso, uma cátedra na Faculdade de Direito do Recife e virar professor. Mas o concurso foi cancelado para beneficiar um apadrinhado político e ele seguiu mesmo foi a carreira de jornalista. Publicou seu primeiro artigo aos 18 anos, no Diario de Pernambuco.

Por: Magno Martins

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