Série governadores: Carlos de Lima Cavalcanti

 

Capítulo 7

Carlos de Lima Cavalcanti foi deputado estadual, deputado federal e interventor de Pernambuco, nesta função entre os anos de 1930 e 1935. De 1935 a 1937, foi eleito num pleito indireto pela Assembleia Legislativa. Era considerado um usineiro reformista. Dividia seu tempo entre a política e a gestão da usina Pedrosa, de sua família. Foi também proprietário dos jornais recifenses Diário da Manhã e Jornal da Tarde.

Em 1930, participou dos acontecimentos revolucionários, junto com Juarez Távora, Muniz de Farias, Agildo Barata e outros. Seu envolvimento no meio dos militares era tão importante que foi convidado para ser o interventor revolucionário de Pernambuco. Empossado, nomeou uma comissão para estudar os problemas do Estado, formada por três correligionários – os engenheiros Alde Sampaio e João Cleofas, e o político Joaquim de Arruda Falcão.

Já em 1937, ao final da sua segunda passagem pelo Palácio do Campo das Princesas, com o golpe de estado promovido por Getúlio Vargas, foi destituído do cargo, mas aceitou o convite para ocupar uma embaixada no exterior, inicialmente na Colômbia, em seguida no México e finalmente em Cuba, onde permaneceu até 1945. Na eleição indireta para governador, derrotou o capitão João Alberto, herói da Coluna Prestes.

Em novembro do mesmo ano se deu o levante da Aliança Nacional Libertadora, quando os revolucionários ocuparam a Vila Militar de Socorro e avançaram até o Largo da Paz, em Afogados. Cavalcanti se encontrava na Europa e o governador interino era o professor Andrade Bezerra. Com o apoio da polícia, foi organizada a resistência que desbaratou os rebeldes e até secretários de Estado foram presos.

Criou-se uma atmosfera de terror. Logo, Carlos de Lima foi considerado suspeito e teve seu prestígio abalado. Na campanha à sucessão de Vargas, em 1937, ele apoiou a candidatura de José Américo de Almeida. Com o fim da ditadura, voltou ao Brasil. Em 2 de dezembro de 1945, foi eleito deputado Constituinte, tendo permanecido no cargo, em eleições sucessivas, até 1959. Após o golpe militar de 1964, integrou o Conselho da Caixa Econômica Federal.

Carlos de Lima Cavalcanti nasceu no engenho Caeté, em Amaraji, na Zona da Mata de Pernambuco, em 7 de junho de 1892. Iniciou seus estudos no Recife. Em 1910, ingressou na Faculdade de Direito do Recife. Logo se envolveu na luta política, apoiando o grupo que se opunha à oligarquia do governador Rosa e Silva em favor do general Dantas Barreto.

Mudou-se para São Paulo, onde concluiu o curso de Direito, em 1914, se filiando em seguida ao Partido Republicano Democrata (PRD). Em 1918, retornou para Pernambuco, e após a morte de seu pai, assumiu a direção da usina da família. Em 1922, elegeu-se deputado estadual. Entrou em dissidência com o partido a que pertencia e passou a conspirar com os revolucionários. Abrigou em sua usina oficiais que se encontravam na clandestinidade.

Assassinato de João Pessoa – Logo após ser derrotada nas eleições de 1929, quando lançou Getúlio Vargas à Presidência da República, a Aliança Liberal começou a organizar um grande levante no Brasil. Composta por intelectuais e oficiais das forças armadas, de classe média, além de alguns dissidentes das classes altas, essa frente pretendia derrubar o presidente Washington Luís e acabar com o poder dos velhos “coronéis”, que há décadas mandavam e desmandavam no País. Esse projeto ganhou força após a comoção nacional causada pelo assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba e candidato à vice-presidência pela Aliança, ocorrido no Recife, no dia 26 de julho de 1930. Dois meses depois os revoltosos saíram às ruas, com os militares à frente em todos os estados — menos em Pernambuco, onde o seu líder improvável não usava farda e, além disso, era um grande produtor de açúcar: Carlos de Lima Cavalcanti.

A política do café com leite e a revolução – O paulista Washington Luís rompeu um acordo, vigente desde o início do século, segundo o qual a Presidência da República seria ocupada alternadamente por um paulista e um mineiro – a chamada “política do café-com-leite”. Ele indicou seu conterrâneo Júlio Prestes como candidato à sucessão. E, por conta disso, Minas Gerais se uniu à Paraíba e ao Rio Grande do Sul em torno da candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas. Nasceu, então, a Aliança Liberal, cuja plataforma destacava a necessidade da criação de uma legislação trabalhista, entre outros avanços sociais. Sua filosofia, aliás, foi bem sintetizada pelo presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que implantou o voto secreto pela primeira vez no Brasil, em Belo Horizonte: “Façamos serenamente a revolução”, ele disse, “antes que o povo a faça pela violência”.

Recusa de Prestes – A campanha eleitoral foi relativamente calma para os padrões da época, com poucos mortos e feridos. Júlio Prestes obteve 1.091.709 votos contra 742.797 de Getúlio Vargas, com as tradicionais acusações de fraude de ambas as partes. Mas a Aliança recusou-se a acatar o resultado e passou a tramar o golpe. O começo não foi fácil. O capitão Luís Carlos Prestes, por exemplo, o legendário líder da coluna que percorrera o País de 1925 a 1927, invicta após dezenas de batalhas contra as tropas do governo, recusou um convite para ser o comandante militar do movimento. Para ele, que se tornara comunista, aquele projeto não atendia os anseios da classe operária.

Abaixo o levante! – Nomeado por Vargas como interventor de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti assumiu apoiando a organização do operariado e incentivando a mobilização popular. Em 1931, enfrentou e venceu um levante antirrevolucionário do 21º Batalhão de Caçadores, que se rebelou contra o seu governo, ocupando quartéis e delegacias e sacudindo o Recife por três dias. E no ano seguinte despachou seis mil homens para São Paulo – eles foram ajudar no combate ao movimento “constitucionalista” lá deflagrado contra o governo de Vargas.

Indicação de Agamenon e afastamento de Vargas – Em 1934, Carlos de Lima Cavalcanti indicou Agamenon Magalhães para o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, criado após a Revolução. Em 1935, começou a afastar-se de Vargas. Demitiu alguns membros de seu secretariado e quando Vargas tornou-se abertamente ditador, estabelecendo o “Estado Novo”, em 1937, foi imediatamente deposto, sendo substituído pelo seu antigo aliado Agamenon Magalhães. No ano seguinte, enfrentando dificuldades financeiras e sem ambiente político para permanecer em Pernambuco, Carlos aceitou o convite de Vargas para assumir a embaixada do Brasil na Colômbia. E em 1939 foi transferido para a embaixada do México, onde ficou até 1945, quando foi mandado para Cuba.

 

DNA FAMILIAR – Artur de Siqueira Cavalcanti, proprietário rural, e Elvira Clélia de Matos Lima, pais de Carlos de Lima Cavalcanti, descenderam de uma família que tinha figuras de projeção, como o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti; Pedro Ernesto Batista, que atuou como prefeito do Distrito Federal entre 1935 e 1936 do Distrito Federal, além de inventor. Outra figura de proa foi Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda e regente do Império de 1837 a 1840. Cursou o ensino fundamental e médio no Colégio Aires Gama, em Recife. Lá, teve colegas de turma famosos, como o político Gilberto Amado e o jornalista Assis Chateaubriand

Presidente do IAA – Com a redemocratização do Brasil, Carlos de Lima Cavalcanti se filiou à União Democrática Nacional (UDN), partido pelo qual se elegeu deputado à Assembleia Constituinte, em 1946, e deputado federal, em 1950. Em 1954, o presidente Café Filho o escolheu para comandar o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), e em 1956 foi eleito deputado federal, pela última vez. Morreu no Rio de Janeiro, em 1967, aos 75 anos.

 

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