Capítulo 10
Em 1986, quando Miguel Arraes convidou Carlos Wilson Campos para compor a sua chapa como candidato a vice, acabou fazendo um gol de placa: já no seu terceiro mandato de deputado federal, Cali, como era tratado carinhosamente, era uma quase unanimidade entre os partidos que se uniram em apoio a Arraes na chamada Frente Popular de Pernambuco.
Filho do ex-senador Wilson Campos, em Brasília, Cali já transitava fácil. De tão articulado, chegou a ser eleito primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, cargo correspondente a uma espécie de prefeito da Casa. Extremamente habilidoso, Cali teve papel fundamental na campanha de Arraes.
Uma campanha, diga-se de passagem, que ficou marcada na história de Pernambuco como uma das mais emocionantes e simbólicas do ponto de vista de envolvimento do eleitorado. De volta do exílio, esperado como a tábua de salvação das camadas pobres que não aceitaram sua deposição pelo golpe militar de 64, Miguel Arraes adentrou pela porta que saiu do Palácio das Princesas nos braços do povo.
Como vice-governador, ajudou a destravar as demandas do Governo do Estado em Brasília pelo livre trânsito que detinha. Após a renúncia de Arraes para disputar um mandato de deputado federal, assumiu o Governo de Pernambuco em abril de 1990, para um mandato-tampão de 11 meses. Apesar do exíguo tempo, Cali imprimiu uma marca própria, mudou secretários, concluiu obras deixadas por Arraes e saiu com imagem de bom gestor.
Sua primeira vitória foi o fim da greve de professores que já durava 29 dias. Priorizou a questão hídrica. Duplicou o sistema de Botafogo e deu início à construção da barragem de Pirapama para reduzir o grave problema de racionamento de água na Região Metropolitana. Abriu novas vias litorâneas, para facilitar o acesso às praias ligando Pernambuco a Alagoas. Na área de segurança, reduziu a criminalidade, graças ao desempenho do então secretário João Arraes, ex-vereador do Recife. Abriu também o Hospital Regional de Salgueiro, hemocentros, e ampliou os programas de irrigação no semiárido.
Um ano após encerrar o mandato-tampão, Cali assumiu em 1992 a Secretaria Nacional de Irrigação, a convite do então presidente Itamar Franco. Em 1994, foi eleito senador por Pernambuco pelo PSDB numa eleição consagradora, sendo eleito por uma espécie de candidato de terceira via, derrotando um dos candidatos apoiados por Arraes, com quem havia rompido.
Naquela eleição, Arraes escolheu Roberto Freire e Armando Monteiro Filho como candidatos ao Senado, para repetir a façanha de 86, quando puxou os dois senadores – Antônio Farias e Mansueto de Lavor. Só que Cali acabou tomando a vaga de Armando, frustrando as expectativas e planos de Arraes em ter, mais uma vez, dois representantes na Casa Alta.
Nas eleições de 1998, Carlos Wilson Campos foi candidato a governador de Pernambuco, mas sem sucesso, ficando em terceiro lugar, num pleito no qual Jarbas Vasconcelos foi eleito com uma frente superior a mais de 1 milhão de votos para Miguel Arraes. No ano 2000, tentou outra majoritária, desta feita a Prefeitura do Recife pelo PPS, mas também acabou em terceiro lugar, sendo eleito João Paulo pelo PT, que derrotou Roberto Magalhães, que disputava a reeleição.
Já nas eleições de 2002, Cali tentou a reeleição para o Senado, mas não conseguiu emplacar. Filia-se ao Partido dos Trabalhadores em 2003, no que foi visto como uma traição a FHC e seu partido, o PSDB. Já militante petista, foi presidente da Infraero no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas eleições de 2006, depois de um bom trabalho na Infraero, foi eleito deputado federal pelo PT. Assumiu o novo mandato parlamentar em março de 2007, mas não conseguiu concluir o mandato, vindo a falecer em 2009, vítima de câncer.
Cassação por quebra do decoro parlamentar – Como senador da República, Carlos Wilson teve destaque na mídia nacional e entre as suas iniciativas propôs emenda à Constituição Federal prevendo a suspensão do mandato do parlamentar que responde a processo por ferir o decoro parlamentar. Apresentou também emenda à proposta relativa à reforma da Previdência Social, dispensando a expedição de precatórios judiciais para pagamento de obrigações de pequeno valor pela Fazenda Pública Federal, Estadual e Municipal.
O legado nas mãos do neto, da filha e do irmão – Além de vir de uma família política, tendo o pai Wilson Campos como referência e inspiração, um irmão também na vida pública, o ex-deputado André Campos, hoje no Banco do Nordeste, Cali fez a infusão do seu DNA político para o neto Lula da Fonte, deputado federal, filho do também deputado federal Eduardo da Fonte e de Camila Campos. Assim como o avô, Lula foi o parlamentar mais jovem eleito na sua legislatura. Entre os filhos, seu legado está nas mãos da filha Marcela Campos, atualmente superintendente do Metrô do Recife.
Inocentado na CPI – Por onde passou, Carlos Wilson fez amigos, principalmente no Congresso Nacional, até virar alvo da CPI do Apagão Aéreo, em 2007. Na ocasião, o então parlamentar chegou a ser acusado de irregularidades na reforma de aeroportos controlados pela Infraero, estatal que presidiu no primeiro mandato do presidente Lula. As investigações, entretanto, concluíram pela sua inocência, evitando o seu indiciamento no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito. Ele fora acusado por fraude em licitações, improbidade administrativa e formação de quadrilha.
Anistia e aproximação com Tancredo – Em 1979, como deputado, ao analisar o projeto que extinguiu o bipartidarismo, Carlos Wilson manifestou apoio ao pluripartidarismo. No mesmo ano, contrariando a liderança de seu partido, foi um dos 15 parlamentares da Arena que votaram a favor da emenda Djalma Marinho ao projeto da Anistia, visando torná-la ampla, geral e irrestrita. Dentro das represálias tomadas pelo governo federal contra “dissidentes”, uma tia sua, que dirigia a Funabem em Pernambuco, foi exonerada. Em novembro, com o fim do bipartidarismo e a reformulação partidária, ingressou no Partido Popular (PP), onde aproximou-se de Tancredo Neves.
O carrasco do FEPA – Governador, Carlos Wilson tomou uma decisão que provocou a ira dos deputados estaduais e, por tabela, vereadores do Recife, que também eram beneficiários, ao extinguir o famigerado FEPA, uma “mamata” que os nobres parlamentares contavam para efeito de aposentadoria e de recebimento dos seus proventos proporcionalmente. Já como senador, foi autor do projeto que extinguiu o Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC), no âmbito da discussão da reforma da Previdência. Ainda como senador, presidiu a Comissão Especial de Obras Paralisadas, do Congresso Nacional, que investigou o número de obras federais incompletas nos Estados com desperdício do dinheiro público.
CURTAS
O GESTO E O DESMAIO – No dia 2 de fevereiro de 2009, Carlos Wilson fez um gesto histórico: mesmo doente e extremamente debilitado (passou quatro anos lutando contra um câncer), foi ao Congresso Nacional participar da eleição do novo presidente da Câmara. Mas ao final da sessão, desmaiou e não teve condições de votar em Michel Temer (PMDB).
O MAIS JOVEM – Vocacionado para a vida pública, Carlos Wilson foi eleito deputado federal pela Arena em 1974 com apenas 24 anos, na época o mais jovem parlamentar do País. A Arena foi o partido de sustentação do regime militar. Nele, integrou o chamado “Grupo Renovação”, que tentou apressar a democratização do País.