Série governadores: Mendonça Filho

 

Capítulo 18

Governador de mandato-tampão apenas por nove meses, de abril a dezembro de 2006, sucedendo a Jarbas Vasconcelos (MDB), que renunciou ao mandato para concorrer ao Senado, José Mendonça Bezerra Filho, o Mendonça Filho, pode ser considerado um gestor fora da linha. Foi tão prestigiado por Jarbas que se transformou, nos dois mandatos do emedebista, no seu principal executivo.

A ele, Jarbas delegou até o processo de privatização da Celpe, a Companhia de Eletricidade de Pernambuco, fundamental para contar com o dinheiro para cumprir a sua principal promessa de campanha: a duplicação da BR-232 do Recife a Caruaru, numa primeira etapa, e de Caruaru a São Caetano, numa segunda frente de trabalho, o que criou um eixo por excelência de desenvolvimento econômico no Estado.

Mendonça assumiu como vice-governador em janeiro de 1999, ao lado do governador Jarbas Vasconcelos. Além de concretizar a venda da Celpe, coordenou um grupo que atraiu investimentos da mais alta relevância para Pernambuco, como a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, a ampliação e consolidação do Porto de Suape e o programa Águas de Pernambuco. Também esteve à frente do projeto Estradas para o Desenvolvimento, que melhorou a malha rodoviária do Estado.

Atuou na implantação dos Centros de Ensino Experimental (Escolas em Tempo Integral) e do Porto Digital. Também foi secretário-executivo do Pacto 21, conselho formado por empresários, intelectuais e universidades para discutir projetos estruturadores para impulsionar o desenvolvimento econômico e social de Pernambuco. Já no período curto como governador, entre os projetos criados e executados por ele estão o Universidade Democrática, que garantiu gratuitamente o acesso de jovens da rede pública estadual à Universidade de Pernambuco, o Jovem Campeão, voltado para construção de quadras poliesportivas nas escolas da rede estadual.

Também fez o Ação Integrada pela Segurança, um programa envolvendo nove secretarias, que apresentou, em pouco tempo, uma razoável redução de homicídios nas áreas mais violentas do Recife, Olinda e Jaboatão. Ao mesmo tempo, abriu a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Já foi na sua gestão, com Jarbas em campanha para o Senado, que inaugurou o segundo trecho duplicado da BR-232, ligando Caruaru a São Caetano.

Assinou também a doação do prédio do antigo Bandepe para a sede do Porto Digital e fez a inauguração do Procape, o Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco, além de autorizar a doação do terreno para implantação da Hemobrás, no município de Goiana.

Aos 20 anos, eleito o deputado estadual mais jovem do Estado – Filho do ex-deputado federal José Mendonça Bezerra, falecido em 2011, e Estefânia Maria Nazaré de Moura Bezerra, Mendonça Filho nasceu no Recife, mas passou a infância e a adolescência entre a capital e Belo Jardim, terra natal de seus pais. Estudou na Escola Parque, considerada uma instituição de formação de esquerda. Formou-se em Administração de Empresas pela Universidade de Pernambuco e fez o curso de Gestão Pública pela Kennedy School, Escola de Governo da Universidade de Harvard (EUA). Começou a vida pública aos 20 anos filiando-se ao PFL, sendo eleito o deputado estadual mais novo nas eleições de 1986. Foi Deputado Constituinte e contribuiu para a elaboração da Constituição de Pernambuco, em 1989. Na Câmara dos Deputados, participou de várias comissões, destacando-se como presidente da Comissão Especial de Reforma Política e Eleitoral. Como deputado federal foi reconhecido pela Revista Veja e pelo DIAP como um dos parlamentares mais atuantes do País. Também foi autor do projeto que prorrogou o prazo dos benefícios da Lei de Informática até 2029 e coordenador do Comitê Pró-impeachment, que levou ao impeachment da então presidenta Dilma Rousseff.

Ministro da Educação, fez a reforma no ensino médio, da qual foi relator no atual mandato – Num dos momentos mais importantes da sua carreira política, Mendonça Filho assumiu o Ministério da Educação na gestão do ex-presidente Michel Temer. No cargo, promoveu um conjunto de mudanças estruturais visando dar um salto de qualidade na educação nos próximos anos, como a reforma do ensino médio e a homologação da primeira Base Nacional Comum Curricular da educação básica no País. Hoje, de volta ao Congresso, acabou escolhido relator da proposta de melhoria do ensino médio. Como ministro, fez o diagnóstico dos especialistas e os indicadores de ensino nacionais como IDEB e ANA, e internacionais como o PISA, que mostravam uma dura e cruel realidade do ensino. Os principais gargalos na educação que se deparou foram a alfabetização inadequada, a aprendizagem ruim dos jovens e as dificuldades na formação do professor. Mendonça lançou várias ações para enfrentar essa realidade, como a política nacional de alfabetização, a política nacional de escolas em tempo integral, a reforma do ensino médio e a política de formação de professores, que teve como carro chefe o programa residência pedagógica. Mas sua gestão foi marcada também por polêmicas, como a audiência concedida ao ex-ator pornô Alexandre Frota e a tentativa de censura à disciplina do professor Luis Felipe Miguel intitulada “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. Juntamente com o CFM, suspendeu a criação de curso de Medicina no Brasil por cinco anos, por mais que o Brasil tenha um dos menores índices mundiais de médicos para sua população – a taxa das 27 capitais é de 5,07 médicos por mil habitantes. No Interior do País, esse índice é 1,28, ou seja, 3,9 vezes menor, gerando preços exorbitantes em custo deste curso nas faculdades.

Derrota acachapante para Eduardo Campos em 2006 – Na condição de vice-governador de Jarbas por duas vezes, Mendonça Filho foi ungido como candidato da União por Pernambuco com apenas uma dissidência – a do então senador Sérgio Guerra, que sonhava em ser o escolhido. Numa campanha alicerçada na força e no prestígio de Jarbas, Mendonça atravessou todo o seu período do primeiro turno como favorito de ponta a ponta, com Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB) empatados em segundo lugar. Na última semana de campanha, as pesquisas apontavam os três principais candidatos embolados na disputa: Mendonça Filho com 35%, Humberto Costa, 22% e Eduardo Campos, 27%. O principal fato da campanha foi o indiciamento de Humberto Costa pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento no escândalo dos vampiros quando ministro da Saúde. O indiciamento, no entanto, não se refletiu em grandes perdas eleitorais. O principal reflexo da citação do petista no escândalo foi o aumento do seu índice de rejeição. No final de agosto, antes de ser alvo das denúncias, o ex-ministro tinha 10% de rejeição – subiu para 18% em setembro, de acordo com o instituto Vox Populi. No início da campanha, Campos e Costa disputavam o apoio político do presidente Lula – ambos foram ministros no governo petista (Costa da Saúde, e Campos da Ciência e Tecnologia) e alternaram-se no segundo lugar nas pesquisas. Na disputa em segundo turno, entretanto, Mendonça acabou derrotado. Eduardo Campos teve uma votação avassaladora – 1.233.024 votos de diferença sobre Mendonça. Ao final da apuração, Eduardo ficou com 65,36% dos votos válidos, contra 34,64% do pefelista, que havia atingido 39,32% no primeiro turno. Com isso, obteve uma vitória com uma votação superior à de Jarbas Vasconcelos, em 1998, que derrotou o avô de Eduardo, Miguel Arraes, com uma diferença de 1.065.512 votos. Também concorreram ao governo do Estado Clóvis Corrêa Filho (Prona), Edilson Silva (PSOL), Kátia Telles (PSTU), Luiz Vidal (PSDC), Oswaldo Helder de Oliveira Alves (PCO) e Rivaldo Soares (PSL). Na disputa para senador, o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ficou com a vaga, derrotando Luciano Siqueira (PC do B) e Jorge Gomes (PSB).

Três tentativas para governar Recife que não se concretizaram – Depois do insucesso nas urnas para o Governo de Pernambuco, Mendonça Filho tentou a Prefeitura do Recife na eleição municipal de 2008, obtendo o segundo lugar, perdendo para o petista João da Costa, apoiado pelo ex-prefeito João Paulo (PT). Voltou a ser candidato na eleição municipal de 2012, mas com um desempenho eleitoral mais frustrante do que a eleição anterior, ficando em quarto lugar, sendo eleito o socialista Geraldo Julio, apoiado por Eduardo Campos. Já nas eleições de 2018, após ter sido cotado como possível candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin para a Presidência da República, Mendonça foi um dos candidatos ao Senado pela coligação oposicionista. Após uma campanha acirrada, na qual  chegou a aparecer como um dos favoritos em pesquisas, ficou em terceiro lugar na disputa final, com 19,58%, sendo derrotado por Humberto Costa e Jarbas Vasconcelos, candidatos na chapa de Paulo Câmara. Nas eleições municipais de 2020, Mendonça Filho foi candidato a prefeito da capital, mais uma vez, pela coligação “Recife acima de tudo” (PSDB/PTB/PL/DEM), com Priscila Krause na vice. Ao final, recebeu 25,11% dos votos válidos no primeiro turno e, em razão de uma diferença inferior a 23 mil votos, não conseguiu ficar entre os dois mais votados, João Campos e Marília Arraes, que disputaram o segundo turno, sendo eleito o socialista.

Pai da reeleição e papel importante no impeachment de Dilma – Como autor da emenda à reeleição para presidente, governador e prefeito, aprovada em 1997, permitindo a Fernando Henrique Cardoso disputar de novo a Presidência da República, Mendonça Filho ganhou notabilidade, virou um político nacional, rompendo a fronteira do regionalismo. Mais na frente, em 2026, já na condição de líder da oposição no Congresso, coordenador do movimento pró-impeachment e um dos três integrantes do DEM na Comissão Especial responsável pelo relatório a favor da cassação de Dilma, Mendonça teve papel destacado na degola da ex-presidente. Tornou-se uma das principais pontes dos parlamentares com setores favoráveis ao impeachment, indo a São Paulo para encontros com empresários e gente de proa do mercado financeiro. Num momento em que os manifestantes chamaram os tucanos de “bundões”, como se viu com Aécio Neves e Geraldo Alckmin num protesto, Mendonça Filho, com seu estilo low profile, foi tratado como celebridade. Virou herói quando entrou com a ação que culminou na suspensão da posse do procurador Wellington Lima e Silva como ministro da Justiça. “Mendonça Filho, que tem agido como se espera de uma oposição em Brasília, convoca o povo para ir às ruas no dia 13 de março. É uma chance gigantesca de tirarmos essa quadrilha do poder”, postou o Movimento Brasil Livre nas redes sociais, às vésperas do protesto. Enquanto os tucanos saíram fugidos, Mendonça foi recebido com aplausos. “Não há espaço para político ficar em cima do muro. Vamos pressionar o Congresso Nacional e tirar o PT do poder”, gritou o deputado, que, deixando de lado o estilo comedido, ficou vermelho e soltou um “Fora, PT”. Foi imediatamente seguido pelo público. O processo de autorização do impeachment de Dilma passou na Câmara com o voto de 367 deputados a favor e 137 contra, e em sessão do Senado no dia 31 de agosto de 2016, com 61 votos favoráveis e 20 contrários. A principal acusação foi a edição de decretos suplementares sem autorização do Congresso, batizado de Pedaladas fiscais.

CURTAS

SECRETÁRIO DE AGRICULTURA, O PRIMEIRO CARGO – No Governo Joaquim Francisco, com apenas 24 anos, Mendonça Filho, já deputado estadual, foi convocado para assumir a Secretaria de Agricultura. Em sua gestão, criou o Programa Água Para Todos para construção de adutoras no Estado e o “Terra e Comida”, um programa de reforma agrária feito pelo Governo do Estado com a distribuição de 13.000 títulos de terra para agricultores da zona canavieira em troca de dívida de usineiros.

PAI E FILHO ELEITOS PARA A CÂMARA DOS DEPUTADOS – Ao final da sua passagem pela Secretaria de Agricultura, Mendonça Filho consegue uma façanha: ser eleito deputado federal em 1994, no mesmo pleito no qual o seu pai José Mendonça foi reeleito deputado federal, uma aposta que poucos acreditavam. A vitória de pai e filho consolidou, definitivamente, o Grupo Mendonça, exercendo forte influência na escolha de Mendonça Filho para vice de Jarbas Vasconcelos, em 1998. Na prole dos Mendonça, Mendonça Filho foi o segundo filho de uma família de seis irmãos. É casado com Taciana Vilaça Mendonça, filha do ex-ministro Marcos Vilaça, com quem tem três filhos, José, Ilanna e Vinícius.

Por: Magno Martins

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