Capítulo 20
Gaúcho de Jaguarão, o general Osvaldo Cordeiro de Farias foi eleito governador de Pernambuco pelo PSD em 1954, derrotando João Cleofas, que disputou pela UDN. Abertas as urnas, teve 239.315 votos, 53,9% dos votos válidos, enquanto Cleofas somou 204. 616, 46,09% dos votos válidos. Fez um governo voltado para o assistencialismo, com políticas que beneficiaram especialmente quem morava no Sertão, através da construção de açudes e estradas.
Mas antes de governar Pernambuco, Cordeiro de Farias chegou ao poder no Rio Grande do Sul como interventor federal, em 1938, exercendo o cargo por cinco anos. Cordeiro é filho de Joaquim Barbosa Cordeiro de Farias, militar transferido para o Rio Grande do Sul para trabalhar na pacificação da Revolução Federalista e que lá permaneceu por alguns anos, e de Corina Padilha Cordeiro de Farias.
Em 1906, com a transferência de seu pai para o Rio de Janeiro, foi matriculado no Colégio Militar, onde realizou todos seus estudos. Sentou praça aos 16 anos na 4a Companhia de Infantaria no Rio. Em 1917, ingressou na Escola Militar do Realengo, sendo, dois anos depois, declarado oficial de artilharia. Seria ainda promovido, em sua carreira militar, segundo-tenente (1920), primeiro-tenente (1921), capitão (1930), major (1931), tenente-coronel (1933), coronel (1939) e general-de-brigada (1942).
Cordeiro de Farias fez curso de observador aéreo na Escola de Aviação Militar, aperfeiçoamento de oficiais (1º lugar) na Escola de Armas, cursou a Escola Superior de Guerra e estagiou na Escola do Estado Maior do Exército Americano. Mais tarde, integrou-se, como General, à Força Expedicionária Brasileira e lutou na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim do conflito, ajudou a derrubar o Estado Novo e em 1949 assumiu a direção da Escola Superior de Guerra, sendo realocado para o Comando Militar do Nordeste. Filiado ao PSD, elegeu-se governador de Pernambuco e garantiu o quarto triunfo consecutivo do partido em disputas pelo Palácio do Campo das Princesas.
Renunciou ao mandato em 1958, um mês antes de assumir a presidência da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, cargo que exerceu durante dois anos. Como militar revolucionário, participou do Movimento Tenentista antes de comandar um dos destacamentos da Coluna Prestes. Com o fim do movimento exilou-se na Bolívia, mas retornou de forma clandestina ao Brasil em 1928 onde foi preso.
Absolvido em julgamento posterior, foi reintegrado ao Exército e participou da Revolução de 1930. Quando a Junta Militar de 1930 esteve no poder, trabalhou no gabinete do ministro da Guerra, Leite de Castro. Sob a presidência de Getúlio Vargas, assumiu a chefia de polícia em São Paulo e após deixar o cargo combateu a Revolução Constitucionalista de 1932. De volta à cidade do Rio de Janeiro, opôs-se à Aliança Nacional Libertadora.
O vice, Otávio Correia, foi eleito faltando um ano para Cordeiro encerrar sua missão – Em maio de 1957, a Assembleia Legislativa de Pernambuco realizou uma sessão especial destinada a criar o cargo de vice-governador e eleger seu ocupante, o qual seria empossado no mesmo dia. Presentes 61 deputados, o candidato Otávio Correia angariou cinquenta e dois votos contra seis de Miguel Arraes, um de José Mixto e um voto em branco. Paraibano de Cabaceiras, Otávio Correia, advogado pela Universidade Federal de Pernambuco, foi nomeado em 1930 prefeito de Vertente do Lério, no Agreste Setentrional. Após o fim da Era Vargas, foi eleito deputado estadual pelo PSD em 1947 e em seguida governador interino nos sete meses anteriores à posse de Barbosa Lima Sobrinho. Eleito deputado federal em 1950, licenciou-se para ser secretário de Justiça no governo Etelvino Lins e no pleito seguinte venceu a eleição para deputado estadual pelo PSD. Na disputa para senador, o candidato eleito com maior votação foi o advogado Jarbas Maranhão. Formado pela Universidade Federal de Pernambuco, Maranhão nasceu em Nazaré da Mata e foi oficial de gabinete do interventor Agamenon Magalhães. Depois, fundou e presidiu a seção pernambucana da Legião Brasileira de Assistência. Eleito deputado federal em 1945 e 1950, chegou a presidir o diretório estadual do PSD, legenda da qual saiu após integrar uma dissidência apesar de ter sido um dos fundadores da mesma. Depois de algum tempo, ingressou no PST e foi eleito para o Senado Federal.
Atuação destacada nas forças da Coluna Prestes – Em outubro de 1924, Cordeiro de Farias participou do levante tenentista deflagrado em Uruguaiana, liderado por Honório Lemes. No mês seguinte, derrotado pelas forças de Flores da Cunha, recuou com 30 homens em direção à fronteira com a Argentina, onde acabou por se exilar. Lá conheceu outros tenentes revolucionários, João Alberto e Antônio de Siqueira Campos. Juntos, se dirigem para o Rio de Janeiro, em seguida descendo ao Rio Grande do Sul, onde se juntaram aos demais contingentes rebeldes do Estado, reunidos sob a liderança de Luís Carlos Prestes e Miguel Costa. Os rebeldes gaúchos acabaram se retirando para o Estado do Paraná, onde se juntaram aos remanescentes do levante paulistano deflagrado no mês de julho. Da unificação desses dois grupos nasceu a Coluna Prestes, exército rebelde que, sob o comando do militar gaúcho que lhe deu o nome, promoveu, nos dois anos seguintes, uma guerra de movimento pelo interior do país contra as tropas fiéis ao governo federal. O movimento chegou a transpor as fronteiras do Paraguai, após voltar a adentrar o território brasileiro. Cordeiro de Farias teve atuação destacada na Coluna, comandando um dos quatro destacamentos que a compunham.
Preso na volta ao Brasil por erro de uma denúncia contra ele – Em fevereiro de 1927, já desgastados pela longa campanha e sem perspectivas de vitória, os líderes da Coluna Prestes, à frente Carlos Prestes, resolveram encerrar a fase da luta e abandonaram o território brasileiro, refugiando-se na Bolívia. No ano seguinte, Cordeiro retornou ao Brasil clandestinamente e deu prosseguimento às atividades conspiratórias, tendo sido, então, preso. Por um erro da denúncia seu processo não foi enviado à São Gabriel, onde havia servido, mas sim à Uruguaiana, que lutou com Honório Lemes, sem que houvesse nenhuma acusação contra ele. Foi, portanto, absolvido pelo Supremo Tribunal Militar. Regularizada sua situação, retornou ao Exército, ingressando no curso de engenharia do Instituto Geográfico Militar, sem deixar, contudo, de conspirar contra o governo.
Ativista do golpe militar que pôs fim à chamada República Velha – Em 1930, Cordeiro de Farias participou do golpe militar que extinguiu a República Velha. O movimento, conhecido como Revolução de 1930, depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse do presidente eleito, Júlio Prestes. Integrou, nessa ocasião, o comando da insurreição em Minas Gerais. Com a vitória do movimento e a posse do novo governo liderado por Getúlio Vargas, Cordeiro foi lotado no gabinete do ministro da Guerra, general José Fernandes Leite de Castro. Em maio de 1931, foi transferido para São Paulo, assumindo a chefia de polícia daquele Estado. Permaneceu no cargo até junho do ano seguinte, um mês antes da deflagração do movimento constitucionalista pelas forças políticas tradicionais de São Paulo, que exigiam a reconstitucionalização do País e a recuperação da autonomia estadual, com o afastamento dos tenentes que vinham exercendo influência na política paulista. Colaborou então no combate à insurreição e, no ano seguinte, voltou a ocupar a chefia de polícia do Estado. No Estado Novo, foi, ainda, chefe do Estado-Maior da 5ª Região Militar, sediada em Curitiba.
Como governador do Rio Grande do Sul, nacionalizou as escolas alemãs – Em 1935, de volta ao Rio de Janeiro, Cordeiro de Faria deu combate a Intentona Comunista, levante militar deflagrado por elementos de esquerda ligados à Aliança Nacional Libertadora, liderado por ele próprio e por Carlos Prestes. Em 1937, Cordeiro foi transferido para o Rio Grande do Sul, onde assumiu a chefia do Estado-maior da 3ª Região Militar, sediada em Porto Alegre, sob o comando do general Manuel de Cerqueira Daltro Filho. Participou, então, da campanha movida por Vargas para afastar o governador José Antônio Flores da Cunha, que acabou sendo substituído pelo comandante da 3ª Região Militar. Após a morte de Daltro Filho, Vargas nomeou Cordeiro de Farias como interventor federal no Rio Grande do Sul. Por estar no Rio de Janeiro, o cargo foi assumido interinamente por dois meses por Maurício Cardoso, tendo Cordeiro de Farias assumido em 4 de março de 1938. Em sua administração, devido às tensões da Segunda Guerra Mundial, determinou que todas as escolas alemãs do Estado se nacionalizassem.
CURTAS
NOME COTADO PARA PRESIDENTE – Em 1942, chegou ao generalato e em setembro do ano seguinte deixou a interventoria gaúcha para integrar-se na Força Expedicionária Brasileira (FEB). Em setembro de 1944, viajou para a Itália, onde participou da Campanha como comandante das unidades da
Artilharia Divisionária da FEB. A volta ao Brasil ocorreu em 1945, seguida de novas articulações políticas. Seu nome chegou, então, a ser cogitado como candidato a presidente da República. Em outubro daquele ano, participou de novo golpe militar, que desta feita afastou Vargas do poder, encerrando o Estado Novo.
EM FIM DE CARREIRA, ATUOU NO GRUPO JOÃO SANTOS – Participou também ativamente do Golpe Militar que, em 1964, depôs o presidente João Goulart. Novamente foi cogitado para presidente, o que não se concretizou. No governo do general Castelo Branco, assumiu o Ministério Extraordinário para a Coordenação dos Organismos Regionais, depois transformado em Ministério do Interior. Desempenhou esta função até junho de 1966, quando se retirou da vida pública. Assumiu, então, a direção executiva do grupo empresarial pernambucano João Santos. Alguns anos antes de falecer, contou sua versão dos fatos que participou para a cientista política Aspásia Camargo, da Fundação Getúlio Vargas, o que resultou no livro “Diálogo com Cordeiro de Farias: Meio Século de Combate”. A obra foi lançada pela editora Nova Fronteira em 1981 e reeditada pela Editora Biblioteca do Exército por ocasião do centenário do Marechal em 2001. Foi casado com Avany Cordeiro de Farias, com quem teve um filho, Osvaldo. Faleceu em 1981.