Sexo é bom em qualquer idade
Para Marta Hazin, psicóloga clínica com especialização em sexualidade humana, a terceira idade é, ao contrário do que se pode pensar, época propícia para a conquista de realizações, inclusive a sexual. “Muitas vezes, casais jovens têm dificuldade de encontro por conta da demanda e muitos compromissos, trabalho, preocupação com resultados. Quando vão para cama, não têm mais disponibilidade psíquica e corporal para se envolver. Os idosos têm esse privilégio e podem sim, lançar mão da fantasia. Uma vida sexual ativa e afetiva boa nesta fase de mais tempo e disponibilidade, é muito bem vinda. É hora de resgatar tudo o que não se viveu, inclusive no sexo”, convida.
Tirar fotos íntimas, experimentar novas possibilidades, divertir-se, lançar mão da fantasia são experiências vividas por um número cada vez maior de idosos, não apenas numa busca pelo tempo perdido, mas pelo que ainda há a realizar. “Um idoso de 76 anos me procurou porque tinha o desejo de ir a um motel com a esposa, de 74 anos. Educada com uma moral rígida, ela ficava muito constrangida. Conversei sobre como era importante de, naquela idade, o marido querer fazer isso com a única parceira. Uma das inseguranças era o desconhecido. Mostrei por fotos que o ambiente era discreto, que ela não ficaria exposta e eles iriam realizar um sonho. Depois, ele voltou com a expressão que mostrou o resultado. Ela sentiu: ‘consegui dar conta disso'”, lembra a psicóloga. O paciente, de nome não revelado por questão de ética profissional, usava Viagra e tinha vida sexual ativa. Já faleceu e nos últimos anos de vida não se refutou a pedir ajuda profissional para ter seus desejos realizados.
Vinte e um anos atrás, há apenas três anos de ingressar, oficialmente, na faixa etária da terceira idade, um outro homem quebrava tabus para dar início à sua vida sexual. O padre Reginaldo Veloso, havia acabado de ser afastado da paróquia do Morro da Conceição, em Casa Amarela, pela Arquidiocese de Olinda e Recife, quando optou pelo casamento. “Eu vivi como padre celibatário até os 57 anos de idade. Nesse embate com as autoridades eclesiásticas, tive uma experiência de grande solidariedade e proximidade com a comunidade e em especial com ela, que escolhi como minha futura esposa. Nos enamoramos e vivemos o matrimônio como têm direito todos os filhos de Deus”, relembra. O padre casado, marido de Edileuza e pai de João, um jovem de 20 anos, defende com naturalidade e como uma bênção, o cotidiano de uma vida sexual ativa: “A sexualidade faz parte da riqueza e da beleza da criação divina. Na primeira página da Bíblia está escrito que Deus criou o ser humano macho e fêmea e deu o destino de crescerem, se multiplicarem e tomarem conta do mundo”, aponta, acrescentando que o celibato como opção consciente, por sua vez, não contraria a liberdade cristã.
Aos 78 anos, Padre Reginaldo acredita que a vida sexual é e sempre será um aprendizado. “Por mais que se diga que todo mundo já sabe como e o que fazer, se a gente entende a sexualidade do ponto de vista de uma relação entre seres humanos, amor e respeito entre as pessoas, só se consegue fazer a partir da própria experiência. Posso dizer, com toda clareza, que viver a sexualidade como marido e mulher para mim, e acredito que para minha esposa, tem sido um aprendizado, graças a Deus, muito positivo, muito bonito, com muitos momentos de plena realização e felicidade, com todos os problemas que uma relação a dois acarreta”, aponta.
Para Veloso, o sexo na idade madura e à medida em que a relação também amadurece em todos os aspectos, se aprofunda, ganha qualidade, realiza, num contexto sempre mais exigente de amor e respeito. Neste sentido, ele acredita que casais, mesmo idosos, não deveriam viver sem sexo. “O casamento sem sexo é uma anomalia, uma perda lamentável para a qualidade da relação. Enquanto se vive, há condições de exercer plenamente essa sexualidade, desde que as pessoas se cuidem devidamente”, receita. Exemplos, ele tem na família. Um tio paterno ficou viúvo aos 77 anos. Casou-se novamente e teve mais quatro filhos. A caçula, nasceu quando o pai tinha 88 anos. O patriarca morreu aos 94 anos, deixando mais de 10 filhos. “É o sentido de encarar a vida matrimonial e sexual com um caminho possível de felicidade”, acredita Reginaldo.
A terapeuta Marta, no entanto, preocupa-se para que os exemplos não sejam vistos como padrão, fazendo com os que homens e também mulheres de idade próxima sintam-se frustrados em não atingi-lo. “Muitas vezes, essas pessoas estão vivendo a solidão, a perda do outro e não têm demanda de sexualidade. Não acho saudável a sociedade ditar como algo que tem que ter. Quem não está praticando se sente sem sucesso. Nesta fase da vida, sexo para muitas pessoas não é importante. Faço muito a analogia com a comida. Tem gente que tem muito apetite, uns gostam de experimentar coisas novas, outros preferem o trivial. Cada um tem seu ritmo”, pondera. Cuidadosa, ela pontua que não ter mais autonomia para fazer o que quer frustra o idoso. “Sou contra essa ditadura. Cada um dentro do seu ritmo e do seu interesse”, enfatiza.
Ela lembra que as pessoas que procuram e valorizam estão vivendo esse prazer sexual como algo orgânico, reflexo de uma vida mais saudável. Ela destaca que há pessoas de 70 anos correndo maratonas e de 60 na cadeira de balanço, enfatizando a escolha de cada um como filosofia de vida e expressão de saúde. “Há um envelhecimento orgânico real, mas os recursos estão aí para ajudarem a ter essa fonte de prazer que, às vezes, não é privilegiada nessa fase da vida, em que já se tem limitações para ter outros prazeres”, aponta. Marta defende sim e sempre a busca do prazer no sentido mais amplo da palavra. “Tem gente que encontra no voluntariado, na leitura, em ver um pôr do sol, fazer uma viagem mais longa. O que importa é se dedicar a algo prazeroso e que geralmente não se teve tempo de fazer antes. Se o sexo vier entre elas, por que não?”.
Ajuda – Os avanços da medicina, sem dúvida, têm uma forte participação no alcance do prazer sexual na terceira idade. Além do popular Viagra, outras drogas e técnicas têm devolvido não só a ereção, mas também o desejo. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) alerta, no entanto, para o perigo com a automedicação. Exames clínicos podem indicar riscos e contraindicações, como é no caso de pacientes com doenças cardiovasculares. Os testes também ajudam a diagnosticar a causa do problema, que pode estar ligada a doenças como diabetes e hipertensão.
Atualmente, o tratamento mais conhecido é o uso das pílulas facilitadoras de ereção, como Viagra, Levitra e Cialis. Elas atuam por meio da vaso dilatação, fazendo com que o corpo venoso do pênis se encha mais facilmente, melhorando a qualidade da rigidez peniana. Existe ainda a possibilidade da aplicação de prostaglandina injetável direto no pênis, que traz uma ereção de cerca de uma hora meia de duração. “O uso indeterminado da droga, no entanto, pode causar
uma ereção dolorosa de seis a oito horas. Ela pode ser usada com segurança, desde que haja interação e sob demanda”, pontua. Outra alternativa são as próteses penianas rígidas ou infláveis.
A reposição hormonal também é bastante utilizada, principalmente quando o homem é afetado pela andropausa, a chamada ‘menopausa dos homens’, que diminui o desejo sexual. “Quando a testosterona está baixa, a disposição para atividades é menor, diminui a disposição para o trabalho e também cognitiva. O uso melhora a libido e ajuda na ereção, mas não é a peça chave, é mais no sentido de aumentar o desejo. No entanto, tem que saber se há realmente essa necessidade. Nem todo idoso precisa. Ao contrário do que acontece com a mulher, nem todo homem entra na andropausa”, atesta o urologista.
O hormônio masculino pode ser injetado ou utilizado na forma de gel, aplicado diariamente no ombro e na axila. Na segunda forma, a vantagem é a possibilidade de interromper o uso imediatamente se houver necessidade. Mais uma vez, o uso indiscriminado representa perigo. “Se você tem esse hormônio normal e dá uma sobrecarga, tem o risco de alteração da função hepática, crescimento da próstata, aceleração do processo de câncer de próstata. Cerca de 70% da população masculina tem crescimento da próstata de forma benigna, mas esse crescimento pode ser acelerado se o paciente usar uma quantidade maior de testosterona que o organismo precisa. Por isso a necessidade de um médico no controle e um acompanhamento a cada 90 dias”, enfatiza.
Para Baracho, o tempo não o fez deixar de se sentir um boêmio, que ama a noite e a boa música, o prazer de estar com a família, os amigos. Divorciado, ele nega ter um namoro fixo e, bem humorado responde cantando outro frevo, Cavalo velho… Capim novo de Gildo Branco, que gravou em 1968. Eu arranjei uma garota de 18/ Mandei a de 40 embora/ Não dou satisfação ao povo/ Cavalo véio, capim novo, gargalha e de novo conserta: “Quando eu era rapazinho, eu era sem vergonha. Claro que não vou cair ao ridículo de namorar uma menina nova que poderia ser minha neta. Mas se aparecer uma mulher mais madura e eu sentir que ela tem algum interesse…”, deixa no ar.
Em 2013, quando comemorou 60 anos de carreira, o cantor de tantos gêneros, com frevo, música romântica, MPB e samba-canção, de inúmeras músicas e vários álbuns lançados garantiu: “Ainda me perguntam se eu canto. Respondo que canto até melhor do que há 50 anos”. Passados dois anos, a opinião foi reforçada: “Me acho mais cantor do que quando comecei. Só tinha mais voz para cantar. Isso sobrava. Hoje eu tenho praticamente a mesma voz, mas hoje eu sei cantar. Muita gente acha que ter o vozeirão é saber cantar e não é. Cantar é interpretar. Se não transmite emoção, se não canta com sentimento, interpretando a letra….Tem quem cante ódio, tristeza e amor na mesma tonalidade de voz, de sentimento. Não é nada disso”, ensina, mostrando que cantar e amar, também se aprende e melhora com o tempo.
Tantra – Mas engana-se quem pensa que a busca por viver a sexualidade de maneira prazerosa é apenas dos mais velhos. Dificuldades e bloqueios são vividos por pessoas de todas as idades e, quem não tem necessariamente queixas também procura por experiências mais profundas e até mesmo existenciais. Neste final de semana, de 16 a 18 de outubro, acontece em Boa Viagem, Recife, um workshop voltado para todas as idades. A Delerium para Casais ou Treinamento multiorgástico para casais ensina práticas tântricas, técnicas para alcançar novos patamares de prazer e novas possibilidades orgásticas. Promete também um espaço para o resgate aos diversos aspectos da relação, como intimidade, conexão sexual, romance, confiança e comunicação. “É uma bela experiência e um verdadeiro mergulho na intimidade e no relacionamento do casal”, garante a terapeuta tântrica Prem Aditi, facilitadora do curso, ao lado do marido, Deva Pranshu.
O Centro Metamorfose, responsável pelo curso, comemora mais de 10 mil pessoas atendidas com sucesso no resgate do seu poder pessoal, de experimentar a conexão com a energia do amor através por meio de seus workshops e promete: “Tudo se transforma!”. Segundo Aditi, o espaço atende a todas as faixas etárias, e recebe, principalmente, pessoas entre os 25 e os 70 anos. Na terceira idade, as mulheres nos procuram com queixas de falta de orgasmos (dificuldade em atingir o orgasmo e de ter relações sexuais prazerosas), enquanto os homens reclamam da dificuldade de manter a ereção durante mais tempo. “As terapias acontecem principalmente através das massagens tântricas e sessões de meditação, que ajudam a dissolver as couraças que as emoções ruins, as repressões e outras experiências criam no nosso corpo, tornando-o mais leve, limpando-o. Além disso, as meditações também trabalham a produção hormonal de diversas glândulas, gerando descargas de serotonina, oxitocina e outros hormônios ligados ao prazer e à alegria”, explica.
Formada em Medicina, Aditi defende que homens e mulheres podem continuar com uma vida sexual plena após os 50 anos. “Normalmente quando as pessoas entram na andropausa ou menopausa, devido principalmente às mudanças hormonais, assumem uma ideia negativa acreditando que a sua vida sexual está irremediavelmente comprometida. É claro que a resposta e o desejo sexual neste período sofrem mudanças, mas o prazer não desaparece e essas mudanças não impedem que possamos continuar desfrutando de uma via sexual intensa e plena”.
Ela acredita que o que realmente afeta as pessoas é o componente psicológico da nova fase. “As pessoas deixam a sexualidade de lado e isto contribui ainda mais para a falta de desejo. Também devido à diminuição da frequência sexual, os músculos dos órgãos sexuais entram numa fase e hipotonia (baixo tônus muscular) afetando a qualidade e quantidade dos orgasmos, criando um círculo vicioso, que afeta negativamente, chegando ao ponto de uma abstinência total”, alerta.O tantra e as terapias aplicadas no curso têm o objetivo de ajudar as pessoas a reencontrarem seu potencial orgástico e refazerem a vida sexual. “Por meio das massagens é trabalhada toda a musculatura genital, recuperando a tonicidade e permitindo que a resposta ao orgasmo seja recuperada e potencializada. A melhora na resposta sexual, o aumento nos orgasmos e a intensidade estimula a produção de hormônios o que melhora a nossa disposição e a resposta sexual, invertendo o círculo de deterioração”, explica, acrescentando que o evento trabalha também aspectos psicológicos.