Em 2014, uma imagem capturada pelo fotojornalista Joá Souza viralizou ao mostrar uma mulher realizando essa oferenda na praia do Rio Vermelho, um dos principais pontos de celebração da festa. O registro, arquivado na Agência A TARDE, gerou debates e questionamentos sobre o significado desse gesto.
Para entender melhor essa tradição e a simbologia por trás das oferendas a Iemanjá, o Portal MASSA! entrevistou Everton Monteiro (Ojí Kaundê), Axôgun do Ilê Asé D’ajunsun e filho do Babálorixá Jorlando de Oliveira Souza (Kiagussú).
Segundo Everton Monteiro, a tradição surgiu a partir da crença de que Iemanjá é mãe e tem um poder muito forte sobre a feminilidade, beleza e fertilidade. “É uma simpatia muito antiga”, garantiu.
“Normalmente, muitas mulheres pediam a Iemanjá para poder ter filhos, para ter beleza. Muitas mulheres também faziam essa simpatia para ter o encanto feminino, para que Iemanjá colocasse a beleza dela sobre elas”, contou ele.
Porém, o desejo mais pedido pelas devotas da Orixá era relacionado ao amor: “Essa tradição vem se quebrando, mas existia muito mesmo essa simpatia para que Iemanjá recebesse uma parte do seu pelo como forma de pagamento. Você poderia ir em um ano tentando conquistar o seu amado e depois [que conseguisse] retribuía”.
Outras oferendas para Iemanjá
Ao contrário da simpatia dos pelos, algumas tradições foram se firmando ao longo do tempo e poderão ser vistas no próximo domingo, 2, data em que a celebração para a Rainha das Águas completa 103 anos e terá como tema “Renascer com as Águas de Iemanjá”.
“Todos os filhos se reservam nesse dia. A gente pega um balaio, onde a gente consegue fazer uma quantidade de volume de oferendas por cada casa. A gente faz os fundamentos, onde a gente bota a comida para aquela santa, né? É feita a comida mais preciosa dela. A gente arruma com flores e a presenteia com tudo aquilo que a mulher usa para se embelezar, então tudo isso representa Iemanjá: o espelho, perfume, joias, as contas, conchas do mar, muitas flores… é um trabalho muito perfumado”, explicou o Ojí Kaundê.
A preocupação ambiental também passou a fazer parte do momento da profissão de fé e acabou trazendo algumas mudanças para os itens utilizados na celebração religiosa.
“Hoje a gente preserva muito o meio ambiente, porque o Candomblé é uma religião de conservação da natureza. Então, a gente hoje pede que quem for colocar perfume, que os fracos não vão no balaio para depois não poluir o mar, quem for colocar algum presente não use embalagem e a gente hoje já está usando muitos materiais que são biodegradáveis”, concluiu.