Medo excessivo de sair de casa, taquicardia, falta de ar e suadeira incontrolável nas mãos são alguns dos sintomas de quem sofre com a síndrome da cabana ou a síndrome do Fear of Going Out (FOGO) . Isso tudo se refere a um transtorno psicológico que passou a ser bastante discutido devido ao isolamento social — medida essencial no combate à pandemia do novo coronavírus.

Síndrome da cabana
Reprodução/Unsplash

Síndrome da cabana

“Só de pensar em ter que sair de casa para fazer qualquer coisa, a pessoa que está sofrendo com a síndrome da cabana já começa a desenvolver um quadro de ansiedade muito forte, achando que está correndo algum risco. E ela não precisa necessariamente sair: só o fato de ela pensar na hipótese já causa um nervosismo excessivo”, explica o psicólogo e escritor Alexander Bez.

Esse medo, antes associado apenas à síndrome da cabana, agora é vivido por muita gente que está respeitando o isolamento social. É o caso do analista de dados Luiz Mazei, de 32 anos. “Morro de medo de pegar essa doença. Tenho medo porque você pode pegá-la facilmente e ela se desenvolve de uma forma muito singular para cada pessoa . O fato de eu não ter o controle sobre nada disso me deixa muito amedrontado”, conta.

Sem sair de casa desde o dia 17 de março, nem mesmo para buscar pedidos na portaria do prédio, Mazei acredita que ainda não desenvolveu nenhum quadro de transtorno patológico. Apesar disso, o analista não descarta a possibilidade de sair com algum trauma por causa da pandemia.

“Eu consumo muita notícia sobre a Covid-19 , inclusive eu já levei isso para a minha terapeuta, porque eu procuro muita informação — umas cinco vezes por dia ou mais.”

Mas Mazei avalia que, ao mesmo tempo que as notícias o deixam com medo, elas também o fazem se sentir protegido. “Quero saber o que está acontecendo, se existe uma nova descoberta em relação à prevenção. Ao mesmo tempo que me gera medo, me dá segurança”, afirma.

Como a rotina do analista se reduz a trabalhar e fazer tudo o que precisa em casa, seu marido é quem ficou responsável por todas as atividades que exigem sair do apartamento. “Não saio para nada. Até digo que só vou sair quando os números de mortes chegarem perto de dez por dia. Enquanto isso não acontece, não vejo motivo.”

Ele diz que, às vezes, sente vontade de saber como estão as coisas na rua, mas logo pensa na doença e desiste. “Eu poderia sair de carro com meu marido para levar meu cachorro para tomar banho, por exemplo, mas aí eu penso que tem que pegar o elevador. Como já li algumas coisas sobre elevador, eu não vou. Não me sinto seguro”, completa.

Como melhorar isso?

Síndrome da cabana
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Síndrome da cabana

De acordo com a consultora e especialista em Gerenciamento da Raiva da National Anger Management Association (NAMA), de Nova York, Patrícia Santo, esse medo não é incomum.

“Uma pesquisa realizada na Inglaterra (pela agência Opinium) mostrou que mais de 60% dos britânicos se sentem desconfortáveis com a perspectiva de voltar a bares e restaurantes, usar transporte público ou ir a um grande encontro, como um evento esportivo.”

Por isso, ela sugere algumas alternativas que podem ajudar a minimizar os efeitos de uma possível síndrome da cabana:

  • Concentrar-se em estratégias positivas de enfrentamento, como exercícios, meditação, caminhar ao ar livre e tomar ar fresco — desde que respeitando o distanciamento físico e as demais medidas de prevençãoigiene recomendadas, como o uso de máscara;
  • Monitorar o seu diálogo interno e se questionar se seus pensamentos são úteis e se estão contribuindo para diminuir a ansiedade;
  • Se precisar sair, enquanto dirige, ouça música. Se precisar ir a um médico, por exemplo, leve uma distração, como um livro. Na condução, veja fotos arquivadas no seu celular para pensar em boas lembranças;
  • Nas reuniões virtuais, lembre da importância de compartilhar suas ideias. Converse com as pessoas. O distanciamento físico não precisa afastar você das pessoas;
  • Se você conhece alguém que está ansioso em ter que sair de casa, adicione humor e fale sobre si mesmo para acalmá-lo(a).

O psicólogo Alexandre Bez afirma, ainda, que, apesar do medo, a síndrome da cabana é completamente tratável. “É importante que a pessoa converse com um especialista e, dependendo da avaliação do profissional, passe a fazer uso de medicamentos que ajudem reduzir os sintomas.”