Sítio arqueológico descoberto no DF tem ferramentas de caça milenares

Área de 10 a 15 hectares apresenta fragmentos que vão permitir a datação correta e trazer elementos sobre a ocupação histórica na região

JP Rodrigues/Especial para o Metrópoles

A descoberta de um sítio arqueológico em Brasília tem deixado estudiosos, profissionais da área e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-DF) empolgados. Localizado na região do Paranoá, a 20 km do centro da capital, o espaço apresenta material rico em história, com a presença de fragmentos de carvão e ferramentas de caça pré-históricas. Ele é visto por arqueólogos e geólogos com raro potencial para a compreensão do horizonte caçador-coletor na região do Planalto Central.

A euforia acerca do carvão ocorre porque, a partir de análise em laboratório, é possível descobrir a datação precisa do sítio arqueológico. A fidelidade da demarcação é de até 60 anos ao período, que pode variar de 11 a 6,5 mil anos. O vestígio pode ser resultado de queimadas naturais ou fogueiras feitas pelo homem e, no caso desse sítio, foi encontrado a 40 cm de profundidade em uma das escavações feitas na área de 10 a 15 hectares.

Os fragmentos foram enviados para um laboratório nos Estados Unidos. Lá, eles passarão por análise radiométrica, que permitirá saber quando a fogueira foi feita e também o período das ferramentas encontradas.

Além do carvão, lascas e instrumentos produzidos a partir do quartzito, uma rocha metamórfica, foram coletados pelos arqueólogos. Tecnologicamente, esse tipo de ferramenta está associada aos grupos pré-históricos que habitavam o Planalto Central há milhares de anos, conhecidos como Tradição Itaparica. Nesse período histórico, o homem criava ferramentas a partir da pedra. O quartzito é considerado uma matéria-prima de qualidade e bastante utilizado para caçar animais e processar carnes e ossos.

A Tradição Itaparica foi encontrada na região entre o cerrado e a caatinga, principalmente nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso de Sul, Tocantins, Pará, Piauí e Sergipe. Esses povos são dos períodos Paleoíndio e Arcaico Inferior e ancestrais dos indígenas que habitavam o Brasil antes da chegada dos portugueses.

O trabalho no sítio arqueológico próximo ao Paranoá teve início em abril de 2017 e ainda encontra-se na fase inicial, nas etapas de curadoria e análise. Ele foi achado a partir de um trabalho de licenciamento ambiental feito para um condomínio residencial que será construído no terreno. De acordo com o Iphan, o licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente, previsto em portarias e normas.

Arqueólogo responsável pela descoberta, Edilson Teixeira de Souza conta que as sondagens no terreno foram feitas a cada 50m percorridos. Segundo ele, a presença de quartzito foi o que levou ao diagnóstico da existência do sítio na região. “Temos um material muito rico aqui. Faremos novas escavações e pode ser que encontremos mais (carvão) e outras ferramentas. É rara a descoberta de um sítio”, conta.

Veja onde ficam alguns dos sítios históricos e arqueológicos do Distrito Federal

 

Sítios arqueológicos
Atualmente, 30 dos 50 sítios arqueológicos encontrados em todo o DF foram catalogados. Eles estão incluídos no conjunto de mais de 26 mil que foram cadastrados pelo Iphan em todo o país. A capital é considerada uma “mina de ouro arqueológica” que esconde muitos segredos sobre a pré-história brasileira. “Temos um potencial enorme a explorar”, admite Carlos Madson Reis, superintendente do Iphan no DF.

Além das peças que remontam a milhares de anos atrás, o material encontrado por aqui inclui itens indígenas do período pré-colonial — antes da chegada dos portugueses ao Brasil, em 1.500 —, e dos anos pós-colonização, como vestígios de edificações. Mas o acervo pode ser muito maior.

A partir da descoberta do local, é possível estudar a história do Distrito Federal e promover estudos a partir desse sítio. Ele ficará na área de preservação ambiental e daremos diretrizes de como trabalhar o material encontrado

Carlos Madson Reis, superintendente do Iphan

As ferramentas coletadas no sítio serão catalogadas e levadas para o Museu de Geociências da Universidade de Brasília (UnB). Quando a pesquisa no local for encerrada, um relatório será produzido e encaminhado ao Iphan. A previsão é que o estudo seja concluído ainda em 2018 e uma exposição deverá ser montada no ano seguinte como forma de retorno do conhecimento e dos achados produzidos.

 

Os tipos de sítio existentes

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *