Sobradinho pode entrar em colapso e comprometer abastecimento de água no NE
O caos de Sobradinho já serviu para produzir uma pilha infindável de processos contra a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), estatal do Grupo Eletrobras que opera uma sequência de oito hidrelétricas erguidas no São Francisco. Mais de 300 ações judiciais chegaram à empresa, apresentadas por pessoas e empresas que se sentiram prejudicadas pela constante redução da vazão do reservatório.
José Carlos de Miranda Farias, presidente da Chesf, diz que “a situação é preocupante e merece toda a atenção”, mas afirma que a redução do volume de água liberado pelo reservatório de Sobradinho respeita um conjunto de decisões técnicas e determinações feitas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Além disso, segundo Miranda, a diminuição de vazão é o que ainda tem permitido o acesso à água na região.
“Hoje estamos com uma vazão de 900 metros cúbicos por segundo. Se não existissem os reservatórios e a possibilidade de controle hoje a vazão natural na região de Sobradinho seria de 300 metros cúbicos”, afirma Miranda.”Temos explicado para a população que se tratam de decisões necessárias para que não haja colapso. Se mantivéssemos as vazões normais, não haveria água hoje.”
Duas semanas atrás, a Agência Nacional de Águas (ANA) alterou a vazão da usina de Três Marias, que é o reservatório de cabeceira do Rio São Francisco e que fica antes de Sobradinho. Segundo maior da bacia, Três Marias teve seu volume de água ampliado de 300 m3/s para 500 m3/s, para tentar garantir que Sobradinho chegue em condições mínimas de operação em novembro, quando começa o período chuvoso.
São grandes os riscos, porém, de que Sobradinho zere seu reservatório e atinja o “volume morto”, como aconteceu com o Sistema Cantareira, em São Paulo. Essa possibilidade, inclusive, já chegou a ser alertada meses atrás pela Agência Nacional de Águas (ANA).
A Bacia do São Francisco abastece 97% da região Nordeste do País. Dentro dessa Bacia, Sobradinho e Três Marias respondem por 90% do volume de água, daí a relevância desses dois reservatórios para toda a região.
Em junho, Sobradinho teve sua vazão reduzida para 900 m3/s, quando a quantidade mínima que o reservatório tem autorização para operar, em condições normais, é de 1.300 m3/s. Mesmo em 2001, ano do racionamento de energia, a operação do reservatório chegou ao mínimo de 1.000 m3/s.
Trata-se da pior seca na região desde o início da série histórica, há 84 anos. Na última quinta-feira, o diretor do ONS, Hermes Chipp, afirmou que já está sendo analisada a possibilidade de nova redução na vazão do rio, caindo para 800 m?/s.
A preocupação hoje não está relacionada a risco de falta de energia, dado que há um conjunto de usinas térmicas em operação na região, além de conexões com o sistema interligado nacional, que garante o acesso à energia. O problema é garantir o abastecimento de água para a população.
Por meio de nota, a ANA informou que continua monitorando a bacia do Rio São Francisco “com a atenção que a situação requer, tendo em vista que o início da estação chuvosa pode atrasar”.
Segundo a agência, está prevista para a última semana de outubro uma reunião na sede da ANA com representantes de todos os setores usuários da bacia e representantes do poder público para avaliar a situação da Bacia. “Nesta reunião, poderão surgir sugestões de medidas, que serão avaliadas antes de serem implementadas.”