Por Claudemir Gomes
O saudoso comentarista, José Bezerra – O Príncipe de São Caetano – ressaltava, com certa frequência, que: “2×0 é Placar de Otário”. Apesar de respeitar, nunca defendi sua tese. Sigo o pensamento do mestre, Givanildo Oliveira que, do alto da experiência adquirida como atleta e técnico, nos assegura: “em decisão toda vantagem é válida”.
As vantagens do Sport neste confronto final com o Náutico, hoje a tarde, na Arena Pernambuco, quando se conhecerá o campeão pernambucano de 2024, são inquestionáveis. Os rubro-negros venceram o primeiro jogo com uma diferença de dois gols; entrarão em campo respaldados por um coro uníssono de mais de 45 mil torcedores gritando o cazá, cazá, enfim, tudo parece conspirar para a conquista do seus décimo-primeiro título estadual no Século XXI.
Para inflar ainda mais o ego dos leoninos, observamos que, nas 23 edições do Pernambucano disputadas neste século, Sport e Náutico mediram forças em seis finais, com o time da Ilha do Retiro somando cinco títulos contra um dos alvirrubros dos Aflitos.
O torcedor do Sport já desfila com faixa de campeão no peito. Nem dar ouvidos para o alerta sobre “Placar de Otário”. Falar do “imponderável” tão difundido pelo grande Nelson Rodrigues, soa com coisa do além. A turma do cazá, cazá quer mesmo é gréia. O futebol seria muito chato se não houvesse essa arriação saudável entre as torcidas.
Não existe prato mais insosso a ser oferecido do que uma final de campeonato entre times que não são rivais. Nas 23 edições do Estadual disputadas no Século XXI, tivemos as presenças do Central em duas finais; do Salgueiro em três, com o time do Sertão levantando o título em 2020, e do Retrô nos dois últimos anos.
Como diria o personagem, Odorico Paraguaçu, vivido pelo genial Paulo Gracindo, “não levo em conta o pratrasmente”, ou seja, me detenho apenas aos números dos campeonatos disputados no atual século, onde temos o Sport com a soma de dez títulos; Santa Cruz com seis; Náutico com seis e o Salgueiro com uma conquista.
O diferencial no novo tempo tem sido a violência. Quando era possível misturar cores e camisas, as disputas envolvendo Sport, Náutico e Santa Cruz eram mais atrativas, prazerosas, civilizadas. De repente, a violência invade a diversão mais popular do País. É como se estivéssemos num parque de diversão onde só existe casas dos horrores. A turma foi se especializando nisso, e a julgar pelo que foi feito na sede do Náutico, por torcedores do Sport, já existe especialistas em terrorismo.
Enquanto isso, os órgãos que respondem pela segurança usam fraldas.
A torcida do Náutico está tratando o novo técnico, Mazola Júnior, como o messias alvirrubro. O profissional passou 14 meses hibernando, foi acordado para vir treinar o Náutico, e estreia numa decisão contra o Sport, clube que já treinou.
Para conseguir o que parece impossível, e ser carregado nos braços como rei, Mazola terá que rezar na cartilha de Bezerra: “2×0 é Placar de Otário”.
Vamos ao jogo!