O Estado tem que pedir desculpas por ter assassinado
Dois anos após Brasília ser alvo de intento golpista histórico, a Justiça brasileira ainda não terminou de julgar os personagens daquele 8 de janeiro de 2023, tanto os que atuaram presencialmente depredando os prédios dos Três Poderes, quanto aqueles que financiaram a ação.
Para o ex-ministro Tarso Genro, o Brasil vive “um momento político extraordinariamente importante” ao pôr na cadeira dos réus os golpistas.
Ele defende que há uma chance ímpar para as Forças Armadas recuperarem o “prestígio democrático” ao se afastarem do julgamento e não prestarem solidariedade aos bolsonaristas que destruíram Brasília há dois anos.
Tarso Genro foi prefeito de Porto Alegre e também governador do Rio Grande do Sul. Ele atuou três vezes como ministro durante as gestões petistas.
“Essa oportunidade que as Forças Armadas estão levando a norma constitucional, relacionada com as tentativas de golpes que ocorreram e não dando solidariedade aos golpistas, é um momento político extraordinariamente importante para o país e também para a recuperação do prestígio democrático das nossas Forças Armadas”, , disse em entrevista ao Podcast de Fato, do Brasil de Fato Rio Grande do Sul. A conversa foi veiculada no programa Bem Viver desta quarta-feira (8).
No marco de dois anos dos atos golpistas, o governo organizou uma cerimônia para destacar a data e devolver restauradas as obras que foram depredadas naquele 8 de janeiro.
Até 26 de dezembro de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou 310 pessoas por participação nos ataques. Entre os crimes imputados aos golpistas estão associação criminosa, abolição violenta do Estado democrático de direito e danos ao patrimônio público. A maioria dos condenados foi presa no local dos ataques ou em acampamentos, que se desenrolaram por semanas em frente aos quartéis e com a anuência das Forças Armadas, como tem se revelado no inquérito relato pelo ministro da mais alta corte do país, Alexandre de Moraes.
Tarso Genro defende que o Brasil abriu mão algumas vezes de garantir memória e justiça com relação aos anos de ditadura militar.
Segundo ele, quando foi ministro da Justiça, encampou um movimento para discutir a anistia concedida a torturadores, mas Genro afirma que na época pessoas de dentro do próprio governo tentaram persuadi-lo de seguir em frente.
“Me disseram que não era hora de fazer aquilo”.
Diante disso, o ex-ministro argumenta que o Estado brasileiro segue em dívida com parte da população. “O Estado tem que pedir desculpas por ter assassinado, tem que pedir perdão por ter tratado os dissidentes daquela época, mesmo que fosse efetivamente criminosos perante o regime, porque o regime era ilegítimo, então é assim que deveria funcionar”.
Ele também critica a opinião de alguns setores da esquerda que defendem o fim das Forças Armadas ou uma política que limite o poder do setor. Para ele, é fundamental que o país tenha um Exército forte e atuante, porém dentro das funções condizentes com a realidade do país, no caso, a soberania do território nacional.
“Particularmente hoje, no mundo globalizado, nas agressões permanentes, clandestinas e abertas que os países recebem, do grande capital financeiro global, as Forças Armadas têm uma função importantíssima no controle do território, na proteção das nossas riquezas, na proteção da Amazônia, na proteção do nosso milhares de quilômetros de fronteiras e também do nosso mar territorial”.
“O Estado brasileiro tem que dar as funções próprias dos militares dentro do estado político brasileiro”, finaliza.