Temer teve ano de recuos para salvar governo
Folha de S.Paulo – Gustavo Uribe e Camila Mattoso – Marcos Corrêa/PR
No ano em que enfrentou denúncias de irregularidades e problemas de saúde, o presidente Michel Temer precisou rever diversas decisões para evitar embates públicos que pudessem enfraquecer ainda mais seu governo, aprovado por apenas 5% da população, segundo o Datafolha.
Sob pressão da opinião pública e da equipe presidencial, entre outras medidas ele revogou um decreto com impacto ambiental, não realizou reforma ministerial ampla como se esperava e desistiu da regra para afastamento de auxiliares investigados.
O próprio presidente defendeu, no ano passado, sua já notória atitude de recuar. “Quando houver equívoco, tem de rever a posição. Se o fizer, consertá-lo-ei”, disse.
REFORMA PARA INGLÊS VER
Em novembro, o presidente decidiu fazer uma reforma ministerial ampla, trocando os 17 auxiliares que serão candidatos em 2018. Com a insistência dos ministros para continuar no cargo até março, ele acabou não trocando nenhum. No período, Bruno Araújo e Antonio Imbassahy, do PSDB, e Ronaldo Nogueira, do PTB, deixaram o governo.
BIRUTA DE AEROPORTO
Sob o risco de ser afastado do cargo, caso não fosse barrada denúncia contra ele, o presidente havia desistido de participar do encontro do G20, na Alemanha. Com a acusação de que o governo estava paralisado, decidiu viajar para demonstrar normalidade. Houve agravamento da crise política e ele antecipou retorno ao Brasil.
TÔ DE MAL
Em queda de braço com Rodrigo Janot, o presidente havia afirmado a auxiliares diretos que indicaria um nome fora da lista tríplice para substituir o então procurador-geral da República. Com receio de que fosse acusado de interferir na Lava Jato, Temer desistiu e acabou nomeando Raquel Dodge, a segunda colocada.
DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Como uma medida moralizante, o presidente anunciou que afastaria temporariamente ministros que fossem denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República). Como ele próprio foi denunciado duas vezes posteriormente, desistiu da linha de corte.
MARCHA SOLDADO
Após protesto com episódios de vandalismo na Esplanada dos Ministérios, o presidente chegou a anunciar um decreto que autorizava a atuação das Forças Armadas nas ruas do Distrito Federal. No dia seguinte, no entanto, ele revogou a medida após ter recebido críticas do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O PODER DE GISELE
O presidente extinguiu reserva na região amazônica conhecida como Renca (Reserva Nacional do Cobre Associados). Sob críticas de entidades ambientais, ele publicou novo decreto, com mudanças. O recuo, contudo, não foi suficiente, o que o levou a rever a iniciativa. A modelo Gisele Bündchen foi uma das principais vozes contra o decreto e a primeira a ser informada pelo próprio presidente da desistência.
LIQUID PAPER
O presidente teve de fazer mudanças até mesmo em nomeação já publicada no “Diário Oficial”. A indicação feita pelo ministro Torquato Jardim (Justiça) para a Superintendência do Cade caiu em 15 dias. No meio do feriado de 7 de setembro, nova publicação anunciou a troca do escolhido por um nome ligado ao PP.
SER OU NÃO SER
O presidente havia decidido fazer uma posse conjunta dos ministros Alexandre Baldy (Cidades) e Carlos Marun (Governo). A informação chegou a ser publicada na rede social oficial do Planalto. O episódio, contudo, irritou o PSDB, o que fez o presidente desistir e esperar o pedido de demissão de Antonio Imbassahy para dar posse a Marun
ARREMETENDO EM VOO
O empresário Joesley Batista, da JBS, afirmou à Procuradoria que o presidente havia viajado em seu jato particular quando ele era vice-presidente, o que foi negado por Temer. No dia seguinte, no entanto, o presidente mudou a versão e reconheceu que utilizou a aeronave.
MUDANÇA DE RUMO
Com dificuldades de conseguir apoio, o presidente chegou a jogar a toalha sobre a aprovação da reforma previdenciária. Com uma forte reação negativa do mercado financeiro, Temer recuou e ressaltou que “jamais desistirá” da proposta.
LEI ÁUREA A SALVO
Em um agrado à bancada ruralista, o presidente editou portaria que flexibilizava a fiscalização de condições de trabalho análogas à escravidão. Sob críticas, pediu para que o Ministério do Trabalho alterasse a portaria, que foi republicada nesta sexta (29), com regras mais duras.