Temer, um homem “grato”

G1 – Andréia Sadi

Entra ministro, sai ministro e a novela é sempre a mesma em Brasília: as especulações sobre os substitutos.

No caso do governo do presidente Michel Temer, um aliado ironizou nesta quarta-feira que não se trata de uma novela, mas de um filme de terror.

Num momento em que o governo tenta virar a página de escândalos envolvendo aliados e o próprio presidente, o Palácio do Planalto reforça a imagem de que está alheio à realidade na escolha de novos ministros.

Até alguns dos aliados mais próximos de Temer, acostumados à “coragem” do presidente em enfrentar o desgaste com a opinião pública, se surpreenderam com a nomeação de Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho.

Cristiane é citada em delação da Odebrecht, além de filha de um personagem símbolo de outro escândalo, o mensalão do PT: Roberto Jefferson.

O próprio presidente mudou de ideia sobre a deputada. No ano passado, ela foi pessoalmente ao Palácio do Planalto com o pai para tentar comandar o Ministério da Cultura.

Na ocasião, Temer ouviu assessores, que o desaconselharam a nomeá-la. Motivo: temiam exatamente o desgaste ao governo, ao nomear a filha de Roberto Jefferson para o ministério.

Mas quem conhece as regras do jogo do Planalto sob o comando do PMDB afirma que Temer premia quem lhe é leal.

“De lá para cá, Jefferson deu mais do que uma demonstração de que é fiel ao presidente. E Temer é um presidente grato aos aliados”, diz um de seus principais interlocutores.

No caso do PTB, Jefferson foi “Temer Futebol Clube” nos piores momentos do governo.

No fim de 2017, foi ele o primeiro dos aliados a anunciar que fecharia questão pela reforma da Previdência.

E vestiu a camisa do governo ao propor que os partidos da base firmassem um “pacto” para não aceitar, durante a janela partidária, deputados que fossem infieis na votação da reforma.

Temer nunca esqueceu. E pagou a fatura nesta quarta-feira (3), ao esquecer o próprio veto anterior a Cristiane.

Outro que levou ministério por serviços prestados foi o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), da tropa de choque do governo durante a votação das duas denúncias na Câmara.

Após a atuação comparada à de um advogado de defesa de Temer, o presidente o alçou a ministro da Secretaria de Governo – na vaga de outro político a quem Temer deve gratidão.

Foi exatamente por essa dívida, afirmam aliados, que o presidente demorou a demitir Antonio Imbassahy, do PSDB.

Temer diz aos amigos que, quando mais precisou, Imbassahy esteve ao seu lado. E que se sentia constrangido em demitir o amigo. Esperou o tempo de Imbassahy, que encaminhou uma carta de demissão ao presidente em dezembro.

Mas o campeão da gratidão de Temer é o ex-presidente José Sarney. Presença garantida nos Palácios do Jaburu e do Planalto desde o início da crise política do presidente Michel Temer, em 2017, Sarney dá suporte a Temer.

Em troca, foi ouvido quando reclamou da perda de cargos no setor elétrico com a proposta da privatização da Eletrobras, quando defendeu o nome do novo diretor-geral da Polícia Federal para o cargo e quando vetou a primeira escolha do PTB para o Ministério do Trabalho.

A quem pergunta o motivo da deferência, Temer responde apenas que é “grato” a Sarney.

Um frequentador do Jaburu tem outra avaliação. Ao ouvir do blog a explicação de que, nos corredores do Palácio do Planalto, a “coragem” de Temer é atribuída à sua “gratidão” aos aliados em momentos difíceis, este diz: “O governo passa a impressão de que, após as denúncias, adotou o mantra daquele deputado que o PTB disse que queria indicar: está ‘se lixando’ para a opinião pública.”

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