O mundo parece ter uma nova obsessão.
Num flashback aos anos 90, o documentário da ESPN e da Netflix The Last Dance conta a história do Chicago Bulls e sua estrela Michael Jordan na busca pelo sexto título da NBA na temporada 1997-98, com imagens inéditas.
Ele supostamente ultrapassou a série Tiger King como o documentário mais visto do mundo.
A obsessão pode ser em parte sintomática da triste ausência de esportes reais em nossas vidas agora.
Mas provavelmente também tem algo a ver com o fato de que esta série oferece uma visão fascinante de uma das maiores equipes esportivas de elite do mundo e, na figura de Jordan, um dos atletas mais emblemáticos.
Aqui estão apenas algumas coisas que aprendemos.
Jordan teve que dar duro
Seis títulos da NBA, All-Star 14 vezes, MVP da NBA cinco vezes (ambos são premiações por desempenho no time), medalhista de ouro olímpico duas vezes, criador da linha de tênis Air Jordan e do filme Space Jam.
Conhecemos Jordan agora como o rei do basquete, mas ele teve que trabalhar para isso.
No início, ele não era nem o melhor jogador de sua família quando criança – na infância competia com seu irmão Larry. Foi também a rigidez de seu pai que o motivou a trabalhar duro.
“Se você quiser fazer o Michael dar seu melhor por alguma coisa, diga que ele não pode fazer algo”, diz o pai, James.
Na Universidade da Carolina do Norte, ele não fez parte da equipe da faculdade em seu segundo ano, mas isso só o fez buscar mais. O ex-assistente de técnico da Universidade da Carolina do Norte, Roy Williams, diz que Jordan disse a ele: “Eu vou lhe mostrar – ninguém nunca vai se esforçar tanto quanto eu”.
Uma história de sua segunda temporada no Bulls ilustra sua ética de trabalho. Depois de ser nomeado Novato do Ano da NBA pela temporada 1984-85, Jordan quebrou o pé. Frustrado por ter sido deixado de lado, ele conseguiu voltar para a faculdade e lá, sem o conhecimento da gerência da equipe, começou a praticar sozinho.
“Quando voltei ao Bulls, meus músculos da panturrilha na perna machucada estavam mais fortes do que os músculos da perna não lesionada”, diz ele.
O médico da equipe disse a ele que ele tinha 10% de chance de encerrar ali sua carreira se jogasse, mas Jordan pediu tanto que, eventualmente, a administração permitiu que ele jogasse por sete minutos por jogo, nos quais ele arrastava uma equipe bastante medíocre até que ela chegou aos play-offs.
Em 1991, finalmente venceu seu inimigo, o Detroit Pistons, e levou o campeonato da NBA naquele ano contra o LA Lakers, de Johnson.
Johnson diz que Jordan “me abraçou e começou a chorar”.
O contrato de Scottie Pippen
Scottie Pippen era o melhor número dois do mundo no basquete, um gigante do jogo e orgulhoso dono de uma voz de barítono extremamente suave.
“Sempre que as pessoas falam Michael Jordan, também devem falar do Pippen”, diz Jordan. “Eu o considero meu melhor companheiro de equipe de todos os tempos.”
Uma subtrama da série é como ele foi maltradado em seu contrato, em comparação com outros jogadores.
No episódio dois, ficamos sabendo que, durante a temporada 1997-98, ele foi classificado em segundo lugar no Bulls em pontuações, rebotes e minutos jogados e primeiro em assistências, mas estava apenas em sexto em termos de salário.
Ele também era o 122º na lista de salários da NBA na época.
Vindo de uma família pobre de 12 filhos de Hamburgo, no Estado do Arkansas, ele diz que assinou um contrato de longo prazo de US $ 18 milhões em 1991 por segurança.
“Eu senti que não podia me dar ao luxo de não conseguir um contrato”, diz ele. “Eu precisava ter certeza de que as pessoas na minha família seriam atendidas”.
Inevitavelmente, isso levou a um pouco de conflito em 1997-98 com o então gerente geral do Bulls, Jerry Krause, quando Pippen fez uma cirurgia e disse que nunca mais jogaria no Bulls. No final das contas, ele voltou.
Às vezes, Dennis Rodman só precisa de umas férias
Você deve lembrar de Dennis Rodman mais recentemente por seu trabalho com, sim, a Coreia do Norte.
Nos anos 90, ele era o ‘bad boy’ do basquete, famoso por seus penteados coloridos, roupas malucas e relacionamento com Madonna, além de suas habilidades de recuperação na quadra.
E, como aprendemos em The Last Dance, às vezes ele só precisava de umas férias. Provavelmente também é melhor ter um plano de contingência porque ele pode não voltar quando você pedir.
Há uma parte incrível do episódio três, em que Rodman pede férias, no meio da temporada. Pippen esteve fora por um pedaço da temporada e Rodman foi preencher a vaga.
Jordan diz: “Enquanto Scottie estava fora, Dennis fez tudo certinho, até o ponto em que começou a ficar louco, então, quando Scottie voltou, Dennis quis tirar férias”.
O técnico Phil Jackson autoriza um descanso de 48 horas. Em Las Vegas. Jordan não leva fé.
“Phil, você deixou esse cara sair de férias, não vamos vê-lo de novo; você o largou em Las Vegas, definitivamente não o veremos mais”, diz ele.
E de fato ele não voltou em 48 horas.
“Ele tinha necessidade de escapar, gostava de sair, gostava de ir a boates. Não parava”, diz Carmen Electra, sua namorada na época.
Seus ex-companheiros de equipe e treinador parecem concordar que, para tirar o melhor proveito de Rodman, você tinha que deixar ele livre.
Como o ex-técnico Chuck Daly diz, “você não põe uma sela num Mustang (tipo de cavalo selvagem)”.
Rodman, campeão por cinco vezes, certamente sabia de sua importância para o Bulls: “Eu amo Michael Jordan até a morte. Eu amo Scottie Pippen, todos esses caras. Mas eles realmente não fazem as coisas que eu faço”.
Ensinamentos do treinador Phil Jackson
O técnico Phil Jackson, que conduziu o Bulls por todos esses sucessos, é, como Rodman, um pouco independente. Ele inclusive escreveu um livro sobre ser um rebelde.
Maverick (dissidente ou rebelde, em inglês), livro de Jackson e Charles Rosen, lançado em 1975, descreve, entre outras coisas, a experiência de um jovem Jackson ao tomar ácido e pensar que era um leão, “rugindo pela praia em Los Angeles”.
Ele integra técnicas Zen budistas e história dos americanos nativos no treinamento.
Jackson enxerga Rodman como um “Heyoka” ou “pessoa que anda para trás”, descrito na cultura americana nativa como alguém que se move e reage de maneira oposta às pessoas ao seu redor.