Thiago Brennand deve R$ 350 mil a clube de tiro por armazenamento de armas

Por Mateus Araújo e Juliana Sayuri, do TAB — Herdeiro de uma das famílias mais ricas de Pernambuco, Thiago Brennand, preso em abril sob acusações de estupro e lesão corporal, vivia uma vida de viagens e luxo. Só não gostava de pagar suas dívidas.

O TAB teve acesso a mais de 7.000 páginas de 12 processos judiciais em que Brennand é réu, contendo depoimentos, boletins de ocorrência e inquéritos.

Há registros de aluguéis atrasados e móveis que não foram pagos, além de uma dívida de R$ 350 mil com o clube de tiro onde armazenava suas armas.

Procurada pela reportagem, a defesa de Brennand diz que não vê interesse público no assunto, “razão pela qual não irá se manifestar”.

Thiago Brennand na praia.

Armas, motorista e tatuagens

Antes de ser preso, Brennand deixou suas armas no clube de tiro Atibaia Shooting Academy, em Atibaia (SP). À polícia, a responsável contou que o herdeiro devia ao clube cerca de R$ 350 mil, referente ao armazenamento.

Depois de tentar contato com ele para discutir o destino das armas, decidiu ficar com 40 delas (eram 67 registradas), para quitar a dívida.

Segundo um dos inquéritos, Brennand também teria deixado de pagar direitos trabalhistas a um motorista que lhe atendeu por cerca de 14 anos, sem CLT, até junho de 2021.

No Brasil, recebia cerca de R$ 3.000 por mês, contou ao TAB; durante viagens no exterior junto a Brennand, o salário subia para R$ 7.000. Ele diz que vai levar o caso à Justiça.

Brennand devia ainda ao menos R$ 15 mil a um tatuador. Toda vez que era “convocado” para ir à casa de Porto Feliz, recebia uma diária de cerca de R$ 3.000, relatou à reportagem. O profissional não quis cobrá-lo na Justiça pois “não gosta de briga”.

“Gente rica não gosta de ser cobrada. Ele [Brennand] sabia que tinha que pagar, mas tinha que ser no tempo dele.”

O milionário também é investigado por adquirir obras de arte sem pagar por elas, em outro calote de R$ 350 mil. O episódio ocorreu entre 2020 e 2022 e também envolve ameaças ao galerista. A Secretaria de Segurança Pública informou ao TAB que o caso da galeria está sendo investigado.

Não pagou aluguel e ainda levou a lavadora embora

Dez anos atrás, Brennand usou uma de suas empresas, a TFV Produções, como fiadora para alugar um apartamento de R$ 19 mil mensais no Panamby, na região do Morumbi, zona sul de São Paulo.

Num e-mail à imobiliária, o empresário se queixou de precisar incluir um fiador no contrato: “Esse negócio está complicado demais. Parece locação comum para qualquer pessoa.”

Pegou as chaves em janeiro de 2013. Ficou dois meses e as despesas se acumularam. A administradora, de Alphaville, entrou com uma ação de despejo, além de cobrança de R$ 149,8 mil pelas contas e R$ 97,9 mil por danos materiais. A ação detalha os danos ao imóvel:

“O réu grafitou paredes e teto de dois quartos (…); danificou a pintura das esquadrias; furou e inseriu pregos e parafusos (…) para colocação de obras de arte”.

Brennand também teria levado consigo uma lavadora Brastemp e uma secadora Electrolux. A defesa alegou que ele não assinou nenhum laudo de vistoria que citasse os eletrodomésticos. Também argumentou que Brennand recebeu as chaves antes da assinatura do contrato, logo não precisaria pagar multa ou encargos.

Em 2019, o herdeiro foi condenado a pagar as contas pendentes e indenizar a administradora em R$ 43 mil. Atualmente tramita um recurso do caso no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Brennand levou eletrodomésticos, mas a defesa contestou, resultando em uma condenação de R$ 43 mil em 2019, com recurso no STJ.
Brennand levou eletrodomésticos, mas a defesa contestou, resultando em uma condenação de R$ 43 mil em 2019, com recurso no STJ.

“Fatura” de calote em loja de móveis só chegou na cadeia

Em abril de 2022, Brennand comprou a casa de Porto Feliz por R$ 9,8 milhões, em nome de uma de suas empresas, a Pozornaya Strana (em russo, quer dizer “país vergonhoso”).

Para essa mansão, Brennand comprou um toldo branco motorizado (R$ 35,2 mil), um guarda-sol de área externa (R$ 10,7 mil), e uma capa para jacuzzi (R$ 3.579) na Casa & Espaço, uma loja de móveis de Sorocaba cujo slogan é “projetando sonhos”.

Parcelou em duas vezes: a primeira (R$ 20 mil) foi paga em 27 de fevereiro de 2021; a segunda (R$ 29,5 mil), com vencimento em 25 de maio de 2021, nunca foi quitada. Iniciou-se aí uma “via crúcis”, nas palavras dos advogados da loja, com diversas tentativas de contato por e-mail, telefone e WhatsApp.

Brennand só lembrou da loja em setembro: por Whatsapp, pediu uma visita da equipe para desativar o sensor do toldo e fazer um ajuste na capa da jacuzzi.

A Casa & Espaço aceitou, com a condição de que Brennand pagasse o que devia. O herdeiro então propôs pagar em três vezes: duas de R$ 10 mil e uma de R$ 9.522. “Quando mandamos o link de pagamento, acabou não o efetuando”, conta ao TAB o advogado Fernando Costa Calil, representante da loja.

Aí, foram para a Justiça. Procurado inúmeras vezes pelo oficial para receber pessoalmente as intimações, Brennand nunca estava em casa.

Com aparente desespero nos autos, o advogado da loja pediu que as notificações fossem feitas via WhatsApp, alegando que não era a primeira vez que a Justiça tinha dificuldade de localizá-lo.

Brennand foi condenado a pagar R$ 31,8 mil, com juros de 1% ao mês, mais as custas do processo. Como não pagou, a Justiça mandou bloquear R$ 47,5 mil de suas contas, em maio de 2023, mas só encontrou nas suas contas correntes R$ 46.712,47.

Em 25 de julho, a Justiça finalmente notificou Brennand sobre a sentença no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros.

Um mês depois, a juíza ainda aguarda o posicionamento do herdeiro sobre o processo. “Vamos esperar pacientemente. No Brasil, em alguns casos, é muito bom ser devedor”, afirma o advogado da empresa. “O cara compra, não paga. E fica anos enrolando. Uma beleza sem precedentes.”

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