Todas as mulheres do presidente
No tenso ano de 1962, durante uma cúpula sobre armas nucleares em Nassau, John Fitzgerald Kennedy voltou-se para o primeiro-ministro do Reino Unido e lhe perguntou quanto tempo ele aguentava sem fazer sexo. O sexagenário Harold Macmillan, surpreso, não chegou a responder. “Eu queria saber como é com você, Harold. Se eu passo três dias sem uma mulher, tenho uma dor de cabeça terrível”, apressou-se JFK.
Macmillan irritou-se e, mais tarde, descreveu Kennedy como um líder que desperdiçava metade de seu tempo pensando em adultério, escreveu o historiador Michael O’Brien em seu livro John F. Kennedy’s Women (Now and Then Reader, 2011). Desde o assassinato de Kennedy, reportagens, depoimentos e livros começaram a surgir sobre a intimidade do ícone, com informações antes cuidadosamente censuradas pelos meios de comunicação e editoras.
Por duas décadas, o eleitor americano foi impedido de conhecer a impressionante coleção de namoradas e amantes de JFK desde 1934 quando, aos 17 anos, foi levado a um bordel do Harlem, em Nova York, por seus colegas do internato Choate, em Connecticut, para perder a virgindade com uma prostituta branca. Pagou US$ 3 pelo serviço e saiu dali aterrorizado pela hipótese de ter contraído doença venérea.
Atrizes, modelos, secretárias, jornalistas, enfermeiras, aeromoças, estudantes, prostitutas, estagiárias; casadas, solteiras, divorciadas, viúvas; virgens e experientes foram alvos de sua tara. “Ele era um namorador patológico e, normalmente, incapaz de ver uma mulher de outra forma senão a de objeto sexual”, afirma O’Brien.
Fidelidade a uma mulher jamais foi uma máxima para Kennedy, nem com namoradas oficiais nem muito menos com Jacqueline Bouvier, com quem se casou em 1953. Autores recentes atribuem sua volúpia aos 10 mg diários de testosterona, um dos medicamentos receitados para combater a fraqueza, os mal-estares e a perda de peso da síndrome de Adisson. A síndrome é uma moléstia rara e sem cura causada pela deficiência de produção do hormônio cortisol.
Outros atribuem sua compulsão ao exemplo observado dentro da abastada casa da família em Massachusetts, onde prevalecia a tradição católica irlandesa. Seu pai, Joseph, era um namorador inveterado. No campo freudiano, as teses recaem sobre a matriarca. Conformada com a infidelidade do marido, Rose tratou de cimentar os laços familiares e propiciar a melhor educação formal aos nove filhos, mas sem demonstrações de afeto. A amigos, JFK queixava-se de jamais ter recebido um abraço da mãe.
Nos tempos de universidade, em Harvard e Stanford, JFK teve pelo menos três namoradas favoritas, entre inúmeros casos menores. Dizia gostar do desafio da conquista. Desde que envergou o uniforme de tenente da Marinha, em outubro de 1941, oito amantes foram identificadas, entre elas a dançarina de strip-tease Blaze Starr, de 17 anos, orgulhosa de usar sutiã tamanho GG. Os encontros de Kennedy com Blaze teriam se estendido por quatro anos.
Nessa fase, Kennedy preferiu mulheres que seriam vetadas por sua família. Mas ele se envolvia com elas sem dar-lhes esperança de casamento. O rompimento com a tradição católica irlandesa não estava em seus planos. Ninguém jamais se apresentou como bastardo do líder americano ou mãe abandonada pelo jovem Kennedy. Ainda assim, alguns relacionamentos poderiam ter comprometido sua trajetória política.
Inga Arvad Fejos foi um desses riscos. Aos 28 anos, escrevia uma coluna no Washington Times-Herald e foi apresentada a Kennedy por Kathleen, irmã de John e repórter do mesmo jornal. Inga fora candidata a Miss Europa 11 anos antes. Tornou-se amante do tenente Kennedy até que uma foto sua, sorrindo ao lado de Hitler na Olimpíada de 1936, saiu no Times-Herald.
A imagem suscitou investigação do FBI, que suspeitava ser Inga uma espiã do Terceiro Reich. Edgard Hoover, o poderoso diretor do FBI, gravou os encontros entre Inga e Kennedy. O escândalo foi abafado com a transferência de Kennedy do Escritório de Inteligência Externa da Marinha, em Washington, para uma unidade naval em Charleston. De volta à vida civil, ele ingressou na política. Foi eleito deputado federal em 1947, pelo Partido Democrata, e reeleito duas vezes até chegar ao Senado, em 1953.
O deputado Kennedy morava no bairro de Georgetown, em Washington, onde amigos testemunharam o político trocar de mulher como de camisa. No final dos anos 1940, envolveu-se com Florence Pritchett, ex-modelo divorciada e editora de moda do NY Journal-American, com quem teria mantido um relacionamento até sua morte, em 1963. Em seu gabinete no Senado, metade dos telefonemas vinham de mulheres interessadas em um encontro com o poderoso político, segundo sua secretária na época, Evelyn Lincoln. JFK namorava, desde 1951, a elegante, educada e católica Jacqueline Bouvier – escolha perfeita para um político ambicioso. “Tive muitas mulheres atraentes na minha vida”, confidenciou ele ao amigo Paul Fay. “Mas, de todas, com apenas uma eu poderia ter me casado. E me casei.”
Conhecera Jackie Bouvier na casa do amigo Charles Bartlett, respeitado jornalista. Falaram sobre livros e suas experiências no exterior e casaram-se dois anos depois, em 12 de setembro de 1953. Quinze dias antes, ele passara uma semana na Suécia com Gumilla Von Post, a quem conhecera na França. Em 1956, ficou duas semanas em um hotel de Malibu, na Califórnia, com a aeromoça divorciada Joan Lundberg. Ambos se encontraram ao longo dos três anos seguintes, com remessas de dinheiro de Kennedy para Joan. Depois de sua morte, ela alegou ter sido forçada por JFK a fazer um aborto. Sua denúncia, porém, não foi adiante.
No final dos anos 1950, as atrizes de Hollywood tornaram-se sua obsessão. Audrey Hepburn e Judy Garland teriam sido apenas amigas, mas corriam boatos sobre seus namoricos com Lee Remick e Jean Simmons. Sua maior frustração foi Sophia Loren. Kennedy a convidou para duas recepções-armadilhas em sua casa. Em ambas, a italiana dissera “no”. Outra negativa confirmada viera da jornalista Margareth Coit, em 1953, quando essa vencedora do Pulitzer entrevistou Kennedy para a biografia do empresário Bernard Baruch. “Para ele, era difícil acreditar que uma mulher tivesse intelecto”, resumiu Margareth.
A vitória de Kennedy no último debate com Nixon, em 1960, teria sido atribuída a uma rápida relação sexual nos bastidores. Kennedy surgiu calmo e bateu com facilidade seu adversário republicano. Na Casa Branca, protegido por velhos e novos colaboradores e pela imprensa conivente, não restringiu seus impulsos. Ao contrário: pareceu mais confortável para manter encontros que, hoje, teriam custado seu mandato.
Judith Campbell Exner, “amiga íntima” de Kennedy entre final de 1961 e março ou abril de 1962, poderia tê-lo levado ao fundo do poço. Passados 14 anos da morte de Kennedy, ela revelou na autobiografia My Story (Futura) ter sido amante ao mesmo tempo de dois do poderosos líderes mafioso, John Roseli e Sam Giancana, que sucedera a Al Capone na Cosa Nostra. Judith fora apresentada a JFK por um afilhado da máfia, o cantor Frank Sinatra, em Las Vegas, em 1960. Passou a frequentar a Casa Branca e a levar e trazer informações.
Entre todos os rumores sobre as amantes de Kennedy, nenhum é mais discutido do que seu suposto envolvimento com Marilyn Monroe. No livro The Few Precious Days: The Final Year of Jack and Jackie (Gallery Books), o jornalista Christopher Andersen diz ter a própria atriz informado Jackie sobre sua relação com JFK. Mas, na versão de Michael O’Brien, Marilyn nunca foi vista na Casa Branca e “nenhum biógrafo responsável sustenta que Monroe e Kennedy foram parceiros em um caso amoroso”.
Ambos teriam se encontrado apenas em quatro ocasiões, diz O’Brien. Socialmente, em novembro de 1961, em Santa Mônica (Califórnia). Na segunda e na terceira vez, no ano seguinte, quando hóspedes de Bing Crosby em Palm Springs. Mas Marilyn estava tão mergulhada em álcool e barbitúricos que, segundo o historiador, seria improvável ter energia para algo mais.
Na última vez em que se viram, Marilyn surgiu no Madison Square Garden em um show para arrecadar fundos para as dívidas da campanha presidencial de Kennedy, em maio de 1962. Com um vestido costurado pelo estilista francês Jean Louis no corpo da atriz minutos antes da entrada no palco, Marilyn transformou a primeira canção ensinada a todo bebê do mundo ocidental na mais sutil forma de sedução. Da plateia, Kennedy constrangidamente aplaudia a versão Happy Birthday, Mr. President. “Ela fez amor com ele à vista de 40 milhões de americanos”, resumiu na época a colunista social Dorothy Kilgallen, ao lembrar que o evento havia sido televisionado. A atriz, que fora amante de Robert Kennedy, suicidou-se três meses depois.
A vida sexual do líder americano continuou a surpreender depois de sua morte. Seu caso com a rica Mary Meyer, frequentadora da Casa Branca, emergiu só em 1976. Nunca houvera comentários a respeito desse relacionamento, mantido entre 1962 e 1963. Bomba mais potente foi a detonada pelo tabloide Daily News no ano passado, ao publicar a manchete “JFK teve sua Monica”, sobre o affaire de Kennedy com uma estagiária da Casa Branca. A reportagem estabelecia uma comparação com Clinton, presidente nos anos 1990, que foi enxovalhado e quase perdeu seu mandato por mentir sobre seu caso com Monica Lewinsky.
O Daily News falava de Mimi Alford, uma divorciada de 60 anos, avó, maratonista e funcionária de uma igreja presbiteriana da 5ª Avenida, em Nova York. Marion (Mimi) Alford contou a história em detalhes apenas na sua biografia Once Upon a Secret – My Affair with President John F. Kennedy and its Aftermath (Randon House). Ela escondera o caso por mais de 40 anos, jamais o revelando ao primeiro marido nem à família: “Achava que seria meu segredo até a morte”.
Mimi conheceu JFK em uma cerimônia na Casa Branca em 1961, quando escrevia uma matéria sobre a primeira-dama para o jornalzinho de Miss Porter, de Connecticut, escola preparatória para a universidade onde Jackie também estudara. Meses depois, aos 19 anos, recebeu um convite para ser estagiária da Secretaria de Imprensa da Casa Branca, com salário de US$ 67 por semana. Atendia telefonemas e recortava notas de telex. No quarto dia de trabalho recebeu um inusitado convite de David Powers na hora do almoço.
Powers trazia e levava mulheres para Kennedy, facilitava a escapada delas quando da aproximação de Jackie e limpava os vestígios. Na piscina, Mimi encontrou Priscilla Wear e Jill Cowan, ex-colegas de Jackie em Miss Porter. A estagiária não sabia: ambas era amantes de Kennedy, conhecidas como Fiddle e Faddle. Na água, aquecida para aliviar as dores nas costas, Kennedy a cumprimentou.
Na mesma noite, Powers convidou Mimi para uma recepção na ala residencial, no segundo andar da Casa Branca. Powers a motivou a entornar dois daiquiris. Depois de o presidente ter dado atenção aos convivas, ele levou a estagiária para conhecer o restante dos aposentos. No quarto de Jackie, Mimi perdeu a virgindade. Nos meses seguintes, era levada nas viagens presidenciais no segundo avião da Casa Branca.
Mimi revelou também o pendor do presidente para o voyeurismo. Certa tarde, observou Powers preocupado demais e pediu à estagiária para cuidar dele. Mimi entendeu o recado e tomou como um desafio. Aproximou-se de Powers e fez sexo oral com ele. “O presidente assistiu, silenciosamente”, afirmou ela, logo depois de ter expressado sua vergonha por ter assentido. Kennedy a desafiou outra vez, em uma sala da Casa Branca, a fazer sexo oral com seu irmão, Ted. Dessa vez, ela declinou.
A maior parte das aventuras amorosas de Kennedy na Casa Branca foi facilitada pelos longos períodos de Jackie com os filhos, Caroline e John-John, em Glen Ora, propriedade rural no Estado da Virgínia. O casal, a seu modo, conseguia passar a imagem de família unida e ungida pelos princípios mais sublimes. A Casa Branca de Kennedy restabelecia a corte lendária de Camelot.
JFK dizia-se preocupado em preservar Jackie. Tantas eram suas façanhas, no entanto, que a primeira-dama certamente tinha visto pegadas de pés femininos à beira da piscina. Em conversa com Barbara Gamarekian, assistente de imprensa de Kennedy e depois célebre repórter do New York Times, Jackie certa vez apontou Fiddle e comentou: “Essa é a garota que supostamente dorme com o meu marido”. No entanto, a própria Jackie admitira Pamela Turnure, outra amante de JFK, como sua secretária de imprensa.
A primeira parte dos depoimentos de Jacqueline, gravados depois da morte de Kennedy e guardados no Arquivo Nacional, foi divulgada no ano passado. Mas nada indicaram sobre esse aspecto de sua vida. Há expectativas de que, na parte restante, seja elucidado se ela realmente sabia dos casos do marido e, especialmente, se sua discrição fora voluntária ou, de alguma forma, premiada. Cinco anos depois de sepultar Kennedy, Jackie casou-se com o magnata grego Aristóteles Onassis, num arranjo costurado por seus cunhados.