Um adesivo para a pele é capaz de curar o diabetes?

O produto está à venda na internet com essa promessa, mas é fake. Ele não tem eficácia comprovada e não substitui o tratamento convencional do diabetes

A promessa é boa. Por cerca de cem reais, adesivos feitos de compostos naturais curariam o diabetes ao controlar os níveis de açúcar no sangue. De quebra, aliviariam as complicações da doença. Bastaria trocar diariamente o adesivo, que deve ser colocado no umbigo.

Mas a história toda é falsa. “Primeiro, não existe cura para o diabetes. Além disso, não há estudos sobre o efeito de nenhuma das substâncias que o produto alega ter no controle da glicemia, muito menos sobre a ação delas em conjunto”, explica Márcio Krakauer, endocrinologista e Coordenador das Campanhas Públicas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Uma das marcas que mais aparece nas buscas da internet, o Diabetic Patch, da fabricante chinesa Sumifun, não consta nos registros da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou da Food and Drug Administration Agency (FDA), órgãos que regulam os remédios no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente. Dito de outra maneira, o produto é comercializado sem um crivo confiável de segurança.

Há adesivos e adesivos

No diabetes, a insulina não consegue colocar adequadamente o açúcar para dentro das células — seja por um déficit de produção desse hormônio, seja por uma resistência do organismo à sua ação. Com isso, a glicose sobra no sangue e vai às alturas. Não à toa, o tratamento dessa enfermidade muitas vezes envolve aplicações de insulina, via injeções ou canetas.

Há anos, a ciência estuda maneiras de administrar esse hormônio nos pacientes sem picadas. Eis que, em 2017, um trabalho publicado no periódico científico Nature, conduzido por pesquisadores chineses e pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, mostrou que adesivos compostos por agulhas microscópicas poderiam ser uma via eficaz de inserir a substância dentro do corpo.

“Esse estudo foi uma prova de conceito. Ele sugeriu que o adesivo é uma forma de aplicação viável de insulina, mas falta muito para termos algo parecido no mercado”, pondera Krakauer.

Essa possibilidade futura — que envolve muita tecnologia e um medicamento já consagrado contra o diabetes — é completamente diferente de um adesivo sem quaisquer comprovações sérias de eficácia ou segurança. E que não possui insulina na composição.

“Hoje, a única forma diferente que temos de aplicar insulina é a inalatória”, emenda.

Cura para o diabetes?

Só o fato de prometer eliminar a doença já deve ser motivo de suspeita. Não existem medicamentos capazes de fazer isso.

“O que podemos falar é em remissão”, aponta Krakauer. O especialista se refere a indivíduos que voltam a atingir por um tempo taxas normais de glicemia após intervenções específicas, como a cirurgia bariátrica.

Sim, em pessoas com indicação, esse procedimento promove uma perda de peso drástica e um rearranjo do metabolismo que melhoram o controle da glicemia. Às vezes, o sujeito até descarta os remédios.

Remissão, contudo, é um conceito bem diferente de cura. “O diabetes tende a retornar com o tempo, principalmente na ausência de hábitos saudáveis”, diz o especialista. Ou seja, para mantê-lo quietinho por uns anos, o paciente continuará precisando de disciplina e uma vida balanceada.

As fake news

Por ser um dos problemas crônicos mais comuns no país, o protagonista desta reportagem se torna um alvo frequente de promessas milagrosas. Basta procurar “cura do diabetes” no Google para encontrar pílulas mágicas, dietas malucas, livros desprovidos de base científica, cursos pagos…

“Nada que prometa resultados rápidos será efetivo em um contexto tão complexo quanto o dessa doença”, completa. Algumas dessas táticas inclusive podem fazer mal ou estimular o abandono do tratamento convencional. Aliás, suspeite de quem manda você esquecer recomendações médicas consagradas.

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