Um espetáculo de luxo para encerrar o festival
Iron Maiden mistura clássicos e surpresas em noite de gala do cantor e piadista Bruce Dickinson
“Iron Maiden de novo? Mas essa banda não vive no Brasil? Já não se apresentou em duas edições do Rock in Rio?”, foi o que muita gente pensou quando o sexteto londrino foi anunciado como atração do festival. Um grupo que inclui o país em praticamente todas as suas turnês precisava mesmo dessa moral?
Pois a chuvosa noite deste domingo comprovou que sim, com muitas sobras. O público não arredou pé da Cidade do Rock e pulou, aplaudiu, urrou e cantou tudo com Bruce Dickinson (na melhor performance vocal do festival, sem contar as piadinhas) e seu quinteto de cinquentões do metal, os guitarristas Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers, o baixista Steve Harris e o baterista Nicko McBrain.
Sem disco novo desde “The final frontier”, de 2010, o grupo recuperou a turnê “Maiden England”, em que reproduz o show que fazia em 1988, promovendo o disco “Seventh son of a seventh son”. Isso significa que os cariocas — sempre chamados de “my friends” por Dickinson — ouviriam músicas desse período para trás (com apenas duas exceções, a obrigatória “Fear of the dark” e “Afraid to shoot strangers”, ambas do disco “Fear of the dark”, de 1992), com a possibilidade de surgir alguma pérola esquecida.
E de fato o Rio viu um setlist bem diferente do habitual, recheado de músicas de “Seventh son…”, como a épica faixa-título, de quase 10 minutos, que nunca esteve nas turnês que por aqui passaram, “Moonchild”, que abre o disco, e outras mais antigas, como “Phantom of the opera” (gravada originalmente por Paul Di’Anno, cantor anterior a Dickinson no Maiden, que bizarramente surgiu como convidado do Kiara Rocks, no mesmo Palco Mundo, horas antes) e “The prisoner”.
Além de, aos 55 anos, atingir com facilidade todas as notas, Dickinson estava em uma noite especial. “O mundo inteiro está vendo pela televisão, vocês não querem mostrar a eles o barulho que faz o público no Rio?”, disse ele, para emendar, após o urro do povo: “Tome essa, você aí, em algum lugar do mundo”. Às piadinhas (algumas pouca gente entendeu, dados a velocidade e o sotaque de Nottinghamshire do cantor) somaram-se performances diversas, como o uniforme de guerra e a bandeira britânica rasgada em “The trooper”, a roupa de conquistador da América em “Run to the hills” e a touca de aviador em “Aces high”, que versa sobre os pilotos ingleses na Segunda Guerra Mundial. As explosões, labaredas e elementos cenográficos (com o monstro-mascote Eddie em várias encarnações) ajudaram a compor o espetáculo, que os músicos comandaram à perfeição. Se Bruce Springsteen foi o grande show do festival, não custa lembrar que o Iron Maiden tocou para aproximadamente duas vezes mais gente, e gente que cantava todas as músicas. (O Globo)