Um verso genial de Valdir provocando FHC
Recolhida à choupana da família em Tuparetama na fazenda Serrinha desde o dia da morte do pai, o consagrado rei da poesia Valdir Telles, a advogada e poetisa Mariana Telles se embriaga de poesia viva mergulhando nos arquivos empoeirados do vate.
A cada mexida, descobertas ricas e emocionantes de quem teve uma passagem terrestre dedicada à cultura popular e maestrosa empunhada pelo verso repentino e belo brotado no toque da viola.
Valdir, que morreu há 12 dias, aos 64 anos, vítima de um infarto num final de tarde de um domingo em sua choupana, matou boa parte do tempo do seu último dia de vida falando ao celular com a própria filha, que reside no Recife. Herdeira fiel da veia poética do pai no improviso do verso e na escrita, Mariana tem descoberto tanta preciosidade nos arquivos que já está decidida a escrever as memórias do velho parceiro de João Paraibano.
Paraibano também já foi levado ao céu, jovem e de repente. Lá, os dois devem estar fazendo trocadilhos para Deus e seus escolhidos, animando o reinado celestial com sextilhas, galopes à beira mar, desafios e cantorias de pé de parede. O cenário do céu ficou mais poético e romântico, com estrelas piscando versos que na terra brotavam do chão seco do Pajeú, a Grécia brasileira, reino encantado da poesia.
Entre os pedaços de papéis que soltam poeira, mas versejam motes eternizados na pruma leve da viola de Telles, Mariana se deparou também com muitas fotos. Duas delas, ilustrando esse texto, relembram um dos momentos mais felizes do poeta: a assinatura do contrato para construção da Casa do Cantador de São José do Egito, fruto de emenda federal do então deputado Luiz Piauhylino, o Piau.
Foi Piau, a quem Valdir ajudou com uns votinhos em São José e Tuparetama quando envolvido em política, que deu a ele também a oportunidade de cantar pela primeira vez para um presidente da República: Fernando Henrique Cardoso. A cantoria histórica foi em Brasília na casa do deputado.
Uma noite estrelada, alegre e fria, na qual os convidados chegavam acompanhados de suas respectivas esposas. Observador atento dos detalhes do ambiente, Valdir, que no improviso fazia a plateia rir sem parar com suas tiradas bem humoradas, não resistiu ao verso abaixo, resgatado por Mariana, quando percebeu que FHC trouxera a ministra Yeda Crusius e não a esposa Ruth como companhia. Veja que genial:
“Não trouxe a primeira dama/Mas isso não lhe atrasa/Por que dona Yeda Crusius/Veio debaixo da asa/ Quem anda com uma bicha dessa/Não se lembra da de casa”.
Por: Magno Martins