Uma festa para Lygia Fagundes Telles
Uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos, Lygia Fagundes Telles ostenta uma obra viva, pulsante, inspiradora. É o que poderá ser comprovado a partir desta sexta-feira com a abertura de uma exposição no Memorial da América Latina que homenageia sua trajetória e sua escrita.
Na verdade, como Octavio Paz, Lygia sempre utilizou a escrita para contar uma história, a própria história. E, para isso, construiu uma carreira marcada por um estilo elegante, ecos machadianos e um permanente estado de espírito que permite manipular a escrita com firmeza e serenidade.
O evento no Memorial começa às 18h30, com a abertura da exposição Lygia Fagundes Telles – trata-se de uma coleção de fotos, originais e edições estrangeiras de textos da escritora. O visitante também poderá admirar painéis que estampam quadros de Beatriz Milhazes, imagens que figuram nas capas da nova edição da obra de Lygia, lançada desde 2009 pela Companhia das Letras. “Sempre admirei muito o trabalho da Beatriz, que traduz com delicadeza a expressão da minha escrita”, costuma dizer a autora.
A homenagem continua às 19 horas, com a exibição do vídeo Narrarte. É um curto mas precioso documentário rodado pelo filho da escritora, Goffredo Telles Neto, uma conversa sobre o ato da escrita. Certamente, um dos pontos altos da noite.
Às 20 horas, os convidados poderão acompanhar um bate-papo sobre a autora do romanceAs Meninas, entre a professora Ana Paula dos Santos Martins e o jornalista e escritor Suênio Campos de Lucena, com mediação de Luis Avelima. Um ótimo momento para se comprovar como a escrita de Lygia é o testemunho de sua vida. Basta ler o clássico A Estrutura da Bolha de Sabão.
“Esse conto tem uma origem divertidíssima e começou quando meu segundo marido, Paulo Emílio de Salles Gomes, contou que um amigo físico, que vivia na França, estava estudando a estrutura da bolha de sabão”, contou Lygia, certa vez, ao Estado. “Fiquei intrigada com o assunto e, como também não conseguia me definir sobre o que se tratava, Paulo me aconselhou a buscar a resposta na escrita.” Encantada, pois se recordou dos tempos de menina quando brincava com bolhas de sabão, Lygia pôs-se a trabalhar e o entendimento só foi surgir quando escrevia as últimas linhas.
Estruturas intricáveis, personagens que não a abandonam, o universo literário de Lygia Fagundes Telles é sempre inesgotável. Por isso, às 20h30, ela será homenageada pelo presidente do Memorial, o cineasta Joaquim Batista de Andrade.
O evento terá sua última parte prevista para começar às 20h45, quando acontece o lançamento dos livros Lygia Fagundes Telles entre Ritos e Memória, organizado por Suênio Campos de Lucena; Sombras Silenciosas: Estranheza e Solidão em Lygia Fagundes Telles e Edward Hopper, de Mabel Knust Pedra; e Caros Autores, de Fábio Lucas.
“Para escrever, você precisa se dedicar de corpo e alma a seu personagem, a seu enredo e à sua ideia”, explicou. “É preciso que seja um ato de amor, uma doação absoluta, e é impossível sair do transe enquanto não dá a história por acabada, enquanto não decifra o humano. O detalhe é que o ser humano é indefinível. Por mais que tente, você não consegue defini-lo totalmente. O ser humano é inalcançável, inacessível e incontrolável, ele está sujeito a esses três ‘Is’.”
Fonte: Estado de S. Paulo