Vermes, bactérias e vírus: doenças “invisíveis” ameaçam saúde de 28 milhões de brasileiros por ano

Efermidades tropicais que atingem populações negligenciadas pelo poder público, em sua maioria, têm tratamento simples e preventivo

Higiene das mãos
Higiene das mãos – Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco
Enquanto algumas doenças são conhecidas e monitoradas pela população, outras invisíveis são responsáveis por atingir 14% dos brasileiros, todos os anos. Ao todo, 28,9 milhões de pessoas correm o risco de serem contaminadas por enfermidades típicas do clima tropical, segundo o Ministério da Saúde. Negligenciadas, essas doenças ainda afetam, em larga escala, a saúde da população.

As doenças tropicais, aquelas que acontecem nos trópicos ou nas regiões mais quentes do planeta, são muito comuns e se espalham pelo Brasil. Algumas possuem diagnóstico e tratamento disponíveis há anos na rede pública, como a hanseníase e o tracoma. Outras estão ligadas à falta de estrutura nas moradias ou à falta de saneamento básico e acesso à água potável, como a esquistossomose e filariose linfática.

Segundo o Censo 202249 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, ainda vivem em residências sem descarte adequado de esgoto. Outras 18 milhões, não têm coleta de lixo, mais 6 milhões não têm abastecimento de água adequado e, por fim, 1,2 milhão não têm banheiro ou sequer um sanitário.

De acordo com dados do boletim epidemiológico do MS, entre 2016 e 2020, os números de atingidos por doenças tropicais dobraram. Até 2015, a estimativa era que esses problemas de saúde poderiam afetar cerca de 15 milhões de pessoas, aproximadamente 7,3% da população. Diretamente relacionadas à falta de investimento em populações esquecidas pelo poder público, esses problemas de saúde acontecem sem qualquer programa de prevenção, detecção ou tratamento.

— São aquelas condições em que não existe um investimento importante, principalmente no que diz respeito à inovação tecnológica e à descoberta de novos medicamentos, vacinas ou testes diagnósticos — disse o infectologista Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, à BBC. — Falamos de doenças negligenciadas, mas o correto seria falar de doenças que acometem populações negligenciadas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as doenças tropicais afetam 1,7 bilhão de pessoas no planeta e estão relacionadas a 200 mil mortes todos os anos. A organização aponta que, além dos custos à saúde, essas enfermidades “são responsáveis por outras consequências, como deficiências, estigmatização, exclusão social e discriminação, que colocam uma pressão considerável sobre os pacientes e as famílias deles”.

A OMS inclui na lista das doenças tropicais negligenciadas 25 condições diferentes. Destas, dez são citadas diretamente no mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o tema. A maioria delas são causadas por vermes, protozoários, bactérias ou vírus. Muitas delas têm diagnóstico e tratamento simples, que se baseia em uma dose única de antibiótico.

Programa para combater doenças “invisíveis”
O Brasil se torna o primeiro país a assumir uma política de governo para eliminar ou reduzir 14 doenças que acometem em particular grupos mais vulneráveis socialmente, através do programa Brasil Saudável, coordenado pelo Ministério da Saúde.

As enfermidades combatidas serão doença de Chagas, malária, tracoma, filariose, esquistossomose, oncocercose, geo-helmintíases, hanseníase, filariose, sífilis, HIV, hepatite B, HTLV, tuberculose que ainda acometem milhões de brasileiros, mas que podem ser eliminadas com ações efetivas.

As doenças, como tuberculose (ainda com cerca de 80 mil casos novos e 5 mil mortes a cada ano), HIV (com diagnóstico fácil e rápido e tratamento igualmente eficaz), hanseníase (também com diagnóstico disponível e tratamento eficiente pelo SUS) e hepatites virais poderão ser reduzidas a menos de 10 casos por 100 mil habitantes e as mortes para menos de 200 ao ano. Tais níveis são as metas operacionais da Organização Mundial da Saúde.

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