‘Vi tochas humanas’: as lembranças de um sobrevivente do ataque que levou EUA à Segunda Guerra

James Downing, aos 103 anos
Aos 103 anos, James Downing é um dos sobreviventes mais velhos do bombardeio

“Uma data que viverá na infâmia”. Foi assim que o então presidente Franklin Delano Roosevelt descreveu o dia 7 de dezembro de 1941, quando aviões japoneses atacaram a base naval dos Estados Unidos em Pearl Harbor, no Havaí.

Setenta e cinco anos depois, cerimônias homenageiam os cerca de 2.300 soldados americanos mortos no bombardeio, que levou os Estados Unidos a entrarem na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Aos 103 anos, James Downing é um dos sobreviventes mais velhos do ataque. O oficial aposentado da marinha americana estava lotado no navio U.S.S West Virginia, um dos alvos do bombardeio.

“O primeiro caça japonês que vi estava voando baixo e devagar. Quando passou perto de mim, disparou sua metralhadora, mas por sorte errou o ângulo. Havia uma trincheira bem atrás de mim. A guerra se tornou bem pessoal naquele momento”, conta.

Cenas do ataque a Pearl Harbour
Cerca de 2.300 soldados americanos morreram no ataque japonês a Pearl Harbor

O veterano descreve uma das cenas mais marcantes e chocantes que testemunhou: seus companheiros ardendo em chamas, depois que o óleo armazenado nos tanques do navio começou a vazar.

“Eles queimavam como tochas humanas. Foi a coisa mais triste e difícil de se ver. Aqueles homens andando e ardendo em chamas. E nada podia ser feito”, relembra.

Downing conta que esperava morrer a qualquer momento:

“Minha reação foi: ‘Senhor, estarei logo aí’. Esse pensamento durou uns 30 minutos. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma paz enorme em saber que estaria logo ao lado de Deus”, diz.

Navio na base de Pearl Habor
Downing disse ter visto companheiros ardendo em chamas, depois que o óleo do navio começou a vazar

Em meio ao ataque, Downing não deixou de lado a preocupação com os familiares dos companheiros mortos.

“Com uma mão, segurava a magueira para apagar o fogo, com a outra tentava ver a identificação dos corpos e memorizar seus nomes para poder escrever uma carta aos pais deles e contar o que houve com seus filhos”, relata.

Visita histórica

Às vésperas do aniversário do bombardeio, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, anunciou que vai visitar Pearl Harbor no fim do mês.

A visita – a primeira de um premiê japonês à base militar – não vai incluir, no entanto, um pedido formal de desculpas. De acordo com o porta-voz do governo, Abe vai apenas prestar homenagens às vítimas, acompanhado pelo presidente dos EUA, Barack Obama.

Barack Obama cumprimenta o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe
Barack Obama visitou Hiroshima, em maio, acompanhado do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe

A visita histórica, marcada para 27 de dezembro, acontece seis meses após a passagem de Obama pela cidade japonesa de Hiroshima, onde os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica em 1945.

Na ocasião, Obama também não pediu perdão pelo bombardeio, que matou pelo menos 140 mil pessoas e devastou a cidade.

“Jamais podemos repetir a tragédia da guerra. Gostaria de enviar uma mensagem de reconciliação entre o Japão e os EUA”, declarou Abe sobre sua ida a Pearl Harbor.

A Casa Branca afirmou, por sua vez, que a visita “mostrará o poder da reconciliação que transformou antigos adversários em aliados próximos, unidos por interesses comuns e valores compartilhados”.

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