Vladimir Safatle: Esquerda morreu e a extrema direita é a única força real no Brasil

Em seu novo livro, o professor de Filosofia diz que esquerda brasileira tornou-se uma “constelação de progressismos”

Vladimir Safatle
Vladimir Safatle (Foto: Reprodução/Youtube)

Em seu mais recente livro, o professor de filosofia da Universidade de São Paulo diz que esquerda brasileira se tornou uma “constelação de progressismos”. Para ele, a esquerda teria perdido a ambição de transformar a estrutura da sociedade nos dois pontos fundamentais desse espectro político: igualdade e soberania popular. Vitória de Lula foi só um respiro, enquanto extrema direita continua forte, e mascara a dificuldade de propor soluções para os desafios atuais, avalia ele.

“A extrema direita é hoje a única força política real do país, porque é a força que tem capacidade de ruptura, tem estrutura e coesão ideológica”, afirma o professor de filosofia da USP, que acaba de lançar um novo livro, “Alfabeto das Colisões” (editora Ubu). A entrevista foi dada para a Folha de S. Paulo.

“A esquerda brasileira morreu como esquerda”, diz. O que existe agora, na visão dele, é uma “constelação de progressismos, mas sem aquilo que constituía o campo fundamental da esquerda, que são as ideias de igualdade radical e de soberania popular”.

De acordo com essa análise, o que se perdeu na construção das pautas progressistas foi a ambição por uma transformação estrutural da sociedade, que pressupunha um tipo de igualdade dentro dos processos de produção e alguma forma de democracia direta.

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“Hoje não se coloca nada parecido com isso”, afirma Safatle.

Foi esse diagnóstico que o levou a disputar uma vaga de deputado federal em 2022, pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Com 17.644 votos, terminou como suplente.

“Entendi que a gente estava num momento histórico que nem era mais de retração de expectativas. Era pior: era um horizonte de retração de enunciação. A gente não conseguia nem enunciar. Quantas vezes você ouviu, nos últimos dez anos, a ideia de autogestão da classe trabalhadora?”

Embora o quadro não tenha mudado desse ponto de vista, o professor de filosofia não pretende se candidatar na eleição municipal deste ano. Considera que, em 2022, havia um desafio maior em curso, que era a luta contra o bolsonarismo.

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