Willy Brandt visita a Alemanha Oriental

Em 19 de março de 1970, chefe do governo da Alemanha Ocidental, Willy Brandt, visita a Alemanha Oriental e se encontra com o primeiro-ministro Willi Stoph. Brandt é recebido calorosamente pelos alemães-orientais.

Willy Brandt Alemães-orientais se despedem de Willy Brandt na estação central de Erfurt, em 19 de março de 1970

Em 19 de março de 1970, foi dado um passo decisivo rumo à normalização entre as relações entre os dois Estados alemães. Nem o então chanceler federal alemão, Willy Brandt (1913-1992), podia imaginar que sua viagem à Alemanha Oriental (RDA) fosse desencadear um processo de aproximação que, 20 anos mais tarde, culminaria na queda do Muro de Berlim.

“Erfurt é – assim esperamos – um começo, mas ninguém deve nutrir ilusões. Vejo ser minha obrigação iniciar conversações com o governo da RDA. Esta viagem é necessária, para que não sejamos acusados de não havermos tentado tudo para melhorar a situação da e na Alemanha”, disse Brandt, às vésperas do embarque.

A visita de Brandt – chanceler federal alemão-ocidental de 1969 a 1974 – ao primeiro-ministro alemão-oriental de 1964 a 1972, Willi Stoph, foi o primeiro encontro dos chefes de governo das duas Alemanhas após a reunião dos governadores de toda a Alemanha, realizada em Munique, em 1947. Por isso mesmo, a expectativa da população era grande. Os políticos advertiam que não se devia esperar demais desse encontro. Brandt esperava apenas um primeiro sinal a favor do diálogo entre os dois Estados alemães.

Quando desembarcou do trem especial que o levou à capital da Turíngia, Erfurt, Brandt foi recebido por Stoph e aclamado pelo público, na praça da estação ferroviária. Milhares de pessoas o seguiram até o Hotel Erfurter Hof, sede das conversações. Não demorou até a população rompesse o cordão policial e se aproximasse do hall de entrada, gritando “Willy, Willy, Willy”.

Coração partido

A polícia comunista teve dificuldade para conter a espontânea manifestação popular. Avisado pelo porta-voz do governo da RDA, Ahlers, Brandt finalmente apareceu na janela do hotel e – como ele próprio escreveria mais tarde – estava emocionado. Diante da euforia do público, que sentia um momento de liberdade, ele fez um gesto pedindo calma. “Eles me entenderam. A massa silenciou. Eu voltei para o quarto com o coração partido”, relatou Brandt em sua biografia.

Depois dessa cena, ninguém mais acenou para Brandt nas ruas de Erfurt. A polícia comunista tinha tudo sob controle. Os dois chefes de governo conversaram sobre a situação da Alemanha dividida. A Alemanha comunista queria ser reconhecida como país pela comunidade internacional. A República Federal da Alemanha (RFA) pedia liberdade de trânsito entre os dois lados da Cortina de Ferro.

De volta ao Oeste, Brandt declarou no Bundestag, o Parlamento alemão-ocidental, que a viagem a Erfurt fora “correta, necessária e proveitosa”. Era evidente que não se podia ter esperado mais do que o início de uma troca de opiniões.

Os dois chefes de governo falaram apenas em termos genéricos sobre a necessidade de garantir a paz e abordaram algumas questões práticas. O fosso ideológico entre as duas Alemanhas manteve-se inalterado. E seriam necessárias muitas conversações desse nível para melhorar as relações entre os dois Estados.

Visita com resultados concretos

O próximo passo seria a retribuição da visita de Brandt, com a vinda de Stoph para um encontro em Kassel, no dia 21 de maio de 1970. O primeiro resultado concreto do incipiente diálogo entre as duas Alemanhas veio ainda em agosto daquele ano, com a assinatura, em Moscou, do Tratado de Não-Agressão e o reconhecimento territorial mútuo.

No dia 7 de dezembro de 1970, foi assinado o Tratado de Varsóvia, reconfirmando a inviolabilidade da fronteira alemã-oriental (a linha dos rios Oder e Neisse). Seguiu-se a assinatura do Acordo de Trânsito, a 17 de dezembro de 1970, que facilitou as viagens entre Berlim Oriental e a RFA.

Para os partidos de oposição ao social-democrata Brandt – União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) –, os primeiros resultados da aproximação entre a RFA e RDA não foram convincentes. Eles tentaram derrubar o chanceler federal através de uma moção de desconfiança no Parlamento, mas fracassaram por dois votos (247 a 249).

A história daria razão a Brandt. Ele não só obteve reconhecimento internacional por seus esforços pela unidade alemã, recebendo o Prêmio Nobel da Paz de 1971. Menos de 20 anos após essa condecoração, em outubro de 1989, Brandt (“o arquiteto do diálogo inter-alemão”) pôde festejar, ao lado de Helmut Kohl (“o Chanceler da Reunificação”), a queda do Muro de Berlim e a concretização de seu maior sonho: a reunificação da Alemanha.

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