Woody Allen fala de acusação de abuso e diz que filha foi usada como “peão em uma vingança”

Ele acusa a ex-companheira, Mia Farrow, de implantar ideia na cabeça da filha para se vingar por Allen ter se casado com Soon-Yi, filha adotiva de Mia

O cineasta Woody Allen publicou nesta sexta-feira (7) um texto na versão online do The New York Times respondendo à acusação da filha adotiva, Dylan Farrow, de que teria sofrido abuso sexual do pai quando era criança. Allen voltou a negar todas as acusações, que chamou de um “estratagema” da atriz Mia Farrow, mãe adotiva de Dylan. Leia aqui o texto publicado por Woody Allen (em inglês).

O diretor diz que soube da acusação pela primeira vez há 21 anos e que de início não levou a sério, por acreditar que partia da ex-companheira, a atriz Mia Farrow, com quem estava envolvido em um processo doloroso de separação, depois que ele começou uma relação com outra filha adotiva de Mia, e com quem brigava pela guarda dos filhos. Além de Dylan, Woody e Mia tinham um filho biológico, Ronan.

“A transparência de sua malevolência parecia tão óbvia que eu nem mesmo contratei um advogado para me defender”, escreve Allen. O diretor diz que acreditou (“inocentemente”) que a acusação sumiria por si só porque qualquer pessoa racional veria que não tinha como ser verdadeira e o “senso comum iria prevalecer”. “Eu era um homem de 56 anos que nunca fui, antes ou depois, acusado de molestar uma criança”, escreve.

Allen lembra que ele e Mia tinham uma relação de 12 anos e que no período ela nunca pareceu sugerir que ele tinha algum tipo de mau comportamento. Ele diz que o momento em que supostamente teria abusado Dylan não faz sentido – na casa de Mia, com quem estava em litígio, com a presença de meia dúzia de pessoas, “quando eu estava no feliz estágio inicial de uma relação com a mulher que eu iria me casar”. Um cenário de “pura falta de lógica” e “louco”, classifica o diretor.

O cineasta relembra então a sequência de visitas a médicos – quando, segundo ele, inicialmente Dylan negou ter sido molestada -, e a investigação policial. Ele passou por um detector de mentiras com sucesso – e diz que pediu que Mia fizesse o mesmo, mas ela se recusou. Ele diz ainda que Mia chegou a procurar uma antiga namorada sua para pedir que ela testemunhasse ser menor de idade na época do relacionamento, o que ela se negou a fazer. “Eu incluo essa anedota para que todos nós saibamos com que tipo de caráter estamos lidando aqui”, escreve.

Allen diz que especialistas da Child Sexual Abuse Clinic, de Yale, analisaram o caso e concluíram que Dylan não sofreu violência sexual. No relatório final, eles colocam três possibilidades para os depoimentos da criança narrando o abuso. A primeira seria o depoimento ser verídico e Dylan de fato ter sofrido um abuso que acabou não sendo detectado; a segunda possibilidade é que a denúncia teria sido uma reação de uma criança em meio a uma separação problemática dos pais; e, por fim, a possibilidade de que a mãe estivesse influenciando a filha.

O cineasta fala da má vontade do juiz do caso na época e da própria opinião pública sobre sua relação com Soon-Yi, filha adotiva de Mia com o ex-marido André Previn. “Apesar do que parecesse, nosso sentimento era autêntico e somos casados com felicidade há 16 anos, com dois ótimos filhos, adotados”. Neste momento, ele fala ainda que os dois passaram por análises para poderem adotar as crianças e “todos abençoaram nossas adoções”.

Woody comentou denúncia da filha adotiva Dylan (Foto: AFP)

Família dividida
Allen relembra ainda que depois da acusação, a família se separou – ele e Soon-Yi de um lado e Mia e os outros filhos de outro. Ele diz ter ficado de “coração partido” com tudo – o filho Moses bravo com ele, Ronan, seu filho biológico, que diz que nunca pode conhecer bem porque Mia não deixava que ele se aproximasse. E diz que era muito próximo e adorava Dylan, mas nunca mais pode falar com ela.

“Eu nunca mais a vi de novo e nem consegui falar com ela, não importa o quanto tentei. Eu ainda a amava profundamente e me sentia culpado porque me apaixonar por Soon-Yi a colocou na posição de ser usada como um peão em uma vingança”. Todas as tentativas de se aproximar de Dylan foram interrompidas por Mia, diz Allen. Ele acusa a atriz de agir de maneira indiferente à “dor e danos que ela estava causando a uma pequena garota apenas para aliviar seu próprio sentimento de vingança”.

Ele cita o depoimento do filho, Moses, com quem fez as pazes e que recentemente deu uma entrevista, à luz do escândalo, dizendo que a mãe “fez sua cabeça” para que odiasse Woody Allen. Hoje, Moses é terapeuta familiar e não tem contato com Mia e os outros irmãos.

O diretor ainda comenta o polêmico comentário de Mia Farrow de que o filho Ronan “poderia” ser de Frank Sinatra, e não de Woody Allen. Allen diz que só o fato de Mia mencionar isso mostra que durante a união dos dois, ela mantinha uma relação íntima com Sinatra, com quem fora casada. “Para não mencionar todo o dinheiro que paguei de pensão. Eu estava sustentando o filho de Frank?”, questiona. “Novamente quero chamar atenção para a integridade e honestidade de uma pessoa que conduz sua vida assim”.

Para Allen, é possível que Dylan acredite que foi molestada, mas na verdade teve a ideia implantada pela mãe. Ele chega a perguntar se a própria carta de Dylan, divulgada no último domingo pelo The New York Times, não foi escrita por Mia. Ele finaliza dizendo que espera que a filha perceba que foi usada pela mãe e que os dois consigam ter uma reconciliação. “Este texto será minha palavra final no assunto”, garante.

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