1950 – Tropas de Pyongyang atravessam o paralelo 38 e dão início à Guerra da Coreia

Conflito permanece como o mais sangrento da segunda metade do século XX

Na virada do dia 24 para o 25 de junho de 1950, 600 mil soldados norte-coreanos atravessam a linha de demarcação do paralelo 38, que separa o Estado sob governo comunista da Coreia do Sul, sob regime capitalista pró-ocidental. Este é o início da Guerra da Coreia. Após apenas três dias, Seul caia em mãos comunistas.

Colônia japonesa desde 1910, o antigo reino da Coreia foi libertado conjuntamente pelos soviéticos e norte-americanos em 1945. Conforme o estabelecido na Conferência de Yalta, os dois vencedores dividiram o país em duas zonas de ocupação separadas pelo paralelo 38. No entanto, a Guerra Fria, que eclode logo após o término da Segunda Guerra Mundial, faz dessa linha artificial um lugar de grande tensão internacional.

A ONU promove a criação de dois Estados distintos em 1948: A República Democrática Popular da Coreia – a Coreia do Norte dirigida com mãos de ferro pelo secretário-geral do Partido dos Trabalhadores, Kim Il-sung – e a República da Coreia – governada autoritariamente por Syngman Rhee.

De imediato, Stalin anuncia a evacuação de suas tropas e exige dos norte-americanos que façam o mesmo. Com a saída de Washington, permanecem no sul apenas umas poucas centenas de conselheiros. Os soviéticos por seu lado, voltam a armar às pressas os norte-coreanos.

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No mesmo dia do ataque norte-coreano, o presidente Harry Truman pressiona as Nações Unidas a se pronunciar. A jovem instância internacional joga a sua credibilidade nesse conflito. O Conselho de Segurança não tarda em condenar a agressão e anuncia o envio de uma força internacional para restabelecer a paz na região. Essa decisão só foi possível devido à ausência da União Soviética, que há meses vinha boicotando o Conselho de Segurança.

Um corpo expedicionário sob o comando do general Douglas MacArthur desembarca na península e estabelece uma cabeça-de-ponte em Pusan, região sudeste. O general lança uma contra-ofensiva em 15 de setembro, retoma Seul em 2 de outubro e recua os invasores para o norte. Suas tropas conseguiram atravessar o paralelo 38 e atingiram em um mês a fronteira com a China.

Em situação desesperadora, os norte-coreanos recebem o apoio de milhares de voluntários da China, onde uma revolução comunista acabava de triunfar. Seis exércitos chineses num total de 180 mil homens cruzam o rio Yalu, que separa a Coreia da China.

Em 26 de novembro de 1950, é a vez dos norte-coreanos e seus aliados chineses retomarem a ofensiva. O corpo expedicionário da ONU teve de recuar ao sul do paralelo 38 e a muito custo firma posição na antiga linha de demarcação. A China acaba condenada pela ONU.

Todavia, MacArthur não se satisfaz com essa condenação diplomática e reclama uma intervenção aérea contra as bases da retaguarda norte-coreana na Manchúria, do outro lado da fronteira chinesa. Para grande alívio da opinião internacional, Truman demite o turbulento general e o substitui pelo general Matthew Ridgway, que opta por uma guerra de posições.

Comandante supremo das forças aliadas na Europa, em substituição a Eisenhower de 1952 a 1953, Ridgway seria acusado de ter utilizado armas bacteriológicas na Coreia. Seria apelidado de “Ridgway, a Peste”. Negociações de paz são entabuladas entre as duas partes. Elas se arrastam e somente se desbloqueiam com a morte de Stalin, protetor dos norte-coreanos.

Um armistício é assinado em 27 de julho em Pammunjon, sobre o paralelo 38. Está ainda em vigor na expectativa de um hipotético tratado de paz. A divisão da Coreia foi ratificada pela Conferência de Genebra em 1954.

Rapidamente esquecida, a Guerra da Coreia permanece como o mais sangrento conflito da segunda metade do século XX. Avalia-se em 39 mil o número de mortos entre as forças da ONU, 70 mil entre os sul-coreanos e dois milhões os combatentes norte-coreanos e chineses. A isto se acrescentam os civis vítimas de bombardeios, de fome e de epidemias – algo próximo de três milhões.

Esta guerra ilustra a estratégia das duas superpotências durante a Guerra Fria: manter a tensão localmente, evitando que desemboque num conflito generalizado. As elucubrações do general MacArthur mostraram que essa tática não ocorreu sem riscos internos. As tensões extremas ocasionadas pela Guerra da Coreia contribuiram de resto para a “caça às bruxas” nos EUA.

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