Após apelo, senadores adiam votação sobre mudança na dívida dos estados e municípios

  • Mantega e Ideli se reuniram com líderes e apontaram cenário econômico como motivo para esperar para aprovar mudança

 

CRISTIANE BONFANTI/LUIZA DAMÉ/CATARINA ALENCASTRO

Depois de um apelo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, senadores da base aliada adiaram nesta quarta-feira a votação do projeto de lei que altera o índice de correção da dívida de estados e municípios com a União. Diante do impacto negativo que a proposta poderia causar sobre a credibilidade da equipe econômica em ano eleitoral, parlamentares governistas manobraram para forçar a volta do texto para exame nas comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Assuntos Econômicos (CAE) e, com isso, atrasar a sua apreciação no Plenário.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) havia sugerido três emendas ao texto, mas, alertado de que isso travaria a votação, o senador apresentou requerimento para retirar as emendas e permitir que o texto fosse votado ainda nesta quarta-feira no Plenário. Senadores da base, no entanto, rejeitaram o requerimento de Randolfe, protelando a decisão.

– Esse projeto não é o projeto perfeito para resolver a agiotagem de que os estados brasileiros têm sido vítima, mas é ‘luz de lamparina na noite dos desesperados’ – disse Randolfe, que considerou que o adiamento da votação é de interesse do governo federal e dos banqueiros.

Durante a tarde, em reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e lideranças partidárias, Mantega defendeu que este é um ano de austeridade fiscal e, portanto, o projeto não deveria ser votado neste momento. No dia anterior, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), já havia transmitido a ordem do Palácio do Planalto, justificando que o Brasil estava passando por avaliação das agências de rating e que o projeto poderia prejudicar a nota de risco do país.

– A aprovação desse projeto poderia causar dúvidas quanto ao desempenho fiscal dos estados e municípios. Nós nos encontramos hoje num momento de volatilidade internacional, de alguma turbulência que conturba os mercados do mundo todo – disse o ministro da Fazenda.

Mantega lembrou que, no ano passado, o governo celebrou com o Congresso um acordo de responsabilidade fiscal. Na avaliação do ministro, embora não cause despesas adicionais no curto prazo, o projeto que altera o indexador da dívida pode causar dúvidas ao impacto futuro nas contas públicas.

– Nós estamos fazendo esforço para que a situação fiscal continue sólida no país. Esse esforço tem que ser comum do Executivo e de todo o Legislativo e eu acredito que há uma convergência nesse sentido.

Mais cedo, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, reafirmou que o governo não desistiu do projeto, mas avaliou que, diante do cenário econômico internacional, o momento não é apropriado para a votação.

– Não tem questionamento do mérito. Estamos discutindo apenas a oportunidade, se é oportuno ou não votá-lo agora – disse a ministra.

O senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) foi um dos que, junto ao PP e ao Psol, criticaram a manobra governista. Aécio afirmou que Mantega quebrou acordo firmado no Congresso sobre o tema e alegou que há problemas na condução da política econômica.

– O ministro da Fazenda veio ao Senado para desfazer um acordo feito com os parlamentares. Isso escancara a absoluta fragilidade da condução da política econômica do Brasil. A atual equipe não tem condições sequer de honrar seus compromissos – afirmou o tucano.

A proposta prevê que o índice de correção da dívida – atualmente o IGP-DI mais 6,%, 7,5% ou 9% – seja trocado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% de juros ou pela a taxa Selic, o que for menor. A medida alteraria também o estoque da dívida. Mas o governo teme que a mudança interfira na credibilidade do Brasil junto às agências de classificação de risco e, em consequência disso, que a nota do país seja rebaixada.

Fonte: O Globo

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